AMG Brasil e JX Nippon fazem parceria para produzir tântalo

A AMG Brasil e a JX Nippon Mining & Metals Corporation firmaram parceria para produção e fornecimento de concentrado de tântalo da mina Mibra – também conhecida como mina de Volta Grande -, localizada entre os municípios de Nazareno e São Tiago, na região Central de Minas Gerais. O acordo, no formato de joint venture, marca a entrada do grupo japonês na área de recursos minerais, especificamente no campo de metais raros, e prevê investimentos de R$ 100 milhões na unidade mineira.
Os concentrados de tântalo serão adquiridos prioritariamente pela Taniobis GmbH, controlada pela JX Nippon, e representarão aproximadamente 20% da aquisição total da companhia. Segundo comunicado do grupo, além de garantir a aquisição estável de matérias-primas para a produção de materiais avançados, o acordo também aumentará os esforços em direção à aquisição sustentável e responsável.
“Esses materiais avançados são usados em semicondutores e capacitores de ponta, e a demanda está aumentando constantemente de acordo com a expansão da demanda por dispositivos móveis e infraestrutura de telecomunicações. Espera-se que esse crescimento continue no futuro”, disse a JX Nippon Mining & Metals Corporation em comunicado à imprensa no fim do ano passado.
O grupo holandês AMG Advanced Metallurgical, que controla a AMG Brasil, por sua vez, informou que a parceria fornece estabilidade de longo prazo nas vendas de tântalo e créditos de subprodutos correspondentes aos custos de produção de lítio para a companhia.
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Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o CEO da AMG Brasil, Fabiano José de Oliveira Costa, detalhou o acordo e informou que entre metade deste exercício e o próximo, a produção de tântalo na mina Mibra deverá passar de 320 mil libras para 380 mil libras anuais. A expansão será financiada pela JX Nippon e está estimada em cerca de R$ 100 milhões.
“Os ganhos da parceria para a AMG dizem respeito à mitigação do risco mercadológico do negócio. Não há muitos clientes convencionais de conversão de tântalo no mercado e tudo o que será produzido aqui agora será fruto de um contrato take or pay. Desde 2019, nosso principal negócio no Brasil passou a ser o lítio, mas o tântalo é importante para a competitividade do produto, porque podemos alocar os custos. Hoje podemos dizer que temos o custo de produção de lítio mais competitivo do mundo, justamente pela produção do concentrado de tântalo”, contou.
Costa explicou ainda que o lítio pode ser extraído, essencialmente, de duas fontes: regiões de salares (na América do Sul, precisamente na Argentina e no Chile) e de rochas primárias (que é o que a AMG faz no Brasil). A primeira possui o custo elevado pelas incertezas de localização do recurso mineral e a segunda tem a influência do processo de redução das partículas do minério até o tamanho adequado à liberação do mineral.
No caso da AMG Brasil, como o tântalo e o feldspato são processados num estágio anterior, o rejeito é aplicado na produção do lítio, por já se encontrar no tamanho adequado a esta nova cadeia.
“Os rejeitos do tântalo e do feldspato durante anos foram depositados em barragens e agora são usados para o concentrado do lítio. A diferença é que ele já está moído. No restante do mundo, as empresas precisam ir até a montanha, extrair e diminuir as rochas para a liberação dos minerais. Partimos de um ponto à frente em termos de custo e eficiência, eliminando cerca de 50% do custo relacionado à extração”, explicou.
Para completar, com o acordo com a JX Nippon, a venda garantida do tântalo vai custear outras etapas do processo da produção do concentrado de lítio. O preço a ser pago pelo grupo japonês seguirá a cotação do mineral, que conforme o executivo, tem variado entre US$ 80 e US$ 120 a libra. Já o prazo levará em conta a vida útil da mina – hoje estimada em 18 a 20 anos.
Licenciamentos preocupam empresa quanto à planta de lítio
A respeito dos demais investimentos – em curso e previstos – para a mina, o CEO da AMG Brasil, afirmou que a expansão da produção está na reta final e deverá ser concluída até o segundo trimestre deste ano. Com orçamento inicial de R$ 200 milhões, o projeto prevê aumentar a produção das atuais 90 mil toneladas/ano para 130 mil toneladas anuais. O orçamento, segundo o executivo, deverá sofrer alteração em função da variação cambial.
Já sobre a nova planta química de lítio que será construída nos arredores da mina, Costa revelou que a empresa segue trabalhando nos projetos de engenharia. Os aportes, antes estimados em R$ 1,2 bilhão, agora já chegam a R$ 1,5 bilhão e permitirão à empresa transformar o concentrado em carbonato de lítio.
Porém, o empresário externou preocupação no que diz respeito aos processos de licenciamento do Estado. Conforme ele, questões como morosidade e adicionamento de compensações podem colocar em risco a materialização do investimento.
“Hoje precisamos lidar com o licenciamento quase que como uma rotina, uma vez que as aprovações ocorrem em lotes e diferentes etapas. Essa continuidade tem sido um dos maiores desafios da continuidade das nossas operações, bem como tem implicado em risco para projetos futuros como o da planta química de lítio. Quanto às compensações, o investidor internacional já tem muitas dessas premissas enraizadas em suas agendas ESG e quando ele é exigido, mas não vê a aplicação dos recursos, acaba sendo afugentado”, alertou.
O protocolo de intenções referente ao projeto foi assinado com o governo de Minas no final de 2019. Conforme divulgado à época, o montante contemplaria a implantação de uma unidade de beneficiamento de Espodumênio, Planta Química de Lítio, produção de ligas de Estanho e concentrado de tântalo e feldspato nas cidades de Nazareno e São Tiago. Naquela época, cerca de 220 empregos foram anunciados.
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