Mercado norte-americano de startups recebe empresárias mineiras

Duas jovens empreendedoras de Belo Horizonte “invadem” o mercado norte-americano de tecnologia com startups disruptivas, focadas em autoconhecimento e bem-estar. Prontas para enfrentar as barreiras de gênero, idade e origem, elas têm se destacado em competições entre empresas de base tecnológica, conquistando investidores e consumidores.
A fundadora do Zelia.app, Laura Mattos, criou, com o uso de inteligência artificial (IA), um aplicativo que sugere a melhor combinação das roupas do usuário. A ideia é ser um “estilista disponível a qualquer momento”. O app, que foi lançado em setembro de 2022, já conta com 50 mil usuários.
“Na minha lua de mel só podia levar uma mala e demorei cinco horas para conseguir escolher minhas roupas. Foi então que comecei a pensar em uma solução e veio a ideia do Zélia. Criei um aplicativo que usava inteligência artificial para dar recomendações sobre combinação de roupas. Agora estamos lançando uma nova versão, com um algoritmo mais sofisticado. Quanto mais a pessoa interage, as recomendações ficam mais assertivas. Uma nova funcionalidade são as recomendações de compras. Estamos fazendo parcerias com marcas pequenas, que por vezes ficam perdidas nas buscas. Já são 11 no Brasil”, explica Laura Mattos.
Também da capital mineira, a criadora do Sol.ai – aplicativo que oferece horóscopo e mapa astral personalizado a partir das informações do usuário e inteligência artificial -, Daniela Vianna, partiu das próprias experiências de vida para construir o negócio. O propósito é entregar confiança e segurança para o usuário, fugindo a pecha de charlatanismo e exploração que muitas vezes ronda os serviços ligados ao esoterismo.
“A astrologia não é uma religião. Ela é uma leitura de cenários e perspectivas a partir da leitura da posição dos corpos celestes na hora do nascimento da pessoa. A posição dos astros é conhecida e calculável, por isso é possível usar a IA para fazer essa leitura. Não predizemos o futuro. Ajudamos as pessoas a partir do conhecimento das suas características zodiacais a tomar melhores decisões”, pontua Daniela Vianna.
Programa Techstars NYC
A entrada no mercado norte-americano foi o caminho escolhido por ambas para dar escala às startups. Ambas foram selecionadas para o prestigiado programa Techstars NYC. Conhecido como o investidor pre-seed mais ativo do mundo e a segunda maior aceleradora de startups dos EUA, o programa reconhece e investe em empresas promissoras.
“Tenho orgulho de ter começado em BH. Meu sonho é conquistar o mundo e poder voltar. Os EUA me dão essa oportunidade. É importante passar por aqui. Nossa sede hoje está nos Estados Unidos e temos uma subsidiária no Brasil. O Techstars dura três meses. O Demoday vai ser 11 de janeiro. Estamos levantando capital. Vamos lançar a nova versão em 15 dias. O objetivo é ter mais de meio milhão de usuários até setembro do ano que vem”, pontua a criadora do Zelia.app
“A astrologia está dentro do mercado de bem-estar e produtos esotéricos. Os apps de astrologia crescem 25% ao ano. A estimativa é que ele movimente US$ 10 bilhões em 2028. Conseguimos treinar uma linguagem para ser um astrólogo. Vir para os EUA nos fez ganhar velocidade. A partir de dezembro vamos oferecer consultas com astrólogos selecionados e credenciados por nós. Minha missão é fazer o bem em escala. A tecnologia me ajuda a ser responsável e cuidadosa”, destaca a fundadora do Sol.ai.
Machismo ainda é obstáculo no mercado norte-americano de startups
Mesmo sendo considerado um mercado de oportunidades, os EUA impõem velhos desafios não muito diferentes dos que existem no Brasil. As questões de gênero são, talvez, as que mais incomodam as empreendedoras que se arriscam em um mercado pouco receptivo às mulheres.
De acordo com o Startups Report Brasil, divulgado pelo Observatório Sebrae Startups, as pessoas do gênero feminino lideram apenas 23,44% das startups. Ao mesmo tempo, o Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2021, da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), indica que apenas 17% das startups no Brasil possuem mulheres como fundadoras.
“O desafio agora é convencer investidores que têm um mesmo perfil: homens, brancos, privilegiados e que nunca viram a astrologia como uma oportunidade de investimento. Isso não é fácil. A astrologia é vista com reservas, mas eu quero mostrar que ela é uma ferramenta de autoconhecimento e que pode ser usada para que as pessoas tenham uma vida melhor”, pontua a executiva.
“As mulheres continuam pouco presentes no universo da tecnologia e também no mundo dos negócios. Ser uma mulher estrangeira só torna as coisas mais difíceis, mas isso não nos faz desistir. Existem propósitos neste trabalho e na vinda para os EUA e um deles é ajudar a abrir caminhos para que as mulheres estejam onde elas quiserem”, completa Laura Mattos.
Ouça a rádio de Minas