Café mineiro vencedor do ‘Oscar do Café’ recebe maior lance em leilão; veja o valor
O maior lance do leilão do Cup of Excellence (CoE) Brazil 2025 foi para um café produzido na Fazenda Aracaçu, em Três Pontas, no Sul de Minas. O lote da variedade Arara, vencedor da categoria Via Seca, foi arrematado por até R$ 46,8 mil a saca e consolidou o resultado histórico do certame, que arrecadou R$ 1,792 milhão com a venda de 30 lotes de cafés especiais brasileiros.
Produzido por uma família que atua na cafeicultura há mais de um século, o café premiado é resultado de uma trajetória que combina sucessão familiar, profissionalização da gestão e foco em cafés especiais.
Segundo a presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e proprietária da Fazenda Aracaçu, Carmem Lúcia Chaves de Brito, conhecida como Ucha, a história do negócio se confunde com a da própria família: “Hoje sou a terceira geração e já estamos preparando a quinta para dar continuidade a esse legado”.
A fazenda passou por uma mudança de direcionamento há cerca de 18 anos, após a morte do patriarca da família. Ucha deixou o Rio de Janeiro, onde construiu sua carreira profissional, para assumir a condução do negócio ao lado dos irmãos.
“A proposta foi profissionalizar a fazenda, trabalhar com transparência, governança e agregar valor com cafés especiais”, relata. O objetivo era tratar a atividade como empresa e garantir a continuidade do trabalho das famílias que vivem e trabalham na propriedade.
Essa mudança incluiu investimentos em gestão, aproximação com compradores e adoção de práticas alinhadas aos pilares econômico, social e ambiental. “Buscamos uma cafeicultura com propósito, mais humanizada, que olhe para as pessoas e para o impacto ambiental”, diz a presidente da BSCA.
Atualmente, cerca de 80% da produção anual da fazenda, estimada em 9 mil sacas, é classificada como café especial, com mercado já direcionado a parceiros comerciais no Brasil e no exterior.
Cup of Excellence 2025
O reconhecimento no Cup of Excellence 2025 coroou esse processo. O lote vencedor foi inscrito com quatro sacas, dentro do limite permitido pelo regulamento do concurso. O valor total obtido se aproximou de R$ 200 mil. Para efeito de comparação, uma saca de café convencional é comercializada hoje em torno de R$ 2,3 mil. “Com quatro sacas, alcançamos o equivalente à venda de mais de 80 sacas de café comum”, explica Ucha.
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No leilão internacional, um consórcio formado pelas empresas japonesas Snow Beans Coffee, Assist Coffee Roastery e Kurihara Coffee Roasters pagou US$ 65,10 por libra-peso pela primeira fração do lote, o equivalente a R$ 46.803,11 por saca. A segunda parte foi adquirida pela Angelino’s Coffee, dos Estados Unidos, por valor semelhante. O resultado representou o maior lance do CoE Brazil 2025.
Ao todo, o leilão reuniu compradores de cerca de 30 países e teve duração de aproximadamente nove horas, a mais longa da história do concurso. Segundo o diretor executivo da BSCA, Vinicius Estrela, o preço médio alcançado, em torno de R$ 15 mil por saca, reflete a valorização dos cafés especiais brasileiros e o interesse internacional pela diversidade da produção nacional.
Café Arara
A escolha do café da Fazenda Aracaçu também reforçou o protagonismo da variedade Arara na cafeicultura brasileira. De acordo com Ucha, a Arara é uma cultivar recente, desenvolvida pela pesquisa nacional, que tem apresentado bom desempenho sensorial em diferentes regiões produtoras do País. “Quando se fala em Brasil, o mercado pensa nos cafés naturais. Vencer nessa categoria, com Arara, tem um significado importante”, afirma.
Na avaliação da produtora, o desempenho do Arara se deve à combinação entre genética, território e manejo. O lote campeão apresentou, segundo ela, perfil marcado por doçura, notas de melaço, açúcar mascavo, damasco e frutas amarelas, além de corpo sedoso e equilíbrio na xícara, características que resultam do cuidado no cultivo e no preparo do microlote enviado ao concurso.
Desafios da Cafeicultura
Apesar do reconhecimento internacional, o cenário recente da cafeicultura tem sido desafiador. Ucha aponta que os últimos quatro anos foram marcados por pressões climáticas fora do padrão, como temperaturas acima da média e chuvas mal distribuídas, com períodos mais longos de seca. “Isso tem reduzido a produtividade no Brasil e em outros países produtores, o que ajuda a explicar a queda na oferta global e os preços mais elevados”, observa.
Em relação às barreiras comerciais, a produtora afirma que a Fazenda Aracaçu não foi diretamente impactada pelo chamado “tarifaço”, já que sua carteira de clientes é diversificada e concentrada em mercados como Ásia e Europa. No entanto, ela reconhece que o efeito para a cafeicultura brasileira como um todo foi significativo, especialmente pela importância dos Estados Unidos como principal importador do café nacional. “O café brasileiro ficou menos competitivo, e isso preocupa o setor”, afirma.
A conquista do Cup of Excellence também ampliou a visibilidade da fazenda no mercado internacional. Segundo Ucha, todos os compradores do lote vencedor são novos parceiros comerciais, atraídos pelo prestígio do concurso. “Cafés de concurso são usados como vitrine e marketing pelas torrefações. Isso abre um leque de oportunidades e aproxima novos clientes”, diz.
Para a produtora, mais do que o impacto imediato em faturamento, o prêmio fortalece relações comerciais e cria novas perspectivas de negócios no Brasil e no exterior. “O que buscamos agora é construir relacionamentos duradouros e continuar entregando cafés que atendam às expectativas desse mercado”, conclui.
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