Pecuária leiteira de Minas Gerais enfrenta crise severa de preços
A produção de leite em Minas Gerais segue enfrentando uma severa crise de preços. Com as importações em alta e maior produção no campo – resultado da recomposição das pastagens e pacotes tecnológicos aplicados pelos produtores nos últimos anos – o preço pago pelo leite caiu pela sétima vez consecutiva em novembro, referente à produção entregue em outubro. Em Minas Gerais, o litro retraiu 5,5%, sendo negociado, em média, a R$ 2,38. Na comparação com igual mês de 2024, a queda fica próxima a 20%.
De acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), assim como em Minas Gerais, maior produtor nacional de leite, na média Brasil, o preço do leite cru fechou o pagamento feito em novembro a R$ 2,29 por litro, referente à produção entregue em outubro, recuo real de 5,9% frente ao pagamento anterior. Na comparação anual, a diminuição chegou a expressivos 21,7% em termos reais – deflacionamento pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro de 2025.
De setembro para outubro, o Índice de Captação de Leite (ICAP-L) subiu 1,65% na Média Brasil, puxado pela alta média de 3,7% no Sudeste e Centro-Oeste. No acumulado do ano, a elevação é de 13,6%.
Conforme o Cepea, resultados prévios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) estimam que a captação industrial de leite cru some 7,01 bilhões de litros no terceiro trimestre deste ano, 10,3% acima da registrada no mesmo período de 2024. O Cepea projeta que o ano se encerre com aumento médio de 7% na captação industrial, atingindo recorde de 27,14 bilhões de litros.
Conforme o presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio Pitangui de Salvo, a atividade leiteira é um dos um dos pilares da economia agropecuária de Minas Gerais e está imersa em uma das maiores crises de sua história recente, com produtores enfrentando prejuízos significativos e incertezas quanto ao futuro. A situação é agravada pela queda consecutiva no valor pago pelo produto e pela concorrência desleal de importações.
“Nós estamos enfrentando na pecuária leiteira, hoje, seguramente, a maior crise dos últimos 50 anos. É uma crise terrível. A produção de leite é diferente, a vaca produz diariamente e, independente da situação, é preciso ordená-la de manhã e de tarde, todos os dias, de domingo a domingo, mesmo perdendo de R$ 0,20, R$ 0,50, R$ 0,60 centavos por litro de leite produzido. Não há opção de vendê-la para a abate, porque porque a vaca está parida está descarnada”, disse Salvo.
Ainda conforme Salvo, a crise acontece em um cenário em que houve expansão da produção, mas que o consumo não acompanhou, resultando em um excedente que pressiona os preços para baixo. “Nós não exportamos leite e já que a gente não pode colocar esse excedente de leite no mercado internacional, ele fica no mercado interno e o preço desaba”, explicou.
Leite em pó importado é vilão

Um dos principais fatores que contribuem para a crise é a importação de leite em pó via Mercosul, vindo principalmente da Argentina e do Uruguai. O leite importado entra no Brasil, segundo Salvo, pela metade do preço que é comercializado dentro desses dois países de origem, configurando, assim, na prática de dumping, um comércio desleal, onde os produtores brasileiros competem não com outros produtores, mas com o tesouro argentino e uruguaio que subsidiam a produção.
Em outubro, foram adquiridos 214,73 milhões de litros em equivalente leite, 8,4% a mais que em setembro. No acumulado de janeiro a outubro, as importações somaram 1,86 bilhão de litros.
“É um problema social fortíssimo que tem afetado cerca de 220 mil produtores de leite aqui em Minas Gerais. Muitas vezes, esses produtores têm o leite como única fonte de renda. É preciso igualdade nas condições de produção e a implementação de salvaguardas pelo Governo Federal para sobretaxar produtos importados que caracterizem dumping, a fim de evitar que muitos produtores abandonem a atividade”, explicou Salvo.
Para os próximos pagamentos, as estimativas são de novas quedas, o que pode agravar ainda mais a situação. “São meses de quedas consecutivas no valor pago ao produtor de leite. Dezembro será muito difícil, janeiro dificílimo e fevereiro muito mais que dificílimo. Nós estamos orientando os nossos produtores para, dentro das fazendas, zerarem o que puderam na despesa do dia a dia. Estamos extremamente atentos e vamos continuar lutando para barrar as importações de leite em pó que entram via Mercosul, da Argentina e do Uruguai pela metade do preço que é comercializado dentro desses dois países de origem”.
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