Integração é essencial para expansão do agronegócio
O 21º Congresso Brasileiro do Agronegócio discutiu, ontem, os potenciais e desafios para a produção agrícola e pecuária nacional diante da demanda crescente por alimentos no mundo e a necessidade de uma produção cada vez mais sustentável. Avançar em todas as cadeias de forma integrada é considerada uma força importante para o desenvolvimento do setor.
Além disso, a maior comunicação com o mercado externo sobre a sustentabilidade da produção é considerada um desafio que precisa ser superado. A grande competitividade dos produtos brasileiros tem incomodado grandes players, que têm tentado impor barreiras e prejudicar o setor.
Durante a abertura do evento, que tem o tema “Integrar para Fortalecer” e é realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) em parceria com a B3, o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ressaltou que a integração das cadeias produtivas é vista como ferramenta fundamental para o avanço integral do setor, produzindo mercados menos voláteis, reduzindo comportamentos individualistas, populistas e protecionistas.
Além disso, segundo Carvalho, a integração estimula a competitividade em processo mais aberto e criativo e une o público e o privado em ações conjuntas.
“É de forma integrada que o Brasil manterá o protagonismo. Nosso tema, ‘Integrar para Fortalecer’ é a prioridade global. Essa integração da visão da geopolítica com o clima, produção e demanda de alimentos e energias se dá sob a pressão de macrofatores, como a soberania, competitividade e confiança, e sua consequência, que são os investimentos”.
Carvalho explica ainda que esses fatores mapeados e trabalhados são essenciais ao Brasil e às empresas para enfrentar um mercado com as complexidades de cada país. Além disso, as políticas públicas preparadas em conjunto pelo setor público e privado são fundamentais para o equilíbrio de um país das dimensões e da responsabilidade do Brasil.
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, destacou que a produção agropecuária do Brasil avançou muito, tanto a empresarial como a familiar, e também a tecnologia empregada no campo. Tecnologia que, segundo Montes, é o elo principal entre sustentabilidade e produção.
Ele também ressaltou a importância da regularização fundiária, considerada fundamental para que o produtor tenha segurança em manter seu negócio e contribuir para o avanço do País.
Apesar dos desafios, como a pandemia de Covid-19, o agronegócio não parou e vem mantendo resultados positivos. A ameaça de falta de fertilizantes, em função da guerra entre Rússia e Ucrânia, foi contornada, apesar da alta dos preços, e, segundo Montes, mesmo assim, os produtos brasileiros se mantêm competitivos no mundo. Essa competitividade tem incomodado grandes players.
“Nossa competitividade tem incomodado bastante o mundo todo. Essa competitividade foi muito boa porque crescemos muito, mas nos trouxe também desconforto. Por má-fé ou desconhecimento, não sei qual dos dois, o mundo lá fora, principalmente, na Europa, vem nos prejudicando porque não querem conhecer e entender que o Brasil é essa nação que tem a sustentabilidade como um dos pilares principais”.
Geopolítica, segurança alimentar e interesses
Durante o 21º Congresso Brasileiro do Agronegócio, o embaixador e representante permanente do Brasil junto à OMC, Alexandre Parola, explicou que houve uma volta óbvia da geopolítica, que nunca sumiu, mas que havia visões otimistas sobre a ordem internacional de que ela teria deixado de acontecer sobre o signo da competição e fosse só cooperação.
“O equilíbrio internacional é sempre um equilíbrio tênue entre a competição e a cooperação, que se equilibra a partir seja de hegemonia ou seja da construção de regras”.
Atualmente, há uma tendência de reforma do sistema de comércio e será importante que o Brasil participe. “A diplomacia defende interesses criados a partir de realidades e o Brasil está comprometido com novas formas de negociação, especialmente as agrícolas, que estão mais ágeis. Há uma reforma do sistema vindo aí e o Brasil é parte dessa reconstrução”, afirmou Parola.
Apesar das incertezas futuras, a população mundial seguirá crescendo e o Brasil continua como principal potência capaz de aumentar a produção e exportar mais.
Segundo o vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gedeão Pereira, o País terá um papel que vai além de contribuir para a segurança alimentar e energética, mas será também exemplo em economia sustentável proveniente das tecnologias e conhecimento dos produtores rurais.
Além de desenvolver uma produção sustentável, tanto ambiental como social, será importante mostrar ao mundo, o que é fundamental para enfrentar barreiras como as que a Europa quer implementar e que podem prejudicar as relações de comércio do Brasil. Para que o futuro do setor seja promissor, também é importante continuar abrindo novos mercados.
“Somos os maiores exportadores líquidos de alimentos do mundo, adotamos grandes cuidados ambientais, somos a primeira agricultura tropical, com tecnologia, terra, solo, água, a Embrapa desenvolvendo tecnologias e temos o produtor rural que é muito tecnificado. Nossa preocupação é que não basta sermos, temos que mostrar que somos. Nossa agricultura, aonde chega, arrasa quarteirão porque somos sustentáveis e mais competitivos. O Brasil é um país agrícola espetacular. Daqui 10, 15, 20 anos seremos a maior agricultura do mundo queiram ou não”, explicou Pereira.
O presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), Jacyr Costa, ressaltou que, para vencer barreiras, será importante a integração da produção agropecuária com a indústria, o que também é fundamental para firmar a posição do Brasil no cenário global.
“A fome aumentou no mundo e, para garantir segurança alimentar, é preciso mais comércio, o que não significa apenas exportar, mas saber importar, ou seja, facilitar acordos comerciais e inserir o País neste cenário com fomento da produção regional”, explicou.
Costa também ressaltou que, após os problemas de disruptura das cadeias de insumos, ficou claro que é necessário estimular e fortalecer o comércio com países mais próximos – elogiou o Mercosul – e também estimular o fortalecimento das indústrias, a fim de reduzir a dependência de importação de produtos essenciais. Um dos projetos citados foi o Plano Nacional de Fertilizantes, que foi avaliado como estímulo a uma indústria local mais competitiva.
Meio ambiente e mercados
Com a mudança climática e um mundo cada vez mais preocupado, são grandes as discussões em como conciliar a produção com o meio ambiente. Especialistas acreditam que ampliar o diálogo entre todos os stakeholders e buscar investimentos para conservar ainda mais será importante.
Além disso, a integração do setor e das cadeias será fundamental para um avanço conjunto, com as grandes empresas que já implantaram as práticas ESG – de governança, ambientais, sociais – auxiliando e puxando as pequenas.
No que se refere à busca por investimentos, a superintendente de Relacionamento com Clientes da B3, Fabiana Perobelli, explicou que é preciso investir na regulação do mercado verde e de carbono, o que trará para o País um fluxo de capital estrangeiro para compra de títulos.
Outra ação necessária é o aumento da capacidade de certificação e a democratização do Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), por meio do Fiagro, um instrumento que possibilitou atrair pessoas físicas e o varejo.
“Já temos uma estrada pavimentada de investimentos que podem ajudar bastante no financiamento desses projetos socioambientais e do mercado de carbono, mas é preciso melhorarmos nossa comunicação. Quando isso acontecer, vamos ter um universo melhor, que não está sendo explorado no agronegócio, e será possível financiar mais projetos com temática socioambiental e de carbono”.
A diretora de Sustentabilidade da Friboi/JBS e vice-presidente da Abag, Liège Correia, avaliou que para ter desenvolvimento é preciso ser sustentável, por isso, a sustentabilidade é a estratégia da JBS.
“Os setores líderes precisam ser os exemplos, demonstrar as iniciativas, para que os demais sigam no mesmo caminho”, afirmou. Ela ressaltou também a importância de incluir toda a cadeia de produção, que é bastante pulverizada, e a necessidade da implementação definitiva do Código Florestal.
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