Bares e restaurantes de BH não repassam a alta dos custos

Embora metade dos bares e restaurantes de Minas Gerais tenha operado com lucro no mês de setembro, o setor ainda sofre para repassar o aumento dos custos decorrentes do índice inflacionário para os consumidores. É o que indica o levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
O estudo, feito com 164 empresários do setor no Estado, apontou que 57% dos entrevistados não reajustaram o cardápio conforme a inflação. Deste total, 29% aumentaram os preços abaixo da média inflacionária e 28% não realizaram nenhum ajuste. Ainda conforme a pesquisa, apenas 9% dos bares e restaurantes mineiros conseguiram aumentar os valores acima da média e 33% fizeram reajustes acompanhando a inflação.
Para o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel, a inflação ainda é a vilã para o setor, que não consegue acompanhá-la e segue reduzindo custos sem repassar para o mercado. Ele afirma que os bares e restaurantes estão ajudando a segurar o índice inflacionário. Isso porque nos últimos 12 meses, os alimentos e bebidas subiram 12,7%, enquanto os preços no setor de alimentação fora do lar cresceram 7,3%.
“É importante destacar que os bares reajustaram os preços muito abaixo do que o supermercado, por exemplo. Estamos com a lucratividade menor, então os bares têm ajudado a segurar a inflação, porque se tivéssemos repassando igual aos supermercados e sacolões, teríamos a inflação mais alta”, ressalta.
“O que chama a atenção é que a inflação continua sendo a vilã. Um tempo atrás, o pessoal falava sobre o aumento na conta de luz e gás, mas esses não eram os problemas, o problema é o conjunto. Na hora que você vê que o IPCA de alimentação dentro do domicílio subiu 12,7% e esses insumos que as pessoas compram para utilizar dentro de casa são os mesmos que os restaurantes compram, então também subiu para os restaurantes. Só que quando você pega o IPCA de alimentação fora do domicílio, que são nos bares, restaurantes, subiu 7,3%, então temos um gap de 5,4% que a gente não repassou para o mercado”, reitera.
Segundo Matheus Daniel, a lacuna deixada pelo não reajuste e o impacto da pandemia faz com que o setor tenha que reduzir custos e aprenda a fazer “mais com menos”. Alguns exemplos são a diminuição da mão de obra e a troca de insumos por outros que estão “na temporada”, ou seja, produtos da época e opções mais em conta. Ele ressalta que apesar disso, pela primeira vez desde a pandemia, 50% dos entrevistados afirmaram ter trabalhado com lucro, embora seja um número ainda pequeno.
“Mas metade das empresas conseguiu trabalhar com lucro. Na prática teria que ser 100%, pois não dá para uma empresa viver com prejuízo. Mas o que a gente acompanhou é que foi a primeira vez desde a pandemia que 50% trabalharam com lucro. Então elas (empresas) conseguiram pagar os salários dos funcionários, as despesas gerais e os empréstimos. Esse número é bom, mas ainda assusta se você pensar que 19% está trabalhando no prejuízo ainda, ou seja, um a cada cinco está trabalhando com prejuízo e isso acaba determinando o fechamento das empresas”, afirma.
Endividamento
O levantamento também apontou que 31% dos entrevistados optantes pelo Simples Nacional estão em atraso com o pagamento de parcelas. Ainda conforme a pesquisa, 42% aderiram ao Programa de Reescalonamento do Pagamento de Débitos no Âmbito do Simples Nacional (Relp) para tentar equalizar as dívidas. Conforme o executivo da Abrasel-MG, a média de endividamento dos bares e restaurantes com empréstimos atualmente está entre 12% a 14%.
Em relação aos empréstimos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o endividamento do setor é o mesmo, entretanto, com o agravante da Selic, segundo Matheus Daniel. De acordo com ele, desde a contratação da linha de crédito, a taxa cresceu bastante e junto com ela, houve um aumento das parcelas, que os estabelecimentos não conseguem pagar.
Para que o percentual de endividamento possa cair, ele defende o aumento do prazo de pagamento que dará tempo para os empresários e condições de reinvestir no negócio, crescer e gerar novos empregos. Ele ressalta que é necessário que os deputados apoiem um projeto de lei, que se encontra em tramitação na Câmara dos Deputados, para que entre em regime de urgência e postergue o período do pagamento das dívidas.
Expectativa para a Copa do Mundo
Além das festas de fim de ano, a Copa do Mundo de futebol, com início no próximo domingo (20), promete movimentar os bares e restaurantes mineiros e, consequentemente, aumentar o volume de vendas e o faturamento do setor. Conforme a pesquisa da Abrasel, quase metade dos entrevistados (49%) vão exibir os jogos nos estabelecimentos. Segundo Matheus Daniel, nos dias de jogos a tendência estimada para o faturamento é de crescer entre 20% e 30%.
Com o possível aumento da demanda já para este mês, os estabelecimentos precisaram antecipar a contratação de novos funcionários.
“Muitas contratações já foram feitas, porque normalmente o setor contratava agora em novembro para atender as festas de fim de ano, mas com a Copa do Mundo a gente teve que antecipar. Como a copa começa domingo, as contratações foram feitas em setembro e outubro para que a gente pudesse preparar o cargo e formar mão de obra para atender bem agora no fim de ano”, diz. Ainda de acordo com ele, só para o segundo semestre deste ano, a estimativa era de contratar 8 mil funcionários para trabalhar no setor de alimentação.
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