Cielo fará concessão direta de crédito a lojistas

São Paulo – A Cielo vai investir na concessão direta de crédito a lojistas como parte do esforço para reagir à prolongada pressão sobre suas margens devido à agressiva competição no mercado brasileiro de meios de pagamentos.
“Essa será uma nova avenida de geração de receitas”, disse ontem Gustavo Sousa, vice-presidente de finanças da Cielo, em teleconferência com analistas.
Líder no mercado de adquirência de cartões no País, com cerca de 40% do mercado, a Cielo começou em junho a oferecer crédito com recursos próprios a clientes, tentando compensar os efeitos da queda nas taxas cobradas sobre as transações. Até agora, em uma fase piloto, já emprestou R$ 40 milhões.
O cálculo da empresa é de que poderá fazer cerca de R$ 1 bilhão em 12 meses, logo que passar a operar o produto de forma ostensiva. Por ora, o crédito cedido tem como fonte um fundo de direitos creditórios (FDIC) da própria empresa e recursos do Bradesco, banco que divide o controle da Cielo com o Banco do Brasil.
Mas o presidente-executivo da Cielo, Paulo Caffarelli, indicou que, mais adiante, os empréstimos poderiam ser todos feitos com recursos próprios.
“O ideal seria termos uma estrutura própria de funding”, disse Caffarelli, admitindo inclusive a possibilidade de pedir uma autorização do Banco Central para ter uma licença bancária.
O movimento coincide com os esforços mais recentes da Cielo para tentar mudar a estrutura de sua base de clientes, com maior foco em pequenos negócios, que dependem mais de financiamento.
Atualmente, cerca de 65% dos clientes da Cielo são clientes com faturamento anual acima de R$ 15 milhões. A meta da empresa é de reverter essa composição, passando a ter 60% da base formada por clientes de pequeno porte.
Para Caffarelli, o movimento da Cielo não conflita com os interesses de Bradesco e Banco do Brasil.
“De todo modo, estamos oferecendo algo parecido com o que os nossos concorrentes já fazem”, disse.
A Cielo anunciou na terça-feira (23) que teve, no segundo trimestre, mais uma rodada de lucro e receitas cadentes, acusando os efeitos da crescente concorrência no mercado.
Mudança de estratégia – Caffarelli deixou a presidência do BB no final do ano passado para assumir o comando da Cielo. Desde então, cuidou de reverter a estratégia que vinha sendo praticada pela adquirente de se concentrar em grandes clientes.
“Com grande participação de mercado, temos condições de explorar vantagens de escala”, explicou Caffarelli.
O foco recente em pequenos negócios fez a Cielo disputar o nicho de mercado mais concorrido da indústria, com dezenas de novos competidores oferecendo taxas reduzidas ou até a isenção delas.
Caffarelli disse que o ambiente competitivo deve seguir pressionando as margens do setor, mas que a Cielo tem capacidade suficiente para concorrer.
O executivo voltou a negar que haja planos de fechamento de capital da companhia, assunto sobre o qual a Cielo e seus sócios têm sido frequentemente questionados por analistas e jornalistas. (Reuters)
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