Confiança da indústria em MG cai ao menor nível para agosto em uma década

Com impacto duplo de um cenário desfavorável nos mercados nacional e internacional, o Índice de Confiança do Empresário Industrial de Minas Gerais (Icei) registrou o menor patamar mensal para agosto em uma década, atingindo 43,9 pontos. O número representa uma retração de 6,8 pontos frente ao mesmo período de 2024 e 1,1 ponto na comparação com julho de 2025.
A queda nos resultados evidencia o clima de incerteza entre os empresários no Estado, com o índice 8,5 pontos abaixo da média histórica (52,4 pontos). Os dados foram divulgados nesta terça-feira (19) pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Dentre os destaques observados no Icei, o subíndice que avalia as condições atuais da indústria diminuiu 2,6 pontos entre julho e agosto: de 39,9 pontos para 37,3 pontos. O resultado sinaliza uma percepção de piora por parte do setor, da situação da economia do País e de Minas Gerais, bem como dos respectivos negócios.
Também em queda, o componente de expectativas para os próximos seis meses confirma o pessimismo dos industriais quanto ao futuro. Em agosto, o indicador atingiu o valor mais baixo para o mês em 10 anos, passando de 47,5 pontos em 2024 para 45,5 pontos neste ano.
Análise do cenário
O resultado, segundo a economista da Fiemg, Daniela Muniz, pode ser explicado por uma conjuntura econômica adversa tanto no cenário doméstico, quanto no mercado externo. Internamente, a deterioração nas condições econômicas, como resultado de uma política monetária restritiva, deve permanecer ao longo do ano, com possibilidade de alteração apenas em 2026.
“Juros elevados – hoje a 15% ao ano – encarecem o crédito, aumentam o custo das empresas e desestimulam consumo e investimentos”, comenta.
Somado a isso, a alta inflação, hoje em 5,2% – acima da meta de 3%-, segue pressionando o orçamento familiar e afetando a demanda por bens industriais. Para a economista, embora medidas de estímulo fiscal, como a liberação de recursos do FGTS e a ampliação do crédito consignado para CLTs, tenham buscado sustentar o consumo, acabaram instigando o aumento dos juros pelo Banco Central, em meio ao quadro de endividamento elevado.
“Esse descompasso entre gastos fiscais e juros altos prolonga o ciclo de aperto monetário, gera incertezas sobre a economia e pesa sobre a confiança dos empresários”, acrescenta.
A surpresa positiva frente aos atuais desafios estaria no desempenho do mercado de trabalho formal. As oportunidades de emprego seguem se destacando no Estado, atingindo, no segundo trimestre de 2025, uma taxa de desocupação estimada em 4,0%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entretanto, o mercado já antecipa uma desaceleração no segundo semestre, com impacto a depender da efetividade de programas de incentivo dos governos federais e estaduais. “Além disso, o pagamento de precatórios pode impulsionar consumo nos próximos meses”, acrescenta a economista.
Maior integração internacional pode resgatar ciclo virtuoso e conter impactos do ‘tarifaço’
No cenário internacional, as incertezas comerciais, com impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, também tem gerado receio entre os empresários. O impacto, segundo Daniela Muniz, é ainda maior para setores que dependem de exportações. “A ausência de acordos com o Brasil e a imposição de tarifas adicionais acabou pesando na confiança nesse período”, explica.
Para mitigar os efeitos do tarifaço, o governo federal anunciou a liberação de R$ 30 bilhões em crédito, dentro de um plano de contingência voltado a setores mais afetados. O cenário, contudo, segue agravado, já que o Brasil enfrenta tarifas mais elevadas se comparado a outros países, e ainda não possui entendimentos com os Estados Unidos para uma eventual redução.
Outro desafio que também intensifica incertezas está atrelado a moderação do crescimento global, que deve reduzir a demanda externa por produtos brasileiros. “Essa combinação de fatores acabam minando confiança de industriais mineiros”, comenta a economista.
Para contornar esse cenário, uma maior integração internacional é prevista para os próximos anos, especialmente com a Reforma Tributária que promete reduzir a complexidade do sistema, aumentar a competitividade e tornar o ambiente de negócios mais atrativo a investimentos estrangeiros. A solução é vista como primordial para que o Brasil, hoje considerado uma das economias mais fechadas do mundo, avance com novos acordos globais.
“Já existem acordos em negociação com Mercosul e União Europeia. Isso representa oportunidades que podem resgatar o otimismo, especialmente em um contexto de reorganização de cadeias produtivas”, conclui Daniela Muniz.
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