EDITORIAL | Trilha dos insensatos
As tentativas do governo mineiro para levantar recursos que lhe permitam reduzir, em parte, o déficit público e equacionar, parcialmente, dívidas com fornecedores além de pôr em dia o pagamento ao funcionalismo, continuam emperradas. O insucesso nessa empreitada parece dizer pouco aos seus aspectos técnicos e muito às questões políticas em que, absurdamente, em alguns momentos aliados e opositores se confundem. Os primeiros, postergando decisões para negociar mais e melhores vantagens, os segundos criando dificuldades que, adiante, esperam ver convertidas em votos. É a política reproduzindo o seu lado mais escuro. Trata-se de defender ou atacar o governador e sua cadeira desses movimentos, retirando o maior proveito possível. Sem que pareça sobrar tempo para que as questões de fundo sejam discutidas a sério e tendo como único objetivo defender aquilo que de fato for mais caro ao Estado e à população. As propostas que envolvem possível alteração no controle sobre as reservas de nióbio, a partir de mudanças na antiga Codemig, que muda de nome e de função, são de extrema sensibilidade, sendo suficiente lembrar que a região de Araxá, onde se encontram as jazidas, é a única, em todo o território brasileiro, que os Estados Unidos assinalam explicitamente como de seu interesse na hipótese de um conflito militar. E não são muitas, no mundo, às áreas assim marcadas, algo que não parece ter sido cogitado nas recentes discussões. Também na esfera judicial as barreiras levantadas, mesmo que sob amparo de suposta base legal, sugerem que, ao contrário também do desejável, parece faltar compreensão da realidade, entendida não pelo lado das conveniências e argumentos de quaisquer dos grupos políticos, mas sim e exclusivamente daquilo que mais convém a Minas e aos mineiros. E a começar, é claro, pelo cabal e definitivo esclarecimento das causas e natureza do desequilíbrio financeiro apontado e reconhecido, com apuração de responsabilidades, independentemente de suas consequências. Mais que o esperado é o que deveria estar sendo feito. Sem tal entendimento não há como esperar, a sério, que mudanças possam de fato acontecer, entendidas – é preciso repetir – como a expressão cabal do interesse coletivo. Algo que também implica devolver equilíbrio às finanças estaduais e recuperar sua capacidade de investir ou, antes, responder pelas áreas que deveriam permanecer sob seu abrigo, com a gestão baseada no mérito e na competência. Política, quando entendida e realizada no seu sentido verdadeiro, deveria ser a melhor expressão dessa busca contínua, diante da qual atalhos são na realidade abismos.
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