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Bar Mané Doido vai se aventurar na terra do Tio Sam

Bar Mané Doido no Mercado Central de BH | Crédito: Dione Alves
A chef Fátima Drumond, filha do fundador do bar, está determinada a levar o aconchego e sabor da culinária mineira para Orlando, na Flórida

Considerado um dos mais icônicos bares de Belo Horizonte, o Bar Mané Doido é uma parada obrigatória para quem percorre os corredores do Mercado Central. Ao celebrar os seus 70 anos de história, o estabelecimento está prestes a se aventurar além das montanhas de Minas.

A chef de cozinha Fátima Drumond, filha do fundador do bar, Manoel Penido Drumond, está determinada a levar o aconchego e o sabor da culinária mineira para os Estados Unidos. Após uma experiência não tão saborosa no exterior, a empresária decidiu dar início aos preparativos para internacionalizar o negócio na cidade de Orlando, na Flórida.

“Sempre que viajo para o exterior, sinto muita falta de um lugar mais aconchegante onde a gente experimenta aquela comidinha feita com mais carinho, com mais amor”, conta Fátima Drumond. Segundo ela, a cada vez que mensurava a predominância das redes de fast food pelos shoppings e ruas do país, a saudade pela gastronomia mineira aumentava.

“Consumir alimentos de fast food me fazia sentir cansada. Ter que comer o mesmo tipo de comida, muitas vezes industrializada, e praticamente sem tempero, sem aquele carinho de quem a prepara, você logo percebe a diferença. Para mim, a comida que sai da cozinha tem que ter sabor, e esse sabor precisa ter o sabor de dedicação, de amor. Ao preparar um prato, você transmite a ele o que você sente”, expressa.

Portugal pode ser próximo destino

A expectativa de Fátima Drumond à frente do negócio é de que a operação tenha início a curto prazo. “Em janeiro de 2024, já vou viajar para Orlando para tratar de toda a parte legislativa, a fim de ativar a operação”, adianta. “Quero muito levar uma comidinha feita com mais delicadeza e com mais atenção. Uma comidinha com aquele tempero que é da essência do mineiro”, diz. 

A chef afirmou ainda que a cidade de Porto, em Portugal, também pode receber uma unidade, mas em um prazo de cinco anos. “Estou estudando a legislação da cidade”, afirma. 

Histórias e saberes

Historicamente, os mercados sempre foram lugares onde, além da função principal – comercializar e abastecer – era um espaço para o intercâmbio de saberes e histórias, consolidando os laços fraternais por meio da socialização inerente.

Os que frequentam o Mercado Central de Belo Horizonte asseguram que “se não foi encontrado um produto que estava procurando, é porque ele não existe”. No entanto, em meio às procuras entre tantos produtos e outros vinha a fome, e o cheiro do famoso fígado acebolado com jiló predominava nos corredores. Hoje, o prato é bem explorado pelos estabelecimentos do Mercado Central, mas foi o Mané Doido quem começou com essa história. “Nós lançamos no Mercado Central (de Belo Horizonte) o fígado acebolado com jiló. É um prato que o Mané Doido fazia questão e as pessoas sempre faziam questão de pedir”, conta Fátima Drumond.

Bife de fígado acebolado com jiló do Mané Doido é tradição que atravessa gerações | Crédito: Dione AS.

Bem frequentado por turistas

Outro prato que é o carro-chefe do estabelecimento é a apreciada rabada. Fátima Drumond conta que, antes mesmo de viajar para o exterior e sentir a necessidade de apostar em Orlando, ela vinha observando as avaliações de turistas interessados na cozinha brasileira.

“O Bar do Mané Doido sempre foi muito frequentado por turistas e, uma certa vez, antes mesmo da pandemia, um rapaz vindo de Portugal fez um comentário que me chamou a atenção”, diz. 

Ela conta que o jovem turista havia experimentado a receita de uma rabada e achou bastante exótico aquele prato. “Ele me dizia assim: como é que alguém poderia comer um rabo bovino, né? E achou aquilo tão diferente, que logo apresentamos outras partes das receitas, inclusive uma feita com a língua de boi. Aliás, eu acho isso também interessante, pois eu gosto de comidas e explicando aos clientes a origem e a história do prato”, relembra a chef de cozinha, que também é professora universitária.

“Eu acho que meu pai e eu acabamos formando uma dupla. Digo isso pois o Mané Doido, mesmo com a sua simplicidade, foi ganhando admiração também no exterior. Ele morreu já tem alguns anos, mas deixou um legado lindo”, diz.

Atualmente, o Mané Doido também conta com uma segunda unidade, mas no bairro Carlos Prates, na região Noroeste da Capital. O local surgiu propriamente por conta das necessidades de implementação dos serviços de delivery, por conta do lockdown, que impossibilitava a entrada de motoboys no Mercado Central. Porém, o delivery foi dando tão certo que essa nova unidade possui horário ampliado de funcionamento e em todos os dias da semana”, afirma.

Escassez de mão de obra

A proprietária ressalta que a pandemia trouxe alguns atrasos para o desejo de levar o Mané Doido aos EUA. “Foi um período que atrasou o nosso projeto, mas estamos determinados a realizá-lo”, afirma Fátima Drumond. Ela menciona que o investimento não é barato, mas é um sonho que vai se concretizar.

“Para se ter uma ideia, já estou com cozinheiras que possuem passaporte. Estou providenciando os vistos para cada uma delas. Inclusive, tenho uma cozinheira em treinamento antes mesmo de partir, como forma de adiantar o processo”.

Fátima explica sua intenção de estabelecer uma escola para capacitar outras pessoas e permitir a expansão futura. Segundo ela, o segredo do sucesso de um restaurante está na qualidade da comida e dos produtos, que devem ser preparados com higiene e frescor. Esses cuidados foram herdados do Mané Doido, um legado importante.

No entanto, a criação da escola ocorre pela difícil necessidade de lidar com a escassez de mão de obra, um desafio enfrentado por todos os empresários do ramo, sem exceção. “Montar uma escola para preparar toda uma equipe antes da ida a Orlando é um processo lento, mas que vai ocorrer antes disso”, conclui.

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