Economia

Corte de árvores para a realização da Stock Car em Belo Horizonte causa revolta

O Comam aprovou, na última quarta-feira (21), o corte de 63 árvores na região da Pampulha
Corte de árvores para a realização da Stock Car em Belo Horizonte causa revolta
O objetivo da remoção é proporcionar mais segurança aos pilotos | Crédito: PBH / Reprodução Licitação

A aprovação do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) para o corte de 63 árvores na região da Pampulha para a realização da etapa de Belo Horizonte da Stock Car Pro Series tem gerado revolta em uma parcela da população. Desde a votação, realizada nessa quarta-feira (21), políticos e instituições ligadas à causa ambiental vêm demonstrando insatisfação com o resultado da votação dos conselheiros, cujos votos foram dez a favor e apenas dois contrários à ação.

O fundador e coordenador da Associação Bora Plantar, César Pedrosa, relata que a reunião de votação, realizada on-line, foi marcada por um ambiente pesado, com pressão de ambos os lados. “O número de pessoas que era contra a supressão das árvores era muito maior. Houve uma pressão enorme durante toda a reunião por meio de mensagens de texto e de manifestação tentando pressionar os conselheiros a não votarem a favor da decisão”, afirma.

Ele reforça que a instituição não é contrária à realização do evento na capital mineira. Para eles, a corrida deveria ocorrer em outros lugares da cidade ou em municípios da Região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). “O evento é importante do ponto de vista econômico, ninguém tem dúvida disso. Nós só queremos que a corrida seja levada para outro local mais apropriado e que seja realizada da forma mais planejada possível, porque o evento está sendo feito a toque de caixa”, completa.

O coordenador da ONG afirma que ainda espera que a corrida possa ser levada para a Cidade Administrativa ou até mesmo para o antigo Aeroporto Carlos Prates. Mas admite que as chances disso acontecer são poucas. “Já que ela vai ocorrer aqui, que seja em um lugar que não tenha tanto impacto quanto está sendo agora, essa ao lado do Mineirão”, declara.

Pedrosa avalia que os organizadores estão tratando a corrida como um simples evento, quando, para ele, na verdade, trata-se de um empreendimento de alto impacto. “Vai recapear toda a pista, vai tirar a calçada, o canteiro central e tirar as árvores, além dos postes de iluminação, ou seja, é um empreendimento muito grande”, destaca.

Ele ressalta que todos estão olhando apenas para os benefícios da chegada da Stock Car para a Capital, sem levar em consideração os pontos negativos da realização do evento na região da Pampulha.

“Ninguém está considerando os malefícios do ponto de vista socioambiental. É uma pista de corrida passando ao lado de um hospital veterinário, muito próximo a centros de pesquisas que são sensíveis ao ruído e ao lado de uma mata de preservação permanente, retirando essa quantidade de árvores”, aponta.

Quanto à proposta de medida compensatória, que prevê o plantio de 688 árvores, Pedrosa esclarece que, apesar de parecer algo positivo, a ideia pode acabar se tornando uma ilusão. Ele aponta para algumas questões que podem atrapalhar esse plano. Dentre elas, está a falta de investimentos em manutenção regulares durante o período de crescimento das árvores.

“Depois que passar o evento, eles não vão nem querer saber como estará o plantio de compensação. Isso é feito da mesma maneira por todas as construtoras que fazem empreendimentos, elas somem depois do plantio. É uma luta para conseguir fazer com que elas paguem as manutenções”, relata.

Segundo ele, sem as manutenções, as novas árvores correm o risco de serem vandalizadas ou queimadas e as mudas podem parar de crescer devido à competição com o capim alto, que também aumenta os riscos de incêndio. “Ou seja, no final das contas, se não houver manutenção, um incêndio pode comprometer totalmente as mais de 500 mudas. Então você deixa de ter as que foram cortadas e não tem mais nenhuma daquelas que foram compensadas. Isso acontece com muita frequência nesses grandes plantios de compensação”, completa.

Judicialização do debate

Para o coordenador da Associação Bora Plantar, existe grande risco do debate seguir para a justiça, principalmente após a decisão do Comam. Ele revela que existem pessoas e organizações, como os defensores dos animais, que já estão se mobilizando para entrar com uma ação contra a decisão.

“Isso vai ser judicializado, não tenha dúvidas. Eu percebo que os empreendedores querem fazer o evento na Pampulha, por causa do apelo turístico, de ser do lado do Mineirão e do passado, quando tinha corridas ali. Eles querem voltar com as corridas para o mesmo lugar. Eles estão pouco flexíveis para levar para outra região”, avalia.

Pedrosa ressalta que os empresários defendem a necessidade da remoção por um motivo de segurança dos pilotos. Portanto, esse debate deve chegar à Justiça e ao Ministério Público. Porém, o resultado final dessa disputa será difícil de prever.

Dentre os principais nomes trabalhando na causa está a deputada federal Duda Salabert (PDT), que em suas redes sociais fez duras críticas ao prefeito da cidade e anunciou ter entrado com um mandado de segurança na Justiça com o objetivo de impedir o corte de árvores no entorno do Mineirão.

Ela também entrou com uma ação no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) para barrar uma licitação que destinará mais de R$ 20 milhões em investimentos para a realização da prova na capital mineira. “A licitação ocorreu sem prévio licenciamento ambiental e sem prévia anuência da prefeitura de BH e do Iphan, além de inúmeras irregularidades”, afirma.

A deputada destaca que não está sendo contrária à realização do evento na cidade e reconheceu sua importância para a economia local, com um impacto econômico de até R$ 284,6 milhões ao longo de cinco anos, segundo cálculos realizados pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

“Só não podemos permitir que a prefeitura faça, de modo irresponsável, uma licitação repleta de irregularidades para matar quase uma centena de árvores e gerar impactos socioambientais irreparáveis em Belo Horizonte”, completa.

Já a Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) anunciou que irá realizar uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana na próxima segunda-feira (26) para solucionar algumas questões sobre os impactos provocados pela realização de uma corrida de Stock Car na Capital.

Dentre as instituições convocadas para o debate estão organizações defensoras dos animais; associações de moradores; a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica; e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além de representantes das Secretarias Municipais de Meio Ambiente, de Política Urbana e de Obras e Infraestrutura. A audiência foi um pedido do vereador Wagner Ferreira (PDT) e quem estiver interessado em participar poderá encaminhar perguntas, comentários e sugestões por meio do formulário já disponível.

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