Reunião do conselho da Vale termina sem decisão sobre futuro do CEO

Rio de Janeiro – O conselho de administração da Vale voltará a se reunir nos próximos dias em busca de uma definição sobre o processo de sucessão ou renovação de seu CEO, Eduardo Bartolomeo, após uma reunião extraordinária ter terminado nesta quinta-feira (15) de forma inconclusiva, informou a empresa em nota.
No comunicado enviado à imprensa, a companhia disse que as informações foram passadas pelo presidente do colegiado da Vale, Daniel Stieler.
No início do mês, a mineradora afirmou em nota que a decisão de seu conselho, que tem competência exclusiva para decidir sobre a escolha do presidente da companhia, poderá ocorrer até o término previsto do atual mandato de Bartolomeo, em 26 de maio.
Conselho da Vale está dividido
Dos 13 membros do colegiado, seis votaram a favor da recondução de Eduardo Bartolomeo, cujo mandado de CEO termina em 26 de maio, outros seis votaram a favor da abertura de processo de sucessão e um último voto optou pela abstenção, segundo duas fontes com conhecimento do tema, que falaram na condição de anonimato.
“Houve um empate em seis a seis na reunião do conselho, e não há uma data para nova deliberação. Independentes e japoneses (conselheiros que integram o bloco no qual está a sócia Mitsui) estão a favor (do Bartolomeo). O que se tem agora é um impasse”, afirmou uma das fontes.
A fonte acrescentou que resolver este impasse será desafiador.
O voto de abstenção foi de Luis Henrique Guimarães, indicado pela Cosan – acionista relevante da Vale – no conselho e considerado nos bastidores como um dos candidatos à presidência da Vale. Guimarães foi CEO da Cosan, onde permanece como conselheiro.
As ações da companhia operavam em alta de mais de 3,50% na tarde de sexta-feira (16), enquanto o Ibovespa tinha ganho de 0,6%, por volta das 15h20.
O conselho da Vale tem competência exclusiva para decidir sobre a escolha do presidente da companhia. No entanto, nos bastidores, o governo federal vem buscando meios de influenciar na escolha.
No início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou emplacar seu ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na liderança da Vale, conforme a Reuters publicou na ocasião com fonte próxima do assunto, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu publicamente as qualificações dele para ocupar um cargo na empresa.
No fim do mês passado, porém, Silveira recuou e negou que o presidente tenha tratado sobre sucessão na Vale e afirmou que Lula “nunca” se disporia a fazer interferência em uma empresa com capital aberto.
Lula, por sua vez, vem fazendo críticas públicas à atuação da Vale nos trabalhos de reparação e compensação pelos rompimentos de barragens da Samarco – joint venture da Vale com a BHP – e da própria Vale, em 2015 e 2019, respectivamente.
Mas, nos bastidores, o que se fala é que Lula gostaria de um presidente que tivesse maior interlocução com o governo.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a substituição de Bartolomeo ganhou apoio dos dois conselheiros indicados pela Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), Daniel Stieler e João Luiz Fukunaga, e pelo indicado pelo Bradesco, Fernando Jorge Buso Gomes.
Trajetória do CEO da Vale
Bartolomeo assumiu a presidência da Vale primeiramente de forma interina em 2019, deixando o cargo de diretor de Metais Básicos da empresa, no Canadá, após afastamento do então presidente Fabio Schvartsman, que liderava a companhia quando houve o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em janeiro daquele ano.
Bartolomeo foi eleito em seguida definitivamente pelo conselho como CEO, a partir de uma lista preparada pela empresa internacional de seleção de executivos, Spencer Stuart, em conformidade com a governança da companhia.
O mandato de Bartolomeo ficou marcado pela busca por maior segurança nas instalações da companhia, com um plano para o descomissionamento de barragens de maior risco, além de um trabalho para a reparação de danos.
Do lado operacional, a gestão de Bartolomeo tem buscado valorizar qualidade do minério de ferro sobre volumes, tirando vantagens do produto da Vale com maior teor do que o dos concorrentes, além de investir em iniciativas na criação de materiais com maior valor agregado.
Bartolomeo também conseguiu efetivar uma separação da unidade de metais básicos da Vale, em busca de destravar valor diante das perspectivas para o crescimento da demanda de matérias-primas para baterias de carros elétricos com a eletrificação.
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