Tensão entre potências é oportunidade para Brasil, aponta Oliver Stuenkel
Rio – A liderança ocidental está com os dias contados e a Ásia voltará a ser o centro econômico do mundo. É a constatação de Oliver Stuenkel, analista internacional e professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, 2024 é um ano com eleições nacionais em boa parte do planeta, que podem reservar surpresas para a economia global. Na avaliação do especialista, um mundo em transformação é uma janela de oportunidade que pode trazer muitos benefícios para o Brasil.
Em dezembro, o Brasil assumiu pela primeira vez a presidência temporária do G20. Com isso, o País adquiriu enorme capacidade de pautar a agenda global. “Haverá uma série de reuniões aqui no Brasil, durante o qual o governo pode definir quais são os temas a serem discutidos. O Brasil pretende enfatizar a reforma das instituições internacionais, combater a fome global, avançar nesse processo de criar uma economia global mais sustentável”, disse Stuenkel.
O analista internacional explica que o Ocidente não terá mais a influência global a qual estamos acostumados, em um mundo cada vez mais “ásiacêntrico”. Por isso, é importante acompanhar não apenas o que acontece nos Estados Unidos e Europa, como as eleições, como também o que ocorre no continente asiático.
Essa disputa pela liderança no sistema internacional gera uma tensão geopolítica entre superpotências como EUA e China. A concorrência pode inclusive resultar em um mundo menos globalizado. Mas é neste mundo de crises que o Brasil tem uma posição diplomática privilegiada.
“O Brasil está bem posicionado para essa realidade, sendo um ator fundamental, tanto como fornecedor de energia fóssil, mas também um ator-chave na transição energética, e também um ator que consegue se relacionar com praticamente todos os países, isso independe do atual governo. O país tem uma longa tradição de ter laços produtivos com todos os envolvidos. Então, a princípio, o País está muito bem posicionado, sobretudo comparado com outros países que estão situados próximos de pontos de tensão”, avalia Stuenkel.
Eleições pelo mundo podem ser oportunidade para atrair investimentos para o Brasil
Ele aponta que o ano de 2024 será de muita instabilidade pelas mais de 40 eleições nacionais, além das eleições para o Parlamento Europeu. Nesse sentido, são esperadas surpresas eleitorais em algumas partes do globo que, por consequência, produzirão choques na economia. A turbulência pode ser uma oportunidade para o País.
“É inevitável que algumas dessas eleições vão gerar atritos e preocupação, e o Brasil tem essa grande vantagem de estar localizado numa região segura. Então, quanto pior o cenário lá fora, mais atraente o Brasil – e a América Latina como um todo – podem se tornar para investidores”, declara o professor da FGV.
Tensão geopolítica internacional pode atrasar transição energética
Oliver Stuenkel afirma que quanto mais tensão no tabuleiro da geopolítica mundial, mais lenta será a transição energética. Mesmo assim, a vantagem diplomática brasileira também se estende nesse campo. A energia renovável continuará sendo interessante para o País independente do momento.
“Por exemplo, a Alemanha, que de repente não teve mais acesso ao gás russo, optou por não comprar, ela não conseguiu, de repente, investir só em energia renovável. Ela até voltou a considerar o uso de energia nuclear. Mas sim, sem dúvida, é algo muito positivo para o Brasil”, finaliza.
O DIÁRIO DO COMÉRCIO conversou com Oliver Stuenkel durante a MAGNEXT, a Convenção Anual da MAG Seguros. O analista internacional foi um dos palestrantes de um dos mais tradicionais eventos do mercado segurador brasileiro.
*O repórter viajou a convite da MAG Seguros
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