Economia

Parceria com estatais sauditas abre mercado do Oriente Médio

Manara Minerals é uma parceria entre a estatal saudita Ma’aden e o fundo de investimentos públicos da Arábia Saudita e ficará com 10% da VBM
Parceria com estatais sauditas abre mercado do Oriente Médio
Mineradora anunciou que repassará 13% da VBM à Manara Minerals e à Engine No.1 | Crédito: Washington Alves

Rio de Janeiro – A venda de parte de suas operações de metais básicos para um grupo formado por estatais da Arábia Saudita abre novos mercados para os produtos da Vale no Oriente Médio, disse a direção da empresa em teleconferência na sexta-feira (28).

Na quinta (27), a companhia anunciou que repassará 13% da Vale Base Metals (VBM) à Manara Minerals e ao fundo americano Engine No.1 por US$ 3,4 bilhões (R$ 16 bilhões), concluindo meses de busca por um sócio estratégico para essas operações.

A Manara Minerals é uma parceria entre a estatal saudita Ma’aden e o fundo de investimentos públicos da Arábia Saudita e ficará com 10% da VBM. A operação representa o maior investimento saudita no exterior e o primeiro em mineração.

“Um benefício colateral [da operação] é que temos interesses no Oriente Médio também”, disse o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo. “Nos dá oportunidade de comercializar nossos produtos no Oriente Médio.”

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A empresa diz que essas oportunidades não se restringem aos chamados metais de transição, como cobre ou níquel, mas também a operações de minério de ferros e de logística, com o uso de grandes centros de distribuição que a Vale tem na Ásia.

A VBM é a maior produtora de níquel da América do Norte e uma das maiores empresas de cobre do mundo e vem fechando nos últimos meses acordos para fornecer os minerais a fabricantes de automóveis.

É uma aposta para o futuro da Vale, diante das perspectivas de crescimento da demanda por baterias no processo de descarbonização do setor de energia. A Engin No.1 é um fundo de investimentos com foco em descarbonização e ESG.

Dos US$ 3,4 bilhões levantados com a operação, a Vale deixará US$ 1 bilhão (R$ 4,7 bilhões) na VBM, reforçando o caixa para acelerar projetos de investimento já em curso. “O primeiro efeito [da transação] é a velocidade. O segundo é o crescimento”, disse Bartolomeo.

Com a entrada dos recursos, afirmou, a Vale ganha tempo para analisar outras alternativas de financiamento dessas atividades, como a busca de um sócio maior ou o lançamento de ações em bolsa de valores, conhecido como IPO.

Segundo o executivo, outras formas de financiamento serão necessárias, dado o volume de investimentos que a empresa fará. A Vale estima em até US$ 30 bilhões (R$ 141,5 bilhões) na próxima década. “O IPO pode ser possibilidade, fusão também, mas isso não está nos nossos planos no momento.”

Com os investimentos, a companhia projeta crescimento da produção de cobre das atuais 350 mil para 900 mil toneladas por ano. A produção de níquel deve avançar de 175 mil para 300 mil toneladas por ano.

“Há dois elementos de valor a serem destravados. O primeiro é continuar com a estabilização da produção. O outro é como antecipar o desenvolvimento dessas reservas, como trazer projetos de forma mais célere para o mercado, buscando destravar valor”, disse Bartolomeo.

O analista do Itaú BBA, Daniel Sasson, vê as dificuldades da empresa em avançar nos projetos existentes como ponto de atenção. “Acreditamos que o fator principal para destravar valor na divisão de metais básicos é estabilidade e melhorar a confiabilidade na produção desses projetos”. (Nicola Pamplona/Folhapress)

Vale não descarta IPO no futuro

A Vale não descarta para o futuro uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) ou fusão de sua unidade de metais básicos, mas o foco agora está na execução e na aceleração do crescimento do negócio, disse o presidente, Eduardo Bartolomeo, na sexta-feira (28).

“Por enquanto, vamos nos concentrar em fechar as lacunas na execução e acelerar o crescimento. E então, dois ou três anos depois, as opções estarão todas em nossas mãos”, disse Bartolomeo, em teleconferência com analistas quando questionado sobre o assunto.

O movimento ocorre enquanto a Vale tem se dedicado em aprimorar a gestão dos ativos de metais básicos para gerar mais valor, tendo em vista a demanda esperada por níquel e cobre para a produção de baterias, em meio aos avanços globais para a transição energética, com eletrificação.

A ideia do IPO não está em estudo neste momento, frisou Bartolomeo, pontuando que a possibilidade poderá ser avaliada em alguns anos caso a empresa precise de bastante recurso e esteja “operando bem”.
“A gente ainda tem ‘gap’ de performance e obviamente a gente tem que ter um plano de investimento robusto… (E) quando o investidor quiser risco com a gente, vamos no mercado de capitais, mas também haverá outras opções”, ponderou Bartolomeo, a repórteres, após a reunião com analistas.

“Enquanto não estiver performando, isso não está na mesa.”

Executivos da companhia reiteraram que a VBM será um negócio autônomo, que terá apoio de uma nova estrutura de governança independente e um conselho de administração dedicado e com experiência no setor, presidido por Mark Cutifani.

A nova empresa surge com um valor de mercado de US$ 26 bilhões. A Vale também já havia assinado contratos para fornecer níquel para grandes montadoras, incluindo Tesla e General Motors.

Financiabilidade

Os US$ 1 bilhão que ficará no caixa da VBM ajudará a financiar suas operações pelos próximos três ou quatro anos, juntamente com o fluxo de caixa da unidade, explicaram executivos da mineradora.

“Temos grandes projetos em todas essas três juridições e agora com esse time focado a gente tem a expectativa de acelerar o desenvolvimento”, disse o vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, Gustavo Pimenta.

“Vamos financiar da melhor forma possível… tem dinheiro suficiente para fazer bastante projeto, mas não é o suficiente para fazer US$ 25 a US$ 30 bilhões, a gente vai ter que reavaliar isso ao longo dos anos.”
A entrada de um novo parceiro com a venda adicional de participação na empresa já foi descartada, segundo Bartolomeo, uma vez que a fatia que a Vale abriu mão foi considerada “razoável”.

Em níquel, a VBM contará com o projeto do segundo forno de Onça Puma, no Brasil, os projetos de Pomalaa e Morowali, na Indonésia, e a expansão da mina de Voisey’s Bay, no Canadá.

Já no cobre, a empresa tem uma base operacional concentrada no Brasil, incluindo o importante ativo de Salobo, que tem mais de 40 anos de vida útil remanescente, além de um portfólio de projetos de crescimento, desde os projetos Alemão, Cristalino e Bacaba, no Brasil, até o de grande escala Hu’u, na Indonésia.

A Vale também reportou lucro líquido no segundo trimestre de US$ 892 milhões, queda de 78,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, principalmente diante de uma queda dos preços realizados de minério de ferro e níquel.

Durante a teleconferência com analistas, os executivos reafirmaram as metas de produção para o ano e apontaram perspectivas de queda nos custos no segundo semestre. (Reuters)

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