Atos mudam rumos do governo Lula e mostram oposição organizada

O governo Lula iniciou sua formação ainda em 2022 já sabendo de algumas dificuldades que deveria enfrentar. A primeira delas começou pela etapa de transição, que não foi fácil. O próprio petista reconhecia, durante a campanha eleitoral, que o planejamento orçamentário era uma ‘peça de ficção’. No entanto, conseguiu destravar parte dos problemas do orçamento, continuando com algumas campanhas públicas e tentando, com verbas extras, não somente atender propostas apresentadas aos eleitores, mas também retomar serviços públicos reduzidos na gestão anterior.
Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dispensou dezenas de militares que estavam encarregados de sua segurança institucional e de residências oficiais, como o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto. A “faxina” de Lula entre os militares resultou da desconfiança após os ataques em Brasília e causa uma relação cada vez mais estremecida entre o chefe do Executivo federal e os eleitores de Jair Bolsonaro.
Acompanhados mundialmente, os atos do dia 8 de janeiro, na capital do Distrito Federal, já representaram um primeiro aviso de sinal de cuidado, mas não necessariamente de um cenário de trevas. Segundo a cientista política Beatriz Finochio, os ataques causados aos Três Poderes traduzem um lembrete muito claro de que existe uma oposição organizada diante do governo Lula. Para ela, a longo prazo, o governo eleito precisa de muita atenção com o que vai acontecer com relação à oposição.
Confira aqui a análise de Beatriz Finochio
“Depois dos atos do dia 8, claramente o governo Lula não saiu enfraquecido. Muito pelo contrário, a curto prazo, os atos acabaram o fortalecendo. Isso ocorreu já que a opinião pública está formada. Além disso, obviamente que os deputados estarão muito atentos em relação ao que a opinião pública quer dizer. Ou seja, talvez toda oposição que o governo Lula enfrente não será tão forte com relação ao Congresso Nacional. Além disso, precisamos lembrar claramente de que não é por conta desses atos que tem uma premissa de ilegalidade, ou seja, em nome da democracia precisamos tomar cuidado para que não haja nenhum tipo de abuso de autoridade com relação a esses”, argumenta a especialista.
Diante dos atos contra o patrimônio e a honra dos Três Poderes, Vladimir Feijó, cientista político e professor da Faculdade Arnaldo Janssen, avalia que o radicalismo e a divisão interna do Brasil serão pressionados por uma unidade ocidental voltada para a pacificação no País. “Essa unidade será sem precedentes para o combate a fake news e para desbaratinar essas estruturas paralelas de informação que dão voz, aumentam e potencializam a oposição extremista. Os que vivem da teoria da conspiração ou os chamados milenaristas, que acreditam que exista um grande complô de elites globais para escravizar todo mundo, devem sentir o efeito dessa união global”, acredita.
Segundo o docente, devem ocorrer durante o governo Lula apelos à teocracia e apelos ao retorno da monarquia não somente no Brasil, mas também no Brasil, assim como ocorre em regiões europeias. “Existe ainda um movimento dos Estados Unidos que deseja que o Brasil lidere a América Latina, criando uma expectativa que não foi cumprida em especial nos últimos quatro anos do Brasil. Essa questão não foi assumida até por conta de quem foi posto no comando do Ministério de Relações Exteriores e dos outros cargos para representar a posição oficial do Brasil no exterior”, pontua.
Ainda segundo Feijó, à medida que as informações sobre os grupos extremistas vão sendo esclarecidas, os perigos dessa rede de transmissão vão sendo desfeitos. “Os atos violentos como os que foram registrados em Brasília também serão aos poucos destravados da mobilização. O apoio geral da população ao governo diante de uma crítica mais incisiva pode muito bem diminuir qualquer nova tentativa de ataque, exatamente pontuando que o problema é que a crise não é do governo em si. A crise é daqueles que estão artificialmente causando problemas para o povo brasileiro”, diz.
Governo federal pode enfrentar “mar de cobranças”
Eleito por Minas Gerais para ocupar o cargo de senador, Cleitinho Azevedo, que contou com o apoio direto e expressivo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), considera que ele mesmo não pode julgar os atos do dia 8 de janeiro, uma vez que ele não participou do acontecimento. No entanto, ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o político declarou: “Não posso também falar pelo governo que eu não participo, mas como o próprio Lula disse em seu discurso que vai pacificar o País, vamos aguardar, porque o que a gente quer é uma democracia forte”.
Em um vídeo publicado nesta semana em suas redes sociais, o senador manifestou sua indignação com o descumprimento das promessas de campanha de Lula. Ele critica o não aumento do salário mínimo pelo novo presidente e o não cumprimento da correção da tabela do imposto de renda. O senador apontou ainda que 18 milhões de brasileiros que ganham um salário mínimo e meio passarão a pagar imposto de renda, diminuindo ainda mais seu poder de compra.
Em outros vídeos, o senador explicou que, além de não ter o aumento prometido, os cidadãos pagarão mais pelos produtos, com a inflação que já começa a se desenhar pelas políticas econômicas propostas por Lula. Cleitinho afirmou que fará intensa oposição às propostas do presidente eleito que prejudicam os cidadãos e cobrará do governo o cumprimento das promessas de campanha. “Eu entro no Senado dia 1º de fevereiro e eu vou ficar igual carrapato pra ver ele cumprir isso aqui”, exclamou.
A reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO entrou em contato também com as assessorias dos senadores Rodrigo Pacheco e Carlos Viana, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
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