Economia

Corrente comercial entre Minas e Argentina atinge US$ 3,035 bilhões

O país vizinho é, tradicionalmente, um dos maiores parceiros comerciais de Minas Gerais e do Brasil
Corrente comercial entre Minas e Argentina atinge US$ 3,035 bilhões
A chamada plataforma automotiva movimenta o comércio bilateral entre Minas Gerais e Argentina, segundo Câmara de Comércio Argentino-Brasileira | Crédito: Washington Alves/Reuters

O segundo maior país da América do Sul em território e o terceiro em termos de população também é um dos maiores parceiros comerciais de Minas Gerais. A relação entre o Estado e a República Argentina, como é conhecida oficialmente, costuma ser tão positiva que, frequentemente, o país vizinho aparece entre os primeiros colocados no ranking de exportações e de importações dos mineiros. 

O pico deste relacionamento se deu nos anos 2010, quando a corrente comercial, ou seja, a soma dos embarques e desembarques, alcançou os números mais expressivos. O recorde foi em 2011, no momento em que o montante atingiu a marca de US$ 4,510 bilhões. Nos anos seguintes, embora não tão altos, os negócios permaneceram significativos. Até que chegou a pandemia. 

Com o início da crise sanitária e a consequente incerteza mundial, a somatória das exportações e importações entre Minas Gerais e Argentina chegou, em 2020, a US$ 1,246 bilhão, o menor resultado apurado desde 2005 (US$ 1,086 bilhão). Embora o período pandêmico tenha se estendido, os números voltaram a crescer nos dois anos posteriores, sendo 2022, o auge do crescimento.

Conforme o levantamento feito pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, com base nos dados do Comex Stat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a corrente comercial entre o Estado e a terra do Papa Francisco alcançou, no ano passado, US$ 3,035 bilhões, o maior valor desde 2014 (US$ 3,207 bilhões). Mas os destaques do ano não param por aí. 

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Se analisados separadamente, o montante de embarques e desembarques também foi expressivo. De acordo com os dados, as exportações mineiras para a Argentina alcançaram US$ 1,836 bilhão, a maior quantia desde 2013 (US$ 2,083 bilhões). Já os itens argentinos que vieram para Minas somaram US$ 1,198 bilhão, o maior valor desde 2018 (US$ 1,357 bilhão). 

Durante o período, as principais mercadorias exportadas pelo Estado para o país vizinho foram chapas de ferro e aço; peças de veículos especiais e carrocerias; café; zinco; motores e produtos de alumínio. Os principais objetos importados foram automóveis de uso misto; motores; plásticos; farinhas; malte; produtos com cacau e autopeças. 

O presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira (Camarbra), Federico Servideo, destaca que, tradicionalmente, a chamada plataforma automotiva, que inclui veículos leves, pesados e autopeças, tende a ser top três tanto em exportações quanto importações. Isto porque a cadeia produtiva do setor é integrada. 

Segundo ele, o fato das chapas de ferro e aço terem ocupado o primeiro lugar dos embarques foi um caso particular. “O que aconteceu é que a Usiminas, que é parte de um grupo ítalo-argentino, está assinando um contrato muito importante para construir um gasoduto na Argentina. Isso provocou este incremento. Mas são situações, por enquanto, pontuais”, diz. “Já a plataforma automotiva é algo que sempre tem sido um componente importante na participação da relação comercial”, salienta. 

Outro importante indicador observado se refere ao saldo da balança comercial, ou seja, a diferença entre o total exportado e o importado. Em 2022, o resultado do saldo foi um superávit de US$ 638,6 milhões, o maior desde 2017 (US$ 918,3 milhões). O dado ainda equivale a quase três vezes ao acumulado do ano anterior (US$ 265,4 milhões). 

Relação Brasil-Argentina 

Assim como a relação comercial entre Minas Gerais e Argentina, os negócios entre o Brasil e o país vizinho passaram por momentos bons e ruins nos últimos anos. Conforme Servideo, apesar do recorde em 2012 (quase US$ 38 bilhões), já houve tempos em que a corrente comercial não chegava a US$ 20 bilhões. 

“A relação comercial sempre se viu afetada pelas circunstâncias domésticas dos países. Teve momentos de auge, em 2011 e 2012, e teve momentos de queda significativa e, notadamente, no ano da pandemia”, explica.

Uma das situações econômicas negativas que resultou no recuo dos negócios se trata das restrições argentinas às importações, medida imposta para tentar conter a desvalorização da moeda local contra o dólar em meio a crise econômica que o país atravessa

Apesar de todas as adversidades, os números entre Brasil e Argentina também cresceram nos últimos dois anos. Em 2022, por exemplo, houve um aumento de mais 29% nas exportações brasileiras para o país e quase 10% nas importações, o que fez com que a corrente comercial alcançasse US$ 28,46 bilhões. Os dados são do balanço divulgado pelo MDIC. 

“Está começando a ter uma retomada e se espera que com um maior alinhamento político entre o governo Lula [presidente do Brasil] e o governo Fernández [presidente da Argentina], esse incremento da relação comercial, que já se acentuou em 2022, continue e acelere em 2023”, afirma o presidente da Camarbra.

Fomento ao comércio 

Para estimular o comércio entre mineiros e argentinos, o Consulado Geral da República Argentina para o Estado, realizou algumas atividades recentemente. Uma delas se trata de um showroom de vinhos argentinos para a exposição de diversos rótulos. No evento, que contou com o apoio da Embaixada do país no Brasil e da Wines of Argentina, houve a realização de rodadas de negócios entre empresários de Minas interessados e as vinícolas argentinas.

O Consulado também esteve na Feira Superminas com um estande institucional. No local, foram demonstrados os produtos que a Argentina tem para oferecer e foram recebidas numerosas consultas de supermercadistas mineiros interessados. Houve ainda a participação em atividades de promoção do turismo argentino, para que agências do Estado ofereçam oportunidades aos mineiros de conhecerem as províncias de Salta, Jujuy e Tucumán, no norte do país.

Outro esforço do Consulado foi para estabelecer parcerias para redução de custos da logística dos produtos. Nesse sentido, conta com um acordo com a empresa Tora para que os itens argentinos ingressem ao mercado mineiro com um desconto de 15% nos serviços logísticos.

Em conjunto com o governo estadual, existe uma ação para identificar oportunidades que facilitem investimentos para startups de ambos os países. Com a Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Invest Minas), há troca de informações e avaliação de possíveis parcerias. 

No ano passado, o cônsul-geral visitou as cidades de Betim, Uberlândia, Uberaba, Araxá e Juiz de Fora, mantendo reuniões com prefeituras, associações empresariais e empresas.

A nível federal, o presidente da Camarbra afirma que existem algumas entidades que ajudam e apoiam as médias empresas brasileiras que desejam avançar na Argentina. Segundo ele, esse seria o caminho lógico para aqueles que querem iniciar um processo de internacionalização. Servideo ressalta, no entanto, que o momento atual é complicado em função da crise argentina. 

“O grande problema que hoje existe é que com todas essas restrições da Argentina, exportar para lá é complexo, porque você tem um problema para receber. E não é porque o comprador argentino não terá dinheiro, mas porque ele tem que ter um conjunto enorme de autorizações para pagar. Então, para aquele que quer iniciar uma jornada de exportação para a Argentina o momento tem uma certa complexidade”, explica.

Ele complementa: “Mas tenho visto muitas iniciativas de estudo do mercado às oportunidades e também para entender como se faz para exportar e quais são os mercados potenciais que podem estar interessados. Porém, sempre com um pé atrás no momento de implementar o projeto pela própria dificuldade que existe hoje na Argentina”.

No caminho inverso, ele afirma que tem visto muito esforço das autoridades diplomáticas, consulados e dos próprios entes do Ministério da Fazenda do país para incrementar significativamente as exportações para o Brasil. 

“Tenho visto muito interesse dos responsáveis de fomentar essa relação bilateral e tem tido um bom resultado, pois em Minas tem aumentado e a nível do Brasil, como um todo, também. Esperamos que essa tendência se acelere em 2023 para frente”, diz.

Ainda segundo ele, a intenção não é que os produtos argentinos avancem sobre os itens brasileiros mas, sim, que ao invés do Brasil comprar de um outro mercado com um preço mais elevado, compre da Argentina.

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