Economia

Construção civil vive apagão de mão de obra em Minas Gerais

Preocupação entre os empresários da construção civil é a mais alta em 10 anos da série histórica
Atualizado em 24 de maio de 2024 • 13:11
Construção civil vive apagão de mão de obra em Minas Gerais
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A construção civil vive um apagão de mão de obra em Minas Gerais. O alto desempenho do setor e a mudança de comportamento do trabalhador que se desinteressa, cada vez mais, pela carteira assinada, são alguns dos motivos para a situação. O desempenho do mercado formal da construção civil foi apresentado nesta sexta-feira (24), em Belo Horizonte, pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).

Para o presidente do Sindicato, Renato Ferreira Machado Michel, só com treinamento e capacitação será possível amenizar o problema. “Não tem mão de obra disponível para contratação no mercado da construção civil, vamos precisar investir muito na capacitação e no treinamento dos jovens para ingressar no mercado de trabalho e para progredir em carreira no mercado da construção civil”, disse.

De acordo com sondagem realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), este é realmente o principal problema do setor. Na visão de 28,2% dos empresários de todo o País, o índice mais alto entre as preocupações é a falta ou o alto custo do trabalhador qualificado.

A preocupação alcançou, dessa forma, o maior número da série histórica. Em 10 anos, é a primeira vez que este item se qualifica como a maior preocupação dos empresários. “A elevada carga tributária é outro item importante, com 28,1%, e sempre esteve presente, mas nunca a preocupação com a mão de obra foi tão relevante”, explica a assessora econômica do Sinduscon-MG, Ieda Vasconcelos.

Presidente do Sinduscon-MG, Renato Michel, e a assessora econômica Ieda Vasconcelos
Presidente do Sinduscon-MG, Renato Michel, e a assessora econômica Ieda Vasconcelos | DIÁRIO DO COMÉRCIO/ Juliana Sodré

O presidente do sindicato, Renato Michel, lembrou, ainda, que em outros momentos as preocupações eram com as taxas de juros, que continuam sendo importantes para o setor, e a alta dos preços do material de construção. Porém, o alto número de contratações que o setor vem fazendo desde 2020 em função do bom desempenho da construção civil no pós-pandemia, fez as preocupações mudarem. 

“Precisamos de políticas estratégicas para solucionar esta questão. Me preocupa muito o futuro da construção diante deste desafio que a gente tem que é a inclusão de novos trabalhadores. Na minha visão, isso vai passar fundamentalmente pelo treinamento e pela capacitação”, comenta o presidente.

29% dos contratados em Minas têm entre 18 e 24 anos

De acordo com os dados apresentados pelo Sinduscon-MG, no primeiro trimestre deste ano, dos 13,3 mil contratados pelo setor em Minas gerais, 3,8 mil (29%) estão na faixa de 18 a 24 anos. “São jovens ainda sem experiência ou vindos de outros setores que precisam ser treinados e capacitados para as atividades da construção”, diz.

O presidente ressalta o baixo nível de mulheres trabalhando na construção civil e aponta o incentivo da inclusão delas como uma das soluções para o desafio da falta de mão de obra. Do montante empregado de janeiro a março, 1.087, ou seja, menos de 10%, eram mulheres. “Precisamos delas não só nos cargos gerenciais mas, principalmente, nos canteiros de obra. Queremos mulheres pedreiras, carpinteiras e pintoras”, pontuou Michel.

Setor quer contrapartida compatível

Outra reivindicação do presidente do Sindicato é a contrapartida da contribuição compulsória do setor para o Sistema S. De acordo com ele, as empresas da construção civil de Minas Gerais contribuem com cerca de R$ 230 milhões para o sistema anualmente, e não têm recebido retorno de forma proporcional.

“O que eu não admito é recolher um dinheiro para um sistema que foi criado para treinar, no caso do Sesi, e capacitar, no caso do Senai, e mesmo assim vivermos um apagão de mão de obra. Esse é o nosso clamor, que o setor da construção civil, que representa cerca de 25% da mão de obra do Estado, receba em contrapartida um valor compatível com sua contribuição. Não queremos nem mais, nem menos. Na nossa visão, não temos sido atendidos adequadamente”, defendeu Renato Michel.

Presidente do Sinduscon-MG é expulso de conselho da Fiemg

A declaração acontece um dia após o presidente do Sinduscon-MG ser expulso do Conselho de Representantes durante Assembleia Geral da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), realizada na noite dessa quinta-feira (23).  Para a Fiemg, o presidente infringiu o artigo 37 do Estatuto, que prevê a eliminação de membros representantes de Sindicatos no referido Conselho por má conduta e violação de normas internas vigentes.

A Fiemg alega que, em reunião realizada na Superintendência Regional do Trabalho, Renato Michel mencionou que os recursos do Sesi/Senai deveriam ser divididos entre os Sindicatos Laborais. E, também, na visão da entidade, o presidente do Sinduscon-MG orientou Hélcio Neves a votar pela abstenção em uma reunião realizada no Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) sobre a aprovação de uma Moção de Repúdio à Fiemg.

Sobre a expulsão, o presidente repercutiu: “Por melhores que sejam as intenções dos gestores, na prática, não tem funcionado. O que a gente vê é incompatível com o valor que a gente deposita. É preciso transparência quanto ao volume de recursos repassados ao Sistema S, bem como maior participação do Setor da Construção na formulação de políticas e estratégias que atendam às suas demandas”, destaca o presidente do Sinduscon-MG.

Procurada pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, em nota publicada sobre o assunto, a entidade informou que, “após uma apuração minuciosa, cuidadosa e transparente e aprovação em assembleia de Conselho de Representantes da FIEMG, ficou constatado que o representante do Sinduscon-MG cometeu infrações que ferem o estatuto da instituição. Sobre o desligamento, dos 100% dos votantes apenas duas pessoas votaram contra, sendo uma delas o próprio delegado do Sinduscon-MG”.

A entidade ressalta ainda que “a eliminação diz respeito somente a pessoa física do Sr. Renato perante o Conselho de Representantes da Fiemg, podendo o Sinduscon-MG indicar imediatamente seu substituto.”

Quanto aos repasses a instituição não se manifestou.

Minas Gerais é o segundo Estado que mais tem vagas na construção civil

Ainda de acordo com o desempenho do mercado formal da construção civil apresentado pelo Sinduscon-MG, Minas Gerais é o segundo estado do País que mais gera vagas no setor, perdendo apenas para São Paulo. Nos primeiros três meses do ano, 13,3 mil vagas foram geradas em Minas e 37 mil em São Paulo que, historicamente, emprega mais.

Os números de contratações nos primeiro trimestre em Minas Gerais já se equiparam com o total de contratações de todo o ano de 2023, quando o Estado gerou 13.353 novos postos de trabalho. A alta na empregabilidade reflete o bom momento do setor, que apresenta um alto volume de construções desde a pandemia.

Em 2023, Minas ocupava o terceiro lugar no ranking dos estados que mais empregam e, agora, já no primeiro trimestre do ano, superou o Rio de Janeiro.

Ainda de acordo com o relatório, o município de Belo Horizonte é o terceiro do País a gerar mais vagas na construção em todo o Brasil, sendo responsável por 2.886 postos de trabalho. A capital mineira perde apenas para a cidade de São Paulo, que gerou 16,2 mil vagas, e Rio de Janeiro (6,9 mil vagas).

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