Economia

Carlos Viana defende novo plano de desenvolvimento

Candidato prioriza reestruturação do ensino público, infraestrutura e equilíbrio fiscal
Carlos Viana defende novo plano de desenvolvimento
Crédito: Will Araujo

Em continuidade às entrevistas com os principais candidatos ao governo de Minas Gerais, o DIÁRIO DO COMÉRCIO publica hoje uma conversa com o senador Carlos Viana, candidato pelo PL. Viana também falou sobre assuntos do interesse do empresariado como investimentos, infraestrutura, gestão pública, desenvolvimento sustentável e a estruturação de um projeto de Estado que una a sociedade mineira em torno de um propósito comum.

Lorene Figueiredo (PSOL) foi a primeira entrevistada. Na semana passada foi a vez de Marcus Pestana (PSDB). Os conteúdos podem ser conferidos na íntegra em nossas plataformas digitais.

Nascido em Braúnas, na região Leste de Minas Gerais, Viana está em seu primeiro mandato como senador da República. Formado em Jornalismo e pós-graduado em Gestão Estratégica de Marketing pelo Centro de Pesquisas Administrativas da UFMG, iniciou sua carreira profissional aos 24 anos. Passou por importantes veículos de comunicação como TV Record Minas, TV Alterosa, Rádio Itatiaia e alguns dos principais jornais da capital mineira.

Como o governo pode impulsionar a economia e a geração de empregos e renda em Minas?

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Primeiramente é preciso criar um novo plano de desenvolvimento. Há tempos estamos a reboque da dívida e do déficit e o Estado perdeu a posição importante que ocupava no País como centro de atração de investimentos. Precisamos recuperar essa posição e, para isso, existem pontos que precisam ser urgentemente organizados. Um dos pontos fundamentais é a reestruturação do ensino público e meu plano de governo prevê uma revolução na educação pública para que os índices de aprendizado, de formação profissional e oferta de mão de obra qualificada sejam retomados. Também é preciso trabalhar a infraestrutura. Nossa malha rodoviária federal é a maior de todo o País e o atual governo não foi a Brasília em momento algum buscando investimentos para que essa malha pudesse ser ampliada ou mesmo melhorada. Cuidar das rodovias mineiras é fundamental, pois assim, teremos condições de oferecer novas oportunidades às várias regiões do Estado. Há regiões em Minas que precisam de duplicação, outras apenas de cuidado. Temos 6 mil km de rodovias que estão em situação precária e que impedem o acesso e o escoamento de produção. E, por último, o equilíbrio financeiro. O déficit do Estado está em 12% maior, do que o deixado pelo ex-governador Fernando Pimentel (PT). Minas tem sobrevivido de liminares na Justiça e precisamos mudar essa situação. É preciso buscar o crescimento econômico, mas, ao mesmo tempo, o equilíbrio das finanças do Estado.

Todos os últimos governos se elegeram propondo a diversificação econômica, com uma industrialização voltada a bens de maior valor agregado. Mesmo assim, pouco mudou no parque industrial mineiro, que ainda é bastante especializado na produção de bens intermediários. Como pretende mudar essa realidade? Quais políticas públicas tem para a diversificação econômica?

A experiência como senador tem me ensinado como podemos trabalhar a vocação das macrorregiões mineiras. Não podemos pensar em uma Minas Gerais toda industrializada. Para cada região existe uma vocação e por isso, cada uma precisa de um projeto. O Triângulo Mineiro, por exemplo, precisa de uma matriz energética moderna, renovável e mais barata: o gás natural. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, precisamos tratar da mobilidade, sem ela a gente não consegue tratar o aumento de serviços no entorno da Capital, porque é uma região onde a industrialização já enfrenta problemas. E em outras regiões do Estado onde a agricultura familiar ocupa quase 70% da produção, trabalhar o apoio aos produtores locais. Para onde cabem indústrias, atrair investimentos com estradas, mão de obra qualificada e, se for o caso, benefícios. Essa é a chave da diversificação: entender a vocação natural de cada região.

Caso eleito, como será a relação de seu governo com a mineração? Pretende endurecer as regras para a atividade?

Nós precisamos da mineração. O mundo precisa da mineração. A mineração vai ultrapassar o limite do planeta, porém não pode deixar destruição. Fui relator da CPI de Brumadinho e ficou muito claro: os mineiros não querem mais o risco das barragens, não querem dormir com a possibilidade de uma barragem romper. Os mineiros não querem mais a mineração destruindo serras como a Serra do Curral. Vamos permitir e incentivar os projetos em áreas sem adensamento urbano e a preservação seja ponto relevante. Não é possível pensarmos em desenvolvimento econômico sem pensarmos em regras de baixo impacto, proteção ao meio ambiente e carbono zero. São pontos que o Brasil vai ter que respeitar, não é apenas Minas. E a mineração também vai ter que se adequar. A preservação do meio ambiente, de serras e monumentos não pode competir com a mineração. Não queremos dinheiro apenas pelo dinheiro.

Investimentos privados – como atraí-los? Em quais setores vê mais potencial?

Pensando na siderurgia e no Vale do Aço, tivemos um boom de crescimento nos anos 1970, que estagnou porque a região não tem uma rodovia duplicada. Agora vamos ter uma nova ferrovia e vamos ter a BR-381, que vai ser duplicada, que vai possibilitar novos crescimentos. É uma vocação natural. Porém, antes de pensarmos em atrair investimentos, chamo atenção para potenciais já existentes em Minas e que não são aproveitados. Precisamos organizar oportunidades de negócios e geração de renda que já existem no Estado. A exemplo do turismo, Minas tem 62% de todo o patrimônio histórico brasileiro registrado e isso não é aproveitado. Temos um turismo mais forte em Tiradentes e Ouro Preto, mas é preciso fomentar Diamantina, o Serro, o Circuito das Águas do Sul de Minas. Para isso, precisamos aprimorar a prestação de serviços, com treinamento de mão de obra e rede hoteleira.

São inúmeros os gargalos na infraestrutura do Estado. Como pretende saná-los?

Bater à porta do governo federal é fundamental. Sou testemunha, como senador, que nesses três anos o governo de Minas Gerais não buscou ajuda do governo federal como poderia. Minas não apresentou sequer um projeto para a melhoria das rodovias federais. Todas as discussões sobre concessão da BR-040, BR-262 ou da BR-381 quem fez por Minas Gerais fui eu. Sobre o metrô, estamos discutindo o projeto desde 2019 e só depois que o presidente liberou R$ 2,8 bilhões é que o governo do Estado aceitou colocar R$ 400 milhões. Essa ausência gerou um atraso muito grande, porque se nós tivéssemos levado ao presidente um plano de crescimento e mobilidade, o Estado estaria muito melhor no que se refere aos cuidados das estradas. Além disso, nos três últimos anos, nenhuma casa ou moradia popular foi construída em Minas. Faço o compromisso de refazer os acordos de Brumadinho e Mariana para usar boa parte do dinheiro para construir casas e reduzir o déficit de 400 mil (moradias) do Estado. Esses recursos vieram para uma reparação, e não só para indenizações. A Vale deve uma reparação aos mineiros pela lama que jogou na nossa história. Por isso, vou usar esses acordos para fazer reparação social na área da habitação popular.  

Minas Gerais ainda se encontra com a situação fiscal delicada. Como a política de desenvolvimento do seu programa leva em conta essa questão? Como equacionar as finanças do Estado?

Precisamos de um Regime de Recuperação Fiscal, isso é uma é uma necessidade. Porém, o regime como está hoje matou o Rio de Janeiro e Minas está assumindo um risco se seguir o mesmo caminho. Um caminho que não vai nos tirar do buraco. Já disse ao presidente Bolsonaro que precisamos de um novo plano. Com o atual regime, que o Supremo, na minha opinião, de forma indevida deu, não poderemos, por exemplo, dar aumento aos servidores em caso de merecimento. Nem fazer concursos. Sabe o que vai acontecer? A mão de obra qualificada que a gente custa ter no Estado vai evadir. Esse é um dos problemas do Regime de Recuperação Fiscal. Precisamos de um plano que ajude outros estados que tenham dificuldade com pagamento.

Nuvem de palavras mais repetidas pelo candidato durante a entrevista

Qual sua avaliação sobre a privatização de empresas públicas como Cemig, Copasa e Gasmig?

Hoje a Cemig não consegue atender o Noroeste do Estado e o Alto Paranaíba. Temos centenas de pivôs parados porque não tem carga de energia elétrica para aumentar a irrigação e a produção agrícola em outras regiões. A Cemig ainda tem um papel muito importante a cumprir em Minas Gerais, mas não pode seguir como uma empresa apenas estatal. O governo federal acaba de privatizar a Eletrobras, que se tornou uma das empresas mais valiosas do mundo. O governo ficou com 40% e pode influenciar em todas as metas da empresa, mas abriu à iniciativa privada para administração. Minha ideia com a Cemig é fazer o mesmo. Quanto à Copasa, só 30% do esgoto em Minas é recolhido e tratado, o resto vai para córrego. Como é que a gente vai pensar em economia do futuro jogando esgoto em córrego? Precisamos fazer com que todos os mineiros tenham água e esgoto tratados. Votei a favor do Marco do Saneamento, mas a iniciativa privada não vai a todo lugar. É nessa hora que a Copasa precisa atuar.

Qual o seu plano para fomentar o agronegócio e, ao mesmo tempo, garantir que ele cresça ainda mais contemplando práticas que sejam determinantes para a preservação do meio ambiente e do clima?

O agronegócio brasileiro produz cada vez mais com menor quantidade de terras. Temos alguns pequenos pontos a se trabalhar que podem dificultar a vida de quem quer produzir, como ocorre com a outorga da água. Mas o agronegócio está cada vez mais alinhado com questões do meio ambiente. O agronegócio é fundamental; é um Brasil que dá certo. Hoje, 70% das exportações brasileiras partem do grande produtor, mas quase 70% da comida que vai para nossa mesa é do pequeno produtor. Não dá para falar em agronegócio somente para os grandes, esses sabem se proteger, têm como se financiar e como se tornarem cada vez maiores. Minha preocupação é o agricultor familiar, aquele que é a maioria em Minas Gerais, que produz leite, queijo, hortaliças. É para esses que o Estado tem que olhar com mais atenção.

Quais os principais desafios nas áreas de saúde e educação?

A gente precisa urgentemente de uma reorganização das regiões de saúde em Minas, porque virou uma bagunça. Os consórcios de saúde são uma grande saída para resolver esse gargalo, principalmente quanto às cirurgias eletivas. Minas Gerais foi o primeiro estado a criá-los, mas foram abandonados.

Qual sua visão sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e como a Agenda 2030 está inserida no seu programa de governo?

Não podemos fazer um novo plano de inteligência e de estratégia de crescimento para Minas sem levar em conta o que o mundo decidiu. Estamos numa situação de desequilíbrio tão grande que precisamos pensar em cidades mais sustentáveis e melhores para se viver, mas ainda temos que enfrentar o problema da miséria. Minas é um exemplo muito interessante desse Brasil de riqueza e de abandono. Da pobreza que virou poesia. O Jequitinhonha não é o vale da miséria, é o vale onde as oportunidades ainda não foram colocadas em prática. O lítio, a fruticultura, a riqueza cultural são oportunidades de negócios que o Estado nunca se interessou. O mesmo ocorre no Norte. A seca não gera pobreza. A convivência com a seca é possível. Precisamos olhar para fora do País e observar o que essas políticas vêm para melhorar a qualidade de vida, mas precisamos também começar a pensar nos que ficaram para trás. Esse é o grande desafio de uma agenda sustentável: começar a pensar uma Minas Gerais que se adapte futuramente a todo o protocolo de combate à miséria, a uma educação de igualdade, uma sociedade que seja mais justa para todos, inclusive, para as minorias.

Desigualdade social e distribuição de renda são problemas hoje de extrema urgência, como resolver estes temas estruturantes da sociedade?

É uma questão de educação pública. É preciso ajudar as famílias a não passarem pelo flagelo da fome, isso é uma obrigação do Estado. Mas o Estado, ao mesmo tempo, tem que fazer com que essas famílias tenham uma chance de sair da dependência. E essa oportunidade passa pela escola pública. Sem uma educação pública de qualidade e que ofereça formação profissional não vamos conseguir nunca. Essa é a melhor maneira de distribuir renda. E ainda temos o problema do envelhecimento rápido da população. Entram cada vez menos jovens no mercado de trabalho, porque nascem menos crianças. Daqui a 15 anos essa janela demográfica vai estar pesando ainda mais na Previdência. Precisaremos de uma nova reforma da Previdência Social e o Brasil terá que se tornar um grande centro de tecnologia, sem perder um jovem sequer da escola, ou então vamos ter que começar a nos abrir para um grande programa de imigração. Minha visão sobre distribuição de renda inclui distribuição de conhecimento.

Vivemos hoje em um mundo polarizado carente de propósitos comuns? Qual seu projeto de estado para unir a sociedade mineira em torno de um projeto de futuro?

Isso é consequência de escolhas do passado, mas confio que os brasileiros vão aprender com o momento. Quem começou essa radicalização no Brasil foi a esquerda querendo impor pautas que entendia como mais corretas. A sociedade reagiu porque há uma direita muito forte, um centro que também não concorda com a esquerda em muitos pontos e todos votaram na direita. Acredito que essa polarização está cansando as pessoas e a tendência é a busca por candidatos mais ao centro, candidatos que queiram propostas que atendam a quem está na esquerda, mas que também não seja tão radical à direita. 

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