Economia

Empreendedores encontram oportunidades e desafios em Novo Bento Rodrigues

Moradores atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, também enfrentam desafios
Empreendedores encontram oportunidades e desafios em Novo Bento Rodrigues
Darlisa das Graças, proprietária do Bar da Una, sucesso no novo distrito de Bento Rodrigues | Crédito: Macaca Filmes/Divulgação

Embora as obras dos reassentamentos das comunidades de Mariana atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão ainda não tenham sido finalizadas, os primeiros comércios em Novo Bento Rodrigues e Paracatu já estão em funcionamento, movimentando a economia da região. Em meio a retomada produtiva dos locais, os empreendedores encaram oportunidades, mas também desafios.

O DIÁRIO DO COMÉRCIO visitou Novo Bento Rodrigues nesta semana e conversou com responsáveis de parte dos comércios e prestadores de serviços que estão de portas abertas. À reportagem, a proprietária do Cantinho de Costura da Cida, Maria Aparecida, disse que a demanda de serviços no atual distrito não é a mesma do antigo, que foi devastado em 2015 pelos rejeitos da estrutura da Samarco.

Moradora de Bento Rodrigues há mais de três décadas, Maria Aparecida foi uma das primeiras pessoas a ir morar no novo distrito, sete meses atrás. Antes da tragédia, ela já tinha uma estrutura de costura focada no conserto de roupas, conhecida por todos na região, por se tratar de um povoado pequeno. Mesmo que uma grande parcela dos atingidos ainda esteja para ocupar casas no local nos próximos meses, a costureira não tem esperança de aumento no volume de trabalho.

Cantinho de Costura da Cida | Crédito Macaca Filmes/Divulgação

As expectativas do proprietário do Barbosa’s Bar e Mercearia, Weberson Arlindo dos Santos, são mais otimistas. Ele não espera uma virada de página para o restante do ano, mas acredita que no futuro, quando o distrito, de fato, estiver completamente preenchido pelos atingidos, as vendas se tornem mais estáveis, uma vez que o perfil de público do estabelecimento voltará a ser familiar.

O imóvel comercial de Weberson foi o primeiro a ser ocupado no Novo Bento Rodrigues, há um ano. O comerciante afirma que atende algumas famílias que se mudaram para o distrito, mas os clientes mais recorrentes no momento são os trabalhadores envolvidos no reassentamento. Como existe uma rotatividade de funcionários e empresas nas obras, ele diz que os negócios ficam instáveis, ao contrário do que era no antigo povoado, quando sabia os meses de picos de vendas.

Barbosa’s Bar e Mercearia | Crédito Macaca Filmes/Divulgação

Oportunidades no novo distrito

Há cerca de oito meses, Darlisa das Graças Euzébio Azevedo, dona do Bar da Una, se mudou para o distrito que está em construção. Pouco tempo depois, ela abriu o restaurante e passou a servir refeições para moradores e, especialmente, trabalhadores do reassentamento. O estabelecimento, que foi uma oportunidade para a empreendedora, já é um sucesso na comunidade.

No antigo Bento Rodrigues, ela trabalhava fichada durante a semana e aos fins de semana abria um bar que servia apenas alguns petiscos. No novo distrito, como não poderia vender bebidas alcoólicas durante o dia, devido às obras, teve a opção de abrir o restaurante e se concentrar somente nele. Mesmo acreditando em queda no movimento depois que as obras terminarem, Darlisa das Graças enxerga com otimismo o futuro, visto que o distrito poderá receber visitantes.

Bar da Una | Crédito: Macaca Filmes/Divulgação

O dono da Leron Auto Mecânica, Ronaldo Sérgio Félix, também passou por uma mudança de vida. Antes do rompimento da barragem, o empresário trabalhava fichado em Mariana e tinha uma estrutura de serviços mecânicos como renda extra. No Novo Bento Rodrigues, ele trabalha por conta própria após abrir, em janeiro, uma oficina na qual pode atender tanto clientes novos como aqueles que o acompanham há tempos, ainda que o estabelecimento precise de ajustes.

Ronaldo Sérgio Félix, proprietário da Leron Auto Mecânica | Crédito Macaca Filmes/Divulgação

Fundação Renova busca consolidar a autonomia dos locais

Ao todo, são nove estabelecimentos comerciais operando em Novo Bento Rodrigues, segundo a Fundação Renova, fora outros que estão em fase avançada de obras. A entidade também afirma que existem novos negócios no distrito que foram empreendidos pelos próprios moradores.

Conforme a instituição, as famílias que possuíam comércios ou decidiram empreender, dentre outros apoios, são atendidas desde o planejamento e a capacitação dos empreendedores, passando pela formalização e adequação às normas atuais, até o marketing digital para os seus negócios.

Atualmente, as ações da entidade estão concentradas, justamente, na consolidação da autonomia de Novo Bento Rodrigues e Paracatu. “O nosso foco daqui para frente será o fomento comercial dos dois distritos”, destacou o diretor de Engenharia e Obras da Fundação Renova, Wallace Ferreira, reiterando que a partir de 2025, após concluir os imóveis, a instituição vai monitorar os reassentamentos por mais cinco anos para auxiliar no desenvolvimento das comunidades.

*O repórter viajou para Novo Bento Rodrigues a convite da Fundação Renova

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