Economia

Cenário externo deve desacelerar PIB de Minas

Projeção é de economistas ouvidos pelo DC
Cenário externo deve desacelerar PIB de Minas
A redução no preço e na demanda por minério de ferro pode prejudicar o Estado | Crédito: Divulgação

Minas Gerais está crescendo mais do que o País. Segundo a Fundação João Pinheiro, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado avançou, percentualmente, seis vezes mais do que o nacional no segundo trimestre de 2022. Uma alta de 7,3% em comparação com o primeiro trimestre, enquanto o PIB do Brasil subiu 1,2% no mesmo período. No acumulado do ano, a atividade econômica em Minas registrou um aumento de 4,1%, enquanto o Brasil cresceu 2,5%.

O DIÁRIO DO COMÉRCIO conversou com alguns economistas para saber se esse círculo virtuoso para a economia mineira deve se perpetuar ou é apenas um pico passageiro. De maneira geral, os especialistas apontam que a demanda mundial por commodities minerais e agrícolas se refletiu positivamente no Estado e deve continuar aquecendo sua economia até o final do ano. Mas a retração dos preços das commodities já sinaliza que o mundo, às voltas com suas próprias dificuldades econômicas, pode não comprar tantos produtos mineiros no ano que vem. 

O economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas, Paulo Casaca, destaca que o que fez o PIB de Minas expandir foi a produção agrícola, principalmente a produção de café e, em segundo lugar, a mineração. “A produção cresceu mais comparada a um início do ano terrível por causa das chuvas do que por um desempenho extraordinariamente bom”, ressalta.

“Não sou um especialista em economia agrícola, mas não a vejo crescendo no mesmo nível no resto do ano. Como o que se tem é uma média ponderada, é normal que, em certos momentos, os resultados de um estado deem uma desgarrada e se destaquem”, acrescenta Casaca.

Ele cita o exemplo de outros setores, como comércio e serviços, que, em Minas, estavam crescendo mais e, no acumulado de doze meses, já estão convergindo. “Aqui eles expandiram muito na pandemia graças às vantagens logísticas, já que Minas liga o restante do Sudeste ao Nordeste e, por isso mesmo, abriga grandes centros de distribuição como o da Amazon. O que, naturalmente, aumentou o consumo e o emprego”, diz.

Mas, tanto no Brasil quanto em Minas Gerais não haverá essas “novidades” no segundo semestre e em 2023. “A menos que haja algum fato novo, a diferença entre as performances de Minas e o Brasil tende a se aproximar. Não vejo a produção agrícola e a indústria extrativa aumentando a produção nos outros trimestres e sim crescendo no mesmo ritmo da economia brasileira”, conclui o economista.

Professora de Economia da Una, Vaníria Ferrari destaca que a alta do PIB de 7,3% no segundo trimestre mostra que a economia mineira não só cresceu, como superou os índices pré-pandemia. “É a quinta alta consecutiva no desempenho econômico da economia mineira. Para se ter uma ideia, o PIB da agropecuária cresceu 11,8% em Minas, o PIB da indústria 4,3% e o PIB de serviços cresceu 1,9%”, reforça.

Para a professora, o crescimento tem potencial para continuar. “O que pode acontecer é uma desaceleração devido à baixa dos preços de algumas commodities. Mas a perspectiva para o Estado é de continuar esse caminho de crescimento, mesmo que numa velocidade menor”.

Já Ricardo Ghizi Corniglione, professor de Economia da PUC, ressalta que se o PIB de Minas está muito ligado às commodities, existe também o fator industrial a ser analisado. “Se o valor delas diminuir, a Vale não vai deixar de exportar por causa disso. A economia mineira vai continuar aquecida porque a pandemia arrefeceu, o que tem aumentado a empregabilidade.  Existe uma demanda reprimida de turismo, por exemplo, no interior de Minas”, aponta.

“Um exemplo eu vejo aqui na PUC, na unidade São Gabriel.  Muitos alunos arrumaram emprego recentemente, tanto é que a gente não conseguiu monitores para trabalhar nas disciplinas neste semestre. Eu acredito que isto é uma reação ao ‘fim da pandemia’, que está reaquecendo a economia no Brasil todo e, em particular, em Minas Gerais. A tendência é continuar assim, mesmo num ritmo menor”, acrescenta Corniglione.

Agronegócio

Professor titular do Ibmec, Paulo Pacheco salienta que o crescimento de Minas Gerais bem acima da média nacional foi puxado principalmente pelo agronegócio, no qual se destacou o café – que tem colheita relevante no segundo trimestre -, seguido pela soja e milho. “O café foi responsável praticamente por quase a metade desse resultado, cerca de 40%. Minas Gerais sozinho é o maior produtor mundial de café”, diz Pacheco.

Segundo ele, os preços dessas commodities tiveram um aumento muito bom de um ano e meio para cá. Junto a uma boa safra, fizeram com que aumentasse também a renda externa direcionada ao Brasil. “Compradores internacionais importaram café e soja e esse recurso veio para Minas Gerais, que é um grande exportador. Essa renda trouxe um crescimento maior para a economia mineira”, relata.

Consequentemente, a redução dos preços do minério de ferro e da soja e uma pequena baixa no preço do café – que ainda não foi expressiva – têm um efeito automático na renda desses setores. “O grande crescimento que Minas teve comparado com o resto do País deve diminuir, mas como a retração ainda não é tão grande, o agro mineiro deve ficar acima da média nacional. O PIB de Minas vem crescendo em média 3% ao ano e deve continuar acima da média nacional, puxado pelo agronegócio, indústria extrativa e, a seguir, pelo setor de serviços”, resume o professor.

Para o coordenador da seção mineira da Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (Abed), Paulo Bretas, a expansão da economia mineira acontece a partir de fatores de mercado. “As atividades econômicas em Minas estão funcionando atreladas à dinâmica de uma economia mundial que saiu da Covid com muita demanda nos setores de mineração, metal-metálico e agropecuária”, relata.

“Se depender da impulsão interna e da demanda mundial de commodities, o crescimento continua esse ano. Mas para o ano que vem parece que o cenário pode mudar em decorrência da possível recessão na Europa e Estados Unidos. Minas, por sua vez, é mais atingida por problemas em economias que compram nossos produtos, como é o caso da China”, acrescenta.

Especialista não vê “recessão” mundial

O professor de Economia da UFMG Mauro Sayar Ferreira rejeita o termo “recessão” para o que o mundo pode enfrentar no ano que vem, mas concorda que ele vai crescer menos. “A retração dos preços das commodities já começa a refletir essa desaceleração”, ressalva. 

Minas, porém, ainda deve crescer mais que o Brasil até o fim do ano, analisa. Ele cita o IBC-Br, índice do Banco Central que mede a atividade econômica no Brasil e em alguns estados. De acordo com ele, o PIB acumulado no País nos últimos 12 meses é de 2%, enquanto em Minas é bem maior, de 3%. 

Segundo Sayar, este é um movimento cíclico. “Quando você tem um pequeno ciclo de commodities, o Brasil se dá bem. Em Minas Gerais, que tem uma base expressiva desses produtos, o ciclo repercute ainda mais positivamente”, explica. “Por outro lado, quando o movimento internacional arrefece, o impacto é maior em Minas do que no Brasil”, acrescenta .Dessa maneira, tanto o Brasil quanto Minas devem reduzir o ritmo de crescimento. “Parte expressiva do PIB é relacionada à normalização da atividade econômica no pós-pandemia, que teve dados mais fortes nos setores de Comércio e Serviços. Minas se beneficiou mais porque, além disso, tem uma base maior de commodities”, conclui.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas