Economia

Ampliação do crédito consignado para trabalhador CLT divide opiniões

Especialistas se preocupam com o aumento do endividamento em um cenário de acesso ao crédito a juros reduzidos
Ampliação do crédito consignado para trabalhador CLT divide opiniões
Na avaliação da Febraban, nova plataforma deverá fazer decolar o crédito consignado privado | Crédito: Marcos Santos / USP Imagens

Em um cenário de altas recorrentes na taxa de juros, o governo federal está estudando a implementação de uma plataforma que viabilizaria o crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada (CLTs). A medida divide opiniões entre especialistas, que se preocupam com o aumento do endividamento em um cenário de acesso ao crédito a juros reduzidos.

Recentemente, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), participou ao lado dos ministérios da Fazenda e do Trabalho e Emprego das discussões para o lançamento da plataforma. Durante o encontro, o presidente da entidade, Isaac Sidney, avaliou que a ferramenta permitirá uma ampliação do acesso ao crédito consignado a partir de uma gestão centralizada que resolverá um grande gargalo do setor.

“Nós confiamos que a partir de uma plataforma que possa centralizar a gestão do crédito consignado entre empresa, banco e trabalhador, teremos um grande potencial de fazer com que o crédito consignado privado possa decolar no Brasil”, destaca o dirigente.

Na avaliação do economista e docente do UniBH, Fernando Sette Jr, a iniciativa é um primeiro movimento do governo para trazer o trabalhador da informalidade para a formalidade via CLT. Além disso, a medida é apontada como um caminho saudável para aumentar o consumo e manter a economia aquecida em um cenário de juros altos.

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Para o economista, a segurança do modelo de consignado minimiza os riscos de inadimplência, já que a modalidade avalia a oferta de crédito a partir das garantias profissionais individuais influenciadas pelo tempo de empresa, como o FGTS e a multa rescisória. “O risco de inadimplência é mínimo porque o consignado retira direto no salário com limite de 30%. Se o trabalhador não pagar, o banco poderá utilizar tanto o FGTS quanto a multa rescisória para regularizar”, pontua.

Além do acesso ao crédito, Sette Jr avalia que o benefício poderá contribuir com o gargalo de mão de obra qualificada em determinados setores, além de incentivar trabalhadores e permanecerem por mais tempo nas empresas. “Há uma tendência de o trabalhador querer ficar na empresa, já que quanto maior o tempo, maior a multa rescisória e consequentemente maior acesso ao crédito ele poderá ter”, avalia.

Medida poderá colapsar contas familiares e beneficiar plataformas de apostas

Por outro lado, o economista e professor da Fundação Dom Cabral, Eduardo Menincucci, aponta que a medida poderá alavancar o endividamento familiar e colapsar as contas de muitas famílias. Segundo ele, há uma apreensão de que recursos poderão ser utilizados de forma não-responsável em bens de consumo supérfluos, além da injeção do dinheiro em plataformas digitais, incluindo casas de apostas – as famosas “Bets”.

No atual contexto social e econômico, o economista considera que a idealização da plataforma no é inoportuna e dificilmente resultará em benefícios financeiros para o País. “O crédito é um motor da economia para investimentos e aquisição de bens duráveis, como imóveis. Não é o momento de se falar de ampliação de crédito a menos que consigamos passar para setores que realmente necessitam, como o imobiliário”, destaca.

Além disso, Menincucci reforça a importância de diálogos efetivos com a justiça trabalhista, além de transparência na comunicação com os trabalhadores, já que o montante solicitado comprometerá a renda das pessoas. “Tenho receio de que ofereçam o crédito consignado CLT como benefício trabalhista. Se não for muito bem costurado, isso pode no futuro refletir até mesmo em uma sobrecarga judicial”.

Para o médio e longo prazo, o cenário ideal passa pelo investimento na educação financeira nas escolas. Os especialistas são unânimes quanto ao impacto da compreensão de conceitos básicos, como orçamento pessoal, juros, taxas e o impacto das dívidas para o equilíbrio orçamentário das próximas gerações. “Tenho um sonho otimista de que, a médio e longo prazos, se criarmos uma consistência de educação financeira, incluindo nas escolas públicas, haverá um futuro melhor para o Brasil”, conclui Menincucci.

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