EDITORIAL
A banalização da criminalidade e da violência no País parece estar produzindo, entre os seus efeitos colaterais, também uma espécie de indiferença, como se tudo isso fizesse parte de um destino inescapável. Não pode ser, não se pode dar como naturais as imagens de tiroteios em áreas urbanas e densamente povoadas, em plena luz do dia, enquanto transeuntes apenas tentam encontrar algum precário abrigo. E da mesma forma não podem ser assimiladas como apenas mais um dado as estatísticas recentemente divulgadas relativas à criminalidade no País. Não quando se constata que no ano passado 63 mil brasileiros, a maioria jovens, foram vítimas de homicídios, quebrada mais uma vez a barreira de 30 mortes violentas por mil habitantes, contra uma média mundial de 7,5. São números de guerra ou ainda piores e uma única comparação exprime as proporções do horror: em apenas um ano morreram mais brasileiros que o total de baixas do exército dos Estados Unidos ao longo da guerra do Vietnã. Essa soma trágica, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, representa a compilação dos dados recolhidos pela Polícia Militar de cada um dos estados e relativos a homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, mortes de policiais em confrontos e de civis em intervenções policiais. Uma conta que leva a mais de 170 assassinatos por dia ou 7 mortes a cada hora. Por óbvio, estas estatísticas situam o Brasil entre os países mais violentos do mundo, numa progressão constante ao longo das últimas décadas, período em que, também cabe assinalar, a população carcerária também aumentou significativamente. Na avaliação de especialistas, a maior evidência de que o País não está sabendo lidar com a questão da criminalidade e da violência decorrente. As ações ostensivas e o confronto, dizem, geram mais violência e maiores perdas enquanto resultados consistentes viriam de processos de investigação e inteligência, que são negligenciados. Tudo isso não deve provocar apenas medo e a construção de cercas cada vez mais altas, provocando alguma ilusão de segurança ou, na prática, o encarceramento voluntário. É preciso reagir, capturando e reproduzindo experiências bem-sucedidas em outros países, num esforço de longo prazo que deve ter como pilares a educação e a inserção social e econômica. No curtíssimo prazo, a integração das forças policiais que possam atuar a partir de um sistema nacional, também integrado, de informações, além de efetiva cobertura das fronteiras. Tanto a realidade não pode ser ignorada quanto as ações corretivas, num plano verdadeiramente emergencial, não podem ser retardadas e muito mais pela omissão que pela falta de recursos.
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