Agronegócio

Triângulo é também a região do abacaxi

Com clima, solo e logística adequados, produção do Triângulo Mineiro gira em torno de 150 milhões de frutos/ano e representa 93% da produção total de MG | Crédito: Arquivo Pessoal Romes Silva Faria
Última reportagem da série apresenta outra riqueza, além de grãos: área domina produção total da fruta no Estado

Referência na produção de grãos, café e pecuária, a região do Triângulo Mineiro também tem como uma das riquezas a produção de abacaxi. Com clima, solo e logística adequados, a produção gira em torno de 150 milhões de frutos ao ano. O volume é bastante significativo e representa 93% da produção total da fruta no Estado.

O plantio do abacaxi envolve produtores da agricultura familiar, de médio e grande portes. A cultura tem o custo de produção elevado, girando em torno de R$ 18 mil a R$ 20 mil por hectare, mas o retorno é considerado suficiente.

De acordo com extensionista e engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), em Frutal, Luís Guilherme Brunhara Postali, a produção de abacaxi está concentrada no Triângulo devido às condições favoráveis.

Os cinco maiores municípios produtores de Minas Gerais estão na região, sendo Frutal – com o distrito Aparecida de Minas – o maior, com uma produção girando em torno de 50,4 mil toneladas ao ano. A área ocupada com a fruta é de 1,8 mil hectares.

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Também são destaques os municípios de Canápolis, com uma produção média anual de 27,2 mil toneladas; Monte Alegre de Minas, 16,5 mil toneladas; Fronteira, 15 mil toneladas; e São Francisco de Sales, responsável pela colheita de 13,2 mil toneladas ao ano.

O abacaxi produzido no Triângulo é destinado a vários mercados como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, região Sul do Brasil, entre outros.

“A produção de abacaxi na região é bem diversificada, envolvendo produtores de pequeno, médio e grande portes, que plantam desde meio hectare até 40 hectares. Por ser uma cultura de alto custo, mas que gera rentabilidade, tem a particularidade de estar concentrada em áreas menores, se comparadas com as demais culturas da região, como a soja e a cana-de-açúcar”, explicou Postali.

O sucesso do abacaxi na região é resultado do clima propício para a cultura. “Ele tem um histórico de produção em Frutal muito antigo e se deve ao clima e ao solo – que necessita de correção e manejo – que são favoráveis. O clima quente, tropical com bastante chuvas favorecem a produção e a qualidade do abacaxi”.

Em relação ao custo de produção, gira em torno de R$ 18 mil a R$ 20 mil por hectare. Mas, segundo Postali, apesar do custo elevado, a cultura, se bem desenvolvida, é rentável.

“Hoje, a gente trabalha com produção média de 25 mil frutas colhidas por hectare. É uma produção satisfatória. O preço do abacaxi graúdo gira em torno de R$ 3,80 por fruta, o que gera uma boa rentabilidade. Mas o preço nem sempre é esse e na média anual fica próximo a R$ 1,50, R$ 1,80 por unidade”.

Entre os desafios da produção de abacaxi está a manifestação de doenças, principalmente a fusariose, que pode comprometer as lavouras e gerar grandes prejuízos.

A oferta de água também é um problema. Pela produção ser em grande parte em terras arrendadas, a burocracia nos processos para o uso do recurso hídrico, impacta de forma negativa.

“A questão hídrica é um dos grandes desafios. A fruta precisa de muita água e os processos de outorga são lentos. Os produtores enfrentam ainda a fusariose, que não tem controle”, exemplifica o representante da Emater-MG.

O abacaxi, diferente das grandes culturas, segundo Postali, não possui tantos estudos voltados para a produção. Para controlar doenças e pragas, produtores tentam combater com manejo adequado. No caso da fusariose, a doença se prolifera pelas mudas e, em caso de infestação, que pode acontecer com o aumento da umidade, há propriedades que chegam a perder 80% da produção.

Postali explica que outra forma de controlar a doença é o desenvolvimento de variedades que sejam resistentes à fusariose. “Em Frutal, há experimentos para o desenvolvimento de variedades que sejam parecidas com a pérola, que é a mais produzida”, explica o representante da Emater-MG.

Outro ponto que interfere na cultura do abacaxi é a concorrência com outras produções. A área dedicada à fruta, em sua grande maioria arrendada, tem sido reduzida ao longo dos anos, resultado da concorrência com outras culturas como a cana-de-açúcar e a soja. A concorrência também tem elevado os preços das terras.

“Frutal já foi o maior produtor de abacaxi do Brasil, mas, com o encarecimento das terras – devido ao maior cultivo de cana-de-açúcar e de grãos – e o aparecimento de doenças e pragas, produtores têm trocado de cultura e também migrado para outras regiões, como o Rio de Janeiro e Tocantins”.

O clima é essencial para cultivo do abacaxi | Crédito: Arquivo Pessoal/Wagner Guidi

ATeG é fundamental para produtores da fruta

Com os custos elevados por hectare, a gestão das propriedades e o melhor uso dos recursos são fundamentais para garantir uma boa rentabilidade com o plantio do abacaxi. Na região do Triângulo, segundo o supervisor técnico do Sistema Faemg/Senar no Triângulo, Sudoeste e Noroeste de Minas, Leonardo Bhrener da Costa, são desenvolvidas várias ações para auxiliar os produtores.

“Desde 2019, estamos atuando na região com o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). Já estamos orientando o segundo grupo, que é composto por cerca de 30 produtores de abacaxi”.

Costa explica que na região do Triângulo, a maior produção de abacaxi está no distrito de Aparecida de Minas, pertencente a Frutal, que conta com cerca de 250 produtores.

Em sua grande maioria, o abacaxi produzido no Triângulo é pérola, mais indicado para mesa. A fruta da região é reconhecida no mercado pelo sabor, aroma e tempo de prateleira diferenciados.

Com visitas mensais, os técnicos trabalham temas importantes junto aos produtores. Parte das orientações são de técnicas para o melhor desempenho das lavouras, abordando práticas de nutrição, controle de pragas e doenças e tratos culturais.

O grande diferencial é a parte gerencial das propriedades, onde são feitos os controles dos custos e inventário de recursos.

“Ao cuidarmos da gestão, o produtor consegue identificar os problemas e vamos em busca de soluções para resolver os gargalos. A iniciativa tem dado certo e estamos conseguindo uma mudança muito importante junto ao produtor, que é gerir a cultura da melhor forma possível”, diz Costa.

O trabalho também é importante para a introdução de novas tecnologias na produção. “Nos atendimentos são repassadas diversas técnicas para aprimorar o manejo e há planejamento. Isso tem feito com que a qualidade e a produtividade das lavouras aumentem”, completa.

Sucesso do abacaxi da região é resultado do clima propício | Crédito: ARQUIVO PESSOAL / ROMES SILVA FARIA

Com um ciclo de 18 meses, entre plantio e colheita, os produtores são orientados a manterem os cuidados ao longo de todo o período, o que tem gerado frutos maiores e de melhor qualidade.

“Antes, em muitos casos, os produtores plantavam o abacaxi e deixavam para fazer o manejo somente no início das chuvas. Assim, as lavouras ficaram por um longo período paradas, atrasando o desenvolvimento dos frutos, que ficavam menores, e impactando de forma negativa a qualidade”, explana o supervisor técnico.

Por ser uma cultura semiperene, muitos produtores de abacaxi desenvolvem outras atividades em conjunto, o que é importante para que o produtor, principalmente, o pequeno se mantenha na atividade.

“Por ser este tipo de cultura, os custos, apesar de altos, são parcelados. O produtor planta em janeiro e colhe 18 meses após. Fica bem dividido. Essa característica também gera condições para os pequenos atuarem. Normalmente, estes trabalham em outras lavouras e têm renda diversificada”.

Com a orientação técnica, os produtores também estão introduzindo novas práticas. Uma das mais importantes é o controle biológico de pragas e doenças.

“Vários produtores não conheciam o controle biológico, que é feito com produtos de alta qualidade e mais limpos. Eles têm adotado esta opção, o que vem tornando o cultivo mais sustentável”.

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