Economia

Apostas on-line crescem em BH e pressão por regulamentação aumenta; veja dados e projetos de lei

Levantamento da Fecomércio MG mostra gastos frequentes, endividamento e impactos no cotidiano; Câmara discute medidas para restringir publicidade
Apostas on-line crescem em BH e pressão por regulamentação aumenta; veja dados e projetos de lei
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Uma pesquisa inédita da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG) revela que as apostas on-line estão cada vez mais presentes no cotidiano dos belo-horizontinos e já despertam preocupação quanto ao impacto financeiro e social.

O estudo “Apostas Online”, realizado pelo Núcleo de Estudos Econômicos e de Inteligência & Pesquisa da entidade, mostra que 58,9% dos moradores da Capital conhecem alguém próximo que aposta constantemente, sinalizando que o fenômeno é mais comum do que se imagina.

Apesar disso, a maioria da população de BH não aposta: 81,8% afirmam nunca ter realizado apostas on-line, enquanto 9,7% admitem apostar atualmente e 8,5% já apostaram no passado, mas não mantêm o hábito.

Frequência das apostas também chama atenção

Entre aqueles que entram no universo das apostas digitais, o comportamento é intenso, segundo o levantamento:

  • 40% apostam pelo menos uma vez por mês
  • 30% apostam toda semana
  • 30% apostam todos os dias

O gasto médio mensal com as chamadas bets é de R$ 180,63, mas os valores variam bastante:

  • 40% gastam entre R$ 50 e R$ 100
  • 22,5% gastam até R$ 50
  • 17,5% gastam entre R$ 100 e R$ 300
  • 15% chegam a gastar entre R$ 301 e R$ 500
  • 2,5% desembolsam acima de R$ 1.000 mensais

Os dados dialogam diretamente com o perfil socioeconômico dos entrevistados, marcado por renda familiar concentrada entre R$ 1.518 e R$ 3.036 (28,5%), forte presença de trabalhadores assalariados com carteira (65,4%) e maior participação de pessoas entre 25 e 34 anos (22,6%).

Lazer é o principal motivo para apostas on-line

A motivação dos apostadores revela nuances importantes:

  • 42,5% apostam por lazer e entretenimento
  • 30% buscam ganhar dinheiro
  • 20% reconhecem que apostam por vício

Outros motivos aparecem com menor frequência como curiosidade, influência digital, tentativa de pagar contas e até compra de roupas.

A maioria dos entrevistados não mudou hábitos de consumo para apostar (86,7%), mas entre os que mudaram, os cortes recaíram em lazer (5,3%), supermercado (4%) e vestuário (4%).

Apostas já atingem a produtividade e pressionam o orçamento

A pesquisa mostra também que as apostas digitais não afetam apenas o bolso, mas também a rotina dos entrevistados. Segundo o levantamento, 30% dos apostadores acreditam que sua produtividade é afetada, enquanto 22,7% apostam, ou têm vontade de apostar, durante o horário de trabalho.

No aspecto financeiro, os dados são ainda mais fortes: 24% dos apostadores já pediram dinheiro emprestado para apostar, e 12% já deixaram de pagar contas por causa das apostas. Esses números revelam um risco crescente entre usuários mais assíduos.

Fecomércio MG alerta: apostas on-line podem agravar dívidas

Segundo a economista da Fecomércio MG, Fernanda Gonçalves, as apostas on-line aumentam o quadro de endividamento das famílias na capital mineira.

“O cenário econômico em Belo Horizonte revela um quadro preocupante de endividamento das famílias envolvendo 88,7% dos consumidores: esse contexto de fragilidade financeira é agravado pela popularização das apostas online. Em um ambiente de renda comprometida e encarecimento do crédito, as apostas podem se tornar uma alternativa arriscada para tentar melhorar a situação financeira, mas frequentemente acaba ampliando o ciclo de dívidas”, explica.

Ela destaca ainda que o sentimento da população reforça a necessidade de ação.

“Acrescido a isso, 88,6% dos belo-horizontinos defendem a necessidade de maior controle e regulamentação das plataformas de apostas, indicando que há uma possível preocupação coletiva com os impactos sociais e econômicos das apostas online, especialmente em um momento de vulnerabilidade financeira das famílias”, avalia.

População quer mais regulamentação

O estudo revela consenso entre apostadores e não apostadores: 88,6% defendem maior controle e regulamentação e apenas 8,8% são contrários a mais regras. Ainda 2,7% preferiram não opinar.

Esse apoio expressivo mostra que a sociedade enxerga o tema como questão urgente – tanto econômica quanto social.

BH tem perfil diverso de entrevistados e preocupação unificada

A pesquisa da Fecomércio MG ouviu moradores de todas as nove regionais da capital e mapeou um perfil diverso, desde estudantes e trabalhadores formais até aposentados, autônomos e pessoas sem renda.

Apesar da diversidade, a conclusão é unânime: as apostas online estão se espalhando rápido, e parte dos usuários já convive com impactos negativos no orçamento, na rotina e na saúde financeira.

PLs sobre apostas on-line tramitam na Câmara de BH

O tema das apostas on-line também avança no debate legislativo da Capital. A Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) aprovou recentemente o PL 362/2025, de autoria do vereador Wagner Ferreira (PV), junto a outros parlamentares, que proíbe toda forma de publicidade e propaganda de casas de apostas esportivas e jogos de azar na cidade.

A medida inclui patrocínios em estádios, camisas de clubes, como Atlético, Cruzeiro e América, painéis de LED e até estabelecimentos privados. O projeto busca reduzir a exposição da população a um setor que cresce rapidamente e já afeta o orçamento e o bem-estar de muitas famílias.

Outro texto em análise é o PL 297/2025, apresentado pelo vereador Pedro Rousseff (PT), que pretende impedir que plataformas de apostas utilizem resultados de eleições, referendos e plebiscitos como base de apostas.

A proposta ainda está em tramitação e tem como foco preservar a integridade do processo democrático, evitando que a lógica das bets interfira em disputas eleitorais ou incentive a manipulação de resultados políticos.

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