Agronegócio

Ureia é insumo do agronegócio?

Os jornais noticiam que a Petrobras deverá fechar, em outubro desse ano e por razões de mercados, duas fábricas que processam a ureia para alimentação de bovinos, e que entra na formulação de fertilizantes nitrogenados de uso recorrente nos cultivos agrícolas. Ora, sem ser um analista de mercados, o Brasil já importa 70% dos fertilizantes que consome nas lavouras anuais e perenes, o que se configura numa dependência estratégica, senão perigosa, para o agronegócio que abastece e exporta para mais de 160 países nos cinco continentes. Embora não se possa isolar o “fator fertilizante” de outras tecnologias exigidas na produção e oferta de grãos, cereais, oleaginosas, fibras, biomassa, produtos de base florestal, hortaliças, frutas e legumes, esse fator é um componente indispensável nos ganhos de produção e produtividade por unidade de área cultivada, o que depende igualmente da análise do solo para calibrar as dosagens de fertilizantes nas diferentes culturas. Assim, a Ureia Fertilizante da Petrobras, indispensável à agricultura, contem 46% de nitrogênio, concentração que reduz custos de transporte, armazenagem, aplicação, e na adubação. Em 2016, o consumo aparente de fertilizantes no Brasil foi de 32,78 milhões de toneladas, sendo 5,59 milhões de toneladas ureia ou 17% do total (Anda). Insumo é tecnologia de ponta, e os custos agropecuários podem aumentar em cenários adversos. Mas “produzir ureia tem que ser lucrativo num mundo econômico interdependente no entender do pesquisador Eliseu Alves, da Embrapa.” A ureia é um composto sólido, nitrogenado não proteico, derivado do petróleo e muito usado, também sob orientação técnica, na alimentação de bovinos de leite e de corte ao longo do ano. O Brasil é o quarto maior produtor de leite do mundo, o segundo produtor de carne bovina, e o maior exportador. Os cinco maiores rebanhos bovinos do mundo são Índia, com 303,35 milhões de cabeças; Brasil, 226,03 milhões; China, 100,03 milhões; EUA, 93,50 milhões; e União Europeia, com 89,25 milhões de cabeças (farmnews-2017). Portanto, a ureia é um dos insumos estratégicos no desempenho do agronegócio brasileiro, que movimentou por vias internas R$ 1,42 trilhão em 2017, a preços correntes, e acumulou um superávit nas exportações de US$ 1,025 trilhão entre 1997 e 2017. Importar nem sempre é um bom negócio para quem planta e cria, e muito menos para a sociedade consumidora, que arca com os custos finais das tecnologias, dos produtos e serviços. Essa e outras abordagens não são análises econômicas, searas dos economistas, mas de cenários prováveis e presumíveis consequências nos sistemas agroalimentares nas regiões produtoras brasileiras e no abastecer e exportar. A demanda crescente por alimentos é uma constante no mundo, pois a previsão é de 9,2 bilhões de habitantes em 2050, contra os 7,63 bilhões atuais, e a fome também não pode esperar e atinge 815 milhões de pessoas, principalmente nos países mais pobres e nos em desenvolvimento (ONU/FAO). O fator terra, segundo a Embrapa, foi responsável por apenas 10% do crescimento das safras de grãos no Brasil se tomando como base o Censo Agropecuário de 2006, vigente. A segurança alimentar como política de governo, conceito e prática, não pode subestimar eventuais estrangulamentos na oferta de fertilizantes, embora não se possa negar o peso das decisões econômicas na tomada de decisão de governantes e governados. Entre 2015 e abril de 2018, o superávit nas exportações do agronegócio brasileiro foi de US$ 254,14 bilhões, um desempenho histórico (Mapa). * Engenheiro agrônomo

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