BC evita sinalizar futuro dos juros
Brasília – O Banco Central (BC) reforçou ontem que o cenário de inflação continuará favorável se não houver choques adicionais, mas apontou que o quadro é de incerteza e que, portanto, o melhor é não dar sinalizações explícitas sobre seus próximos passos a respeito da trajetória dos juros básicos. “Todos (os membros) avaliaram que, na ausência de choques adicionais, o cenário inflacionário deve revelar-se confortável”, trouxe a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. “Entretanto, o maior nível de incerteza da atual conjuntura gera necessidade de maior flexibilidade para condução da política monetária, o que recomenda abster-se de fornecer indicações sobre os próximos passos”, acrescentou. Na semana passada, o BC manteve a Selic em 6,50% ao ano, ressaltando que a retomada da atividade econômica será ainda mais gradual do que a esperada antes da greve dos caminhoneiros e que o aumento da inflação decorrente da paralisação vinha se mostrando temporário. Especialistas leram a mensagem como um sinal de que o BC não deve mexer nos juros tão cedo, em meio à alta ociosidade da economia e expectativas de inflação ancoradas. Na pesquisa Focus mais recente feita pelo BC, foram mantidas as previsões de que a Selic permanecerá em seu menor nível histórico neste ano, subindo a 8% em 2019. Na ata, o BC destacou novamente que a atuação da política monetária se dará exclusivamente com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica. “Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva. É por meio desses efeitos secundários que esses choques podem afetar as projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço de riscos”, informou o BC. “Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária”, completou. Inflação – Sobre a inflação, o BC afirmou que as projeções para julho e agosto corroboram a visão de que os efeitos dos choques advindos da greve dos caminhoneiros devem ser passageiros. Por outro lado, ressaltou que o risco de continuidade do processo de ajustes e reformas na economia brasileira e o risco associado à deterioração do cenário para economias emergentes “permanecem em níveis mais elevados”. A próxima reunião do Copom acontece em 18 e 19 de setembro, antes do primeiro turno das eleições presidenciais, em 7 de outubro. O pleito, que promete ser o mais acirrado em décadas, ganha cada vez mais espaço no radar dos investidores diante, sobretudo, do desequilíbrio fiscal do País. Reformas – Na ata, o BC voltou a dizer que a aprovação de reformas na economia é fundamental “para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia”. E que a percepção de continuidade ou não dessa agenda afeta as expectativas e projeções macroeconômicas. “O que é muito binário aqui é o resultado da eleição (de outubro). A gente pode ir para um cenário tranquilo ou muito complicado, que exigiria alta de juros até o final do ano. Esse é o grande evento determinador no futuro dos juros”, avaliou a sócia responsável pela área de Macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro. Sobre o cenário externo, o BC apontou que “houve certa acomodação das condições financeiras nos mercados internacionais, mas o cenário se mantém mais desafiador”. Após o câmbio mostrar trégua em julho, depois de forte alta do dólar sobre o real nos meses anteriores, o BC também ponderou que o grau de repasse cambial depende de vários fatores, como o nível de ociosidade na economia e a ancoragem das expectativas de inflação. E que seguirá acompanhando essas medidas.
Ouça a rádio de Minas