Inovações na pecuária, práticas sustentáveis e bem-estar animal garantem alto rendimento

O uso estratégico da ciência com vistas à sustentabilidade faz da pecuária mineira um campo de geração de conhecimento, novas técnicas e tecnologias,, o que a torna, cada vez mais, rentável e competitiva nos mercados brasileiro e internacional. Com o aparato, a pecuária em Minas Gerais também caminha para ser, cada vez mais, sustentável, caminho este considerado estratégico para o futuro da atividade.
A diversificação das pesquisas e a aplicação de novas tecnologias são fundamentais para tornar a pecuária mais eficiente. Assim, é possível produzir mais alimento nas mesmas áreas ou, até mesmo, em espaços menores, mantendo a harmonia com o meio ambiente, o bem-estar animal e favorecendo a rentabilidade.
As tecnologias aplicadas no campo são múltiplas e incluem desde melhorias genéticas; reúso da água; agricultura regenerativa; uso de drones; inteligência artificial, sistemas de integração até práticas que promovem o conforto térmico e recreativo para o rebanho.
Com o campo demandando inovações constantes, as entidades de pesquisas seguem na busca de alternativas, incluindo, por exemplo, estudos voltados para a pecuária de baixo carbono, que visam reduzir as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera e consolidar a pecuária como parte da solução para a crise climática no mundo. Em Minas Gerais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) desenvolve estudos que visam contribuir com uma agropecuária mais sustentável.
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Além de disponibilizar soluções inovadoras para o campo, os estudos também visam ao cumprimento das metas do Plano Estadual de Ação Climática (Plac) e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). No Plac, a meta é reduzir a emissão de metano (CH4) na pecuária em 36% até 2030 na comparação com a década anterior.
Entre as pesquisas, existe a busca de tecnologias para reduzir o gás metano, emitido pelos bovinos. Conforme o Observatório do Clima, as emissões de metano no Brasil aumentaram 6% entre 2020 e 2023. A maior parcela do metano emitido, segundo a entidade, veio da fermentação entérica, ou seja, do “arroto” do boi.
A pesquisa da Epamig visa reverter essa situação. O projeto, que contempla rebanhos de leite, será levado aos produtores rurais com apoio de instituições parceiras. Conforme a coordenadora do Programa de Pesquisa de Bovinocultura da Epamig, em Uberaba, na região do Triângulo Mineiro, Edilane Aparecida da Silva, uma das linhas de projeto abrange os aditivos disponíveis no mercado – que são acrescentados na dieta do animal – e prometem contribuir para a menor emissão de metano. A ideia é avaliar se há mesmo a redução da formação do gás metano no processo de fermentação do animal e identificar os mais eficazes.
A outra linha da pesquisa refere-se ao uso de leguminosas, como o amendoim forrageiro e a cratília. Conforme a coordenadora, os estudos visam alternativas que facilitem a digestão da dieta animal. O processo é relativamente simples: redução do tempo do alimento no rúmen e, consequentemente, menor liberação de metano. A pesquisa, que deve começar nos próximos meses, será em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Lavras (Ufla).

“As leguminosas têm o poder de reduzir as emissões por possuírem carboidratos mais solúveis, facilitando a dieta. Então, vamos testar opções que, ao serem introduzidas na dieta do rebanho, irão contribuir para mitigar a produção do metano, mas mantendo a eficiência na produção do animal”, explica Edilane da Silva.
A Epamig também atua com pesquisas voltadas para os sistemas integrados de produção, que favorecem o acúmulo de biomassa vegetal, sequestrando carbono da atmosfera, e que já são utilizadas pelos produtores, como a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF).
“As pesquisas e a aplicação dos resultados no campo são essenciais para o avanço sustentável do sistema produtivo. Investir em alternativas que tornam a pecuária cada vez mais sustentável é um caminho sem volta, a questão ambiental está aí e é preciso resolver o aquecimento global. O produtor rural vem se adequando e adotando boas práticas como a melhoria genética do rebanho, utilizando alternativas alimentares como as forrageiras mais novas e promissoras, os sistemas integrados de produção e buscando mais eficiência”, reitera a coordenadora da Epamig.
Pecuária como aliada no combate à crise climática
A pecuária em Minas Gerais e no Brasil busca aliar eficiência e sustentabilidade. A presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, Ana Doralina Menezes, explica que a pecuária faz parte do caminho e da solução para os desafios climáticos. A aplicação de tecnologias no campo avança e ajuda a alavancar a produtividade. Além disso, com a maior eficiência, a rentabilidade dos produtores também é ampliada.
“A pecuária brasileira teve um incremento muito grande nos últimos anos em produção e produtividade. Isso aconteceu com o setor conservando, estando sempre muito linkado à questão da sustentabilidade e da conservação. E assim tem que ser, ou seja, aumentar produtividade, a otimização, mas, sempre aliado e caminhando junto com a sustentabilidade”, acrescenta.
Ainda conforme a presidente da entidade, as práticas bem estruturadas, a eficiência e os cuidados adotados pelo setor garantiram a pujança da produção nacional e permitem que os pecuaristas olhem para o futuro e continuem evoluindo mais em produção sem comprometer o ambiente onde se produz.
Os exemplos aplicados na produção são múltiplos com o uso dos sistemas integrados que combinam a pecuária com agricultura e florestas; manejo e a recuperação de pastagens; uso eficiente da água, agricultura regenerativa que promove a recuperação e conservação dos nutrientes do solo. Há ainda os avanços genéticos e o uso de drones e da inteligência artificial, inovações que otimizam a coleta de dados e o planejamento no campo.
“As ferramentas e tecnologias quando bem implementadas potencializam a produção. As práticas sustentáveis incrementam e aumentam a própria saúde do solo e o resultado disso é maior produção, maior ganho, maior produtividade. Essas práticas aliadas dentro de cada porteira, elas não só reduzem a própria emissão dos gases do efeito estufa, como também aumentam a rentabilidade do produtor”, completa a presidente,
O Brasil, de Norte a Sul, tem mostrado avanços significativos na pecuária e o mercado vem reconhecendo e demandando pelos produtos sustentáveis. A presidente cita uma ação bem implementada no Estado: “O mercado tem reconhecido e buscado pelos produtos, gerando diferenciação e oportunidade de maiores ganhos. Minas Gerais tem feito um belo trabalho, como o próprio Selo Verde, que disponibiliza estimativas de produção e adequação ambiental, com exigências do CAR (Cadastro Ambiental Rural). A integração dos dados traz transparência e rastreabilidade, fazendo com que a informação circule em todos os elos da cadeia”.
O bem-estar animal também tem avançado e gerado melhores resultados na pecuária. Conforme Ana Menezes, o impacto do bem-estar animal é pensado como um todo. Um animal saudável e confortável produz mais, então, demanda menor utilização de fármacos e menos intervenções. Tudo isso favorece a produtividade e a qualidade dos produtos finais.

“O animal bem tratado e com um ambiente confortável tem maior desempenho em quilos produzidos por hectare. No caso da pecuária de corte, isso evolui muito na qualidade da carne. A carne de animais produzidos em unidades que respeitam as práticas de bem-estar é de extrema qualidade com relação à composição, cor e durabilidade. A gente tem que ter o bem-estar, e o produtor procura por isso. É o caminho”, conclui a presidente da Mesa Brasileira de Pecuária Sustentável.
Pecuaristas adotam práticas que aliam produtividade ao bem-estar animal e à sustentabilidade
No campo, onde a ciência e os resultados de pesquisas são aplicados na pecuária, produtores de Minas Gerais avançam no uso das práticas sustentáveis e no bem-estar animal. O resultado alcançado, tanto na pecuária de corte quanto na de leite, é a maior eficiência da produção, precocidade, produtividades dobradas e produtos finais de alta qualidade.
Na Fazenda Batatal, no município de Serra do Salitre, no Alto Paranaíba, os irmãos Silmar e Vilmar Geraldo Martins iniciaram, há cerca de 10 anos, a produção de leite com a visão clara de buscar eficiência e produtividade de forma consciente. “Cuidar do meio ambiente e do conforto dos animais não é apenas uma obrigação ética, mas também um caminho estratégico para o futuro da pecuária, com impacto direto na produtividade e na rentabilidade”, explicou Vilmar Martins.

As principais práticas sustentáveis implantadas na fazenda incluem a agricultura regenerativa, a gestão de dejetos bovinos para produção de adubo natural, substituindo fertilizantes químicos. Há também o reaproveitamento da água, onde o recurso usado na limpeza de baias e na ordenha é coletado, armazenado em lagoas e utilizado na fertirrigação de gramíneas voltadas para a alimentação dos animais.
A fazenda adotou medidas focadas no conforto físico e na saúde dos animais, como galpões cobertos, com ventilação e aspersão para amenizar o calor. Há ainda o sistema Compost Barn que promove higiene, conforto e redução de estresse. Os bezerros têm cuidados adicionais, com estruturas equipadas com bolinhas recreativas.
Os cuidados permitiram avanços importantes nos resultados da Fazenda. Com um rebanho atual de aproximadamente 84 vacas da raça Holandesa, a Fazenda Batatal produz cerca de 3.780 litros de leite por dia. “A fazenda começou com 10 vacas e uma média de 15 litros de leite por dia por animal. Hoje, a média produtiva subiu para 43 litros por vaca por dia, sem hormônios, com uso de genética superior, conforto, nutrição e estrutura adequada. A pecuária de leite pode ser produtiva, sustentável e rentável e este é o caminho para o futuro da atividade”.
Animais de alto padrão
O pecuarista Matheus Alves, da Fazenda Nelore Benfica, em Alvinópolis, na região Central de Minas Gerais, explica que investir na produção mais sustentável deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade. “A sustentabilidade na pecuária não é apenas uma questão ambiental. Ela está diretamente ligada à longevidade do negócio, eficiência e credibilidade no mercado. Adotar práticas que respeitam o meio ambiente e o bem-estar animal contribui para uma produção mais equilibrada, com uso consciente dos recursos naturais, preservação das áreas nativas e redução de impactos negativos”.
Ainda conforme Alves, na fazenda, especializada na criação de Nelore PO (Puro de Origem), as práticas aliam eficiência produtiva com respeito ao meio ambiente e, principalmente, ao bem-estar dos animais. Entre as principais medidas adotadas, destaca-se o uso do curral antiestresse.

“A estrutura dos currais foi planejada com base em princípios de manejo racional, com passagens amplas e curvas suaves, reduzindo ruídos e pontos de pressão que poderiam causar estresse no gado. Isso contribui diretamente para uma rotina mais tranquila, reduz o risco de acidentes e melhora o desempenho dos animais, refletindo na qualidade da carne”.
As práticas abrangem ainda o uso consciente dos recursos naturais, como o manejo rotacionado de pastagens, conservação do solo, uso eficiente da água e preservação de áreas de vegetação nativa. Foram observadas melhorias na produtividade, menor incidência de lesões, maior facilidade no manejo e até um ambiente de trabalho mais seguro e eficiente para a equipe da fazenda. “Em termos de imagem e mercado, essas práticas também agregam valor à marca da fazenda, pois atendem à crescente demanda por uma pecuária mais responsável e alinhada às exigências dos consumidores e parceiros comerciais”.
Menor tempo de recria e engorda
Em busca da maior eficiência e sem abrir mão da sustentabilidade, o pecuarista Geraldo Majela Pinheiro dos Santos cria bovinos na raça Tabapuã no Sítio Recanto Santa Apolônia, em Recreio, na Zona da Mata. A adoção de boas práticas e do bem-estar animal fizeram com que a produtividade da unidade aumentasse significativamente. Se antes o período de recria e engorda dos bezerros ficava entre três e quatro anos, hoje, o processo é concluído em 18 meses.
A eficiência produtiva gera maior produção em um menor espaço, redução de custos e melhor aproveitamento dos recursos naturais e insumos. Além disso, o produto final – as carnes – tem alta qualidade no que se refere à durabilidade e maciez. As mudanças no Sítio Recanto Santa Apolônia aconteceram com o auxílio do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Sistema Faemg Senar.

“Com o projeto do Sistema Faemg Senar implementamos muitas ações, como a divisão de pasto com cerca elétrica e uso da energia solar. Implantamos o pastejo rotacionado com mais animais em determinada área e animais separados por categorias e, assim, fornecemos a suplementação mais adequada. Outros avanços aconteceram na seleção genética, o que garante bezerros mais precoces. Desta forma, reduzimos o tempo de recria e engorda dos bezerros em cerca de um ano e meio”.
Houve ainda melhorias na produção de alimentos voltados para o rebanho com o cultivo de capim para silagem, o que garante três cortes anuais. No sítio, há áreas com sombreamento natural para o rebanho, água de qualidade e uso de pescoceira, o que traz segurança no manejo. Outra iniciativa importante foi a criação de barraginhas para coleta da água das chuvas, garantindo maior umidade no solo no período seco.
Cuidados em todo o processo da pecuária
Na Fazenda Céu Azul, em Perdizes, a sustentabilidade e o bem-estar animal caminham junto com o ganho de eficiência e aumento da produtividade. Na propriedade, que pertence ao casal, José Luiz Zago e Maria Beatriz do Prado Zago, as ações incluem desde a captação de água da chuva – que é armazenada em represa e reutilizada centenas de vezes após tratamento anaeróbico – até a produção própria de bactérias para controle de pragas, doenças e cuidados com o solo.
Sobre a represa, Zago explica que para reduzir a perda de água por evaporação foi instalada uma usina fotovoltaica, o que garantiu o fornecimento de energia e reduziu a evaporação. Para a recuperação do solo, após a colheita do milho para silagem, a fazenda planta um mix de nove variedades vegetais, que além de enriquecer o solo, serve como alimento de alta proteína (14%) para o gado, reduzindo custos com ração e adubos. Há o uso de fertirrigação e adubo orgânico produzido através da compostagem.
O bem-estar animal é garantido por meio de sistemas de aspersão e ventilação automatizados na sala de ordenha e nas pistas de alimentação, mantendo as vacas confortáveis e saudáveis. Hoje, a fazenda possui cerca de 600 vacas em lactação, com uma produção média diária de 37 quilos de leite por animal e 20 mil litros de leite ao dia. Com genética de ponta e os cuidados, algumas vacas especiais atingem picos de até 97 quilos de leite ao dia.

A fazenda também produz bactérias em uma biofábrica própria e as utiliza no tratamento das lagoas, como adubo foliar, inoculante para silagem, fungicida e inseticida. A produção de bactérias utiliza subprodutos da própria fazenda, como a silagem do milho, melaço de cana e carvão.
“Com todas as ações, conseguimos reduzir os custos e ter um negócio com modelo bem sustentável, sem desperdício e com alta eficiência. As vacas – Girolando e Holandesa – são de alta produção, mas, para isso, é preciso ter genética, alimentação e conforto animal. Temos vacas que produzem mais de 70 quilos de leite ao dia, é muito volume. A sustentabilidade é o futuro da pecuária, o negócio precisa ser ecologicamente correto. Quando se usa os processos corretos, o gado não polui nada, é possível fechar todo o ciclo”, analisa Zago.
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