Cotação do ouro desaba com alta do juro nos EUA

O aumento da taxa de juros nos Estados Unidos tem tornado os investimentos em títulos do Tesouro americano, os Treasuries, mais atrativos e fazendo com que haja fuga do ouro. O metal precioso, que superou a barreira dos US$ 2.000 a onça-troy diante da guerra entre Rússia e Ucrânia e da pandemia de Covid-19, já é negociado abaixo de US$ 1.750 a onça-troy. Os rumos do metal são incertos e dependerá dos juros americanos. Se uma alta mais significativa nos juros americanos acontecer, o preço do metal pode recuar ainda mais.
De acordo com o especialista da Valor Investimentos Gabriel Meira, hoje, em se tratando do ouro, há uma fuga de capital. “Em cenário de risco e de incertezas, tem maior compra do metal. Vimos isso acontecendo com a guerra entre Rússia e Ucrânia e até mesmo com a pandemia de Covid-19, quando o ouro chegou a ir acima de US$ 2.000 a onça-troy. Mas, hoje, já está cotado abaixo de US$ 1.750. Essa queda é muito pelo aumento da taxa de juros nos Estados Unidos”, explicou.
Ainda segundo Meira, no momento, o metal está tentando se estabilizar, mas o destino efetivo será conhecido na semana que vem, com a definição da taxa básica de juros nos EUA.
“Conforme as análises de mercado, caso a alta de 0,75 ponto nos juros norte-americanos se concretize, a tendência é que o preço do ouro se estabilize, caso seja maior, é possível que a cotação do metal caia”.
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A interferência do aumento dos juros na cotação do ouro ocorre pelo metal ser uma renda variável e a oportunidade de investir no tesouro americano é mais segura e atrativa.
“Aumentando os juros nos EUA, que é a maior economia do mundo e com risco zero, há uma fuga de capital muito grande ao redor do globo. Você tem uma fuga de capital de todos os países e de todas as classes de investimento. Por isso, temos, nos últimos meses, uma Bolsa de Valores sofrendo no Brasil e, até mesmo, nos Estados Unidos, por conta dessa alta dos juros”.
Meira explica que o ouro pode ser interessante para proteção da carteira de investimentos, mas que ele deve ser apenas uma parcela. “Investir no ouro como proteção de carteira pode sim fazer sentido, mas seria um percentual menor exatamente como proteção”.
Para o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, a tendência do preço do ouro até o final do ano é de estabilidade.
“A tendência é de preços oscilando entre R$ 270 e R$ 300, o grama. A queda observada de janeiro até o momento deve-se, basicamente, à alta da inflação global, acelerando a elevação dos juros, principalmente, nas maiores economias do mundo. Por isso, os preços devem permanecer nesse mesmo patamar até o final do ano, a não ser que tenhamos novidades internas ou externas que façam o preço oscilar fora desses números expostos”, disse.
O economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena explica que a queda dos preços do ouro e de outras commodities aconteceu, basicamente, pelo distensionamento na Rússia. Apesar de na prática a situação do conflito ser bem complexa, acordos foram feitos para a liberação de grãos, de outros metais e produtos da região.
“Isso fez com que aumentasse a quantidade de transportes internacionais, principalmente, de navios, houve queda dos fretes, reduzindo de forma geral o índice das commodities. Então, uma das causas da queda dos preços é essa”.
Movimento pode se inverter
Lucena ressalta que não há dúvidas de que esse movimento pode se complicar nos próximos meses, o que, se confirmado, pode elevar os preços do metal.
“Estamos vendo uma crise se intensificando ainda mais na Europa por causa da energia elétrica, o que pode aumentar os preços das commodities. Há também o fato de que a Rússia vem perdendo espaço na Ucrânia e a gente pode assistir mais sanções ao país. Então, apesar do movimento de baixa no preço do ouro no momento, a tendência é de alta nos próximos meses. Porque teremos intensificações das sanções contra os russos, que vão retaliar a Europa, o que pode pressionar as commodities”.
Outra tendência até o final do ano é a deterioração da Rússia pela falta de reservas no Banco Central, o que, segundo Lucena, fará com que o lastro do ouro seja utilizado.
“Dentro deste conceito, apesar de estarmos vendo um viés de queda, acredito que, no longo prazo, a tendência do ouro é de valorização, porque os conflitos geopolíticos continuam bastante intensos e se espalhando. Hoje, impactam também na União Europeia, que é uma grande produtora e consumidora de ouro. Além disso, há outras nações, como a Suíça, que volta a sua produção total de relógios, player importante nesse mercado. Aumentando a produção de relógios de luxo, que utilizam muito ouro, também pressiona os preços ”.
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