EDITORIAL | Futuro fica para depois
A Câmara dos Deputados está em recesso, em nome das férias parlamentares, mas em termos práticos isso significa que a atual legislatura, que definitivamente não deixará boas memórias, pode ser dada por concluída. Terminado o recesso, no mês de agosto, todos os parlamentares estarão envolvidos, de uma forma ou de outra, na campanha eleitoral, o que significa que não haverá expediente, e que também dificilmente ocorrerá – pelo menos em termos de que sejam tomadas decisões relevantes – depois das eleições e até que os eleitos estejam devidamente empossados, já no próximo ano. Trata-se de uma rotina que em condições normais seria, para o que delas participam, no mínimo constrangedora, tendo em conta deveres que são descumpridos, deixando ao desamparo a representação que deveria ser a peça de sustentação do sistema político em que todos estamos abrigados. E, pragmaticamente, há que contar os custos que todo esse processo envolve, que, além de absurdos e desproporcionais, se revelam também inúteis na perspectiva do contribuinte-cidadão que paga as contas apenas para sustentar uma farra despropositada. O mais triste – e grave – é que o virtual encerramento da atual legislatura em nada indica que se tenha cumprido uma etapa para que outra, melhor, possa ter início. A contabilidade política desfavorece qualquer otimismo a respeito, tanto mais que pesquisas de opinião recentemente realizadas e divulgadas apontaram que, ao contrário do que se esperava, a renovação na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e nas assembleias estaduais terá proporções diminutas este ano. Mudanças mesmo, pelo que se constata, correrão apenas por conta dos partidos políticos que se apresentam com denominações toscamente alteradas, o que é mais uma evidência da baixa conta em que os políticos em geral têm com relação à inteligência dos cidadãos. Exceções, que existem, mas vão aos poucos se apagando pela desilusão, aparecem apenas para confirmar a regra. Tudo isso, cabe lembrar e apontar mais uma vez, é o altíssimo preço que a sociedade brasileira está pagando por ter feito tão pouco, na realidade quase nada, em prol da reforma política, que deveria ter sido o alicerce para a construção de uma sociedade mais equilibrada, num contexto em que os vícios políticos já suficientemente identificados teriam sido extirpados. Nada foi feito e os resultados, ou a falta de resultados, aí estão como uma espécie de fantasma que atormenta todos quantos continuam esperando um futuro melhor.
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