Exportações de cidades mineiras aos EUA recuam, mas indústria mostra resiliência

As principais cidades exportadoras de Minas Gerais sentiram o impacto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. Nos últimos dois meses, os embarques de municípios como Sete Lagoas, Araxá, Belo Horizonte e Confins recuaram, em média, 46%, mobilizando indústrias a venderem no mercado interno ou buscar novos acordos para contornar desafio.
Entre agosto e setembro do ano passado, a receita dos seis maiores exportadores (Sete Lagoas, Guaxupé, Araxá, Varginha, Belo Horizonte e Confins) totalizou US$ 418,8 milhões, enquanto no mesmo período desse ano, o montante caiu para US$ 186,3 milhões. Os dados foram disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Principal exportador neste bimestre no ano passado e sexto maior município em envios para os Estados Unidos em 2024, Confins apresentou queda de quase 100% nos envios nos últimos dois meses. Em um ano, a receita bimestral com exportações caiu de US$ 99,4 milhões para apenas US$ 70 mil, saindo da liderança para a 88ª posição no Estado.
O município exporta, principalmente, produtos do segmento de máquinas e aparelhos, materiais elétricos e derivados, um dos mais afetados pela tarifação. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) estima, inclusive, uma retração de 30% nas exportações para os Estados Unidos neste ano.

Também em queda, a exportação de Sete Lagoas saiu de US$ 83,4 milhões em agosto e setembro de 2024 para US$ 26,4 milhões no mesmo período desse ano. O recuo, estimado em 68,3%, afeta os principais produtos da cidade, como ferro-fundido, ferro e aço, que são os carros-chefes da economia local.
Em Belo Horizonte, as exportações despencaram mais de 50% no último bimestre, saindo de US$ 77,1 milhões em 2024 para US$ 32,5 milhões em agosto e setembro deste ano. Apesar do ferro e aço corresponderem por mais de 80% dos envios da capital mineira, outros setores contribuem para a diversificação da economia local e minimizam efeitos, como o segmento de instrumentos e aparelhos de ótica, fotografia ou cinematografia, que, no período, atingiu US$ 2,1 milhões em envios aos norte-americanos.
Na avaliação da analista de Negócios Internacionais do Fiemg, Verônica Winter, alguns recuos expressivos podem estar atrelados a empresas que anteciparam as exportações e formaram estoques, temendo os impactos da elevação das tarifas. Por outro lado, outros setores, como celulose, seguraram as exportações no período e já normalizaram os envios após conquistar a isenção.
“Cada setor tem sua particularidade. Mercados, como ferro-gusa, são mais complicados de diversificar negociações no curto prazo e precisam de estratégias para mitigar esses efeitos”, explica.
A analista também explica que outros segmentos, como o setor aeronáutico, que possui forte presença em Minas Gerais, são marcados pela sazonalidade nas exportações, a depender de contextos econômicos. “São produtos de alto valor agregado e tendem a apresentar maior variação nas exportações, a depender do mês”, acrescenta.
Mobilidade para buscar novos mercados favorece exportadores de café
Embora Minas Gerais tenha apresentado retração nas exportações, especialmente no setor mineral, duas das principais exportadoras conseguiram manter resultados favoráveis. No último bimestre, Varginha apresentou estabilidade mantendo o montante na casa dos US$ 41 milhões frente a agosto e setembro de 2024, enquanto Guaxupé saltou de US$ 55,2 milhões para US$ 58 milhões no mesmo período.
Ambas as cidades possuem como principal commodity o café, que corresponde por mais de 90% do montante exportado em Varginha e chega a 100% em Guaxupé.
Segundo Verônica Winter, segmentos como o cafeeiro possuem maior mobilidade para diversificar negociações e buscar outros mercados. “O café possui maior demanda global e pode ser redirecionado facilmente para outros países, como Alemanha, Itália e Japão”, pontua.

Outra alternativa encontrada é a revenda no mercado interno para mitigar os impactos imediatos. Muitas empresas têm buscado ampliar a presença em varejistas e e-commerces nacionais, ajustando os estoques e diversificando os canais de venda.
Cidades mantêm otimismo, ancoradas na tecnologia e bens de alto valor agregado
Quanto ao futuro, a analista ressalta que as expectativas dependerão de cada setor e reforça que apesar de períodos adversos, Minas Gerais segue em superávit nas exportações ao considerar o acumulado de 2025. “Enquanto tiverem estoque, alguns negócios devem manter a estabilidade para mitigar impactos das tarifas, enquanto outros aguardam desdobramentos para eventuais ampliações”, conclui.
Apesar da retração de 74,8% nas exportações no bimestre, a Prefeitura de Contagem (RMBH) destaca que, no acumulado do ano, as vendas para os Estados Unidos cresceram 18,9%. O município aposta na força da base industrial, especialmente na produção de bens com alto valor agregado e tecnologia, para manter o otimismo quanto ao futuro.
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da cidade informa que mesmo diante das recentes instabilidades no cenário econômico internacional, o município se mantém consolidado como um dos principais polos exportadores de Minas Gerais. “Dessa forma, o município tem atuado para ampliar o acesso das indústrias contagenses a mercados internacionais e fortalecer a competitividade das empresas locais, especialmente por meio de iniciativas voltadas à internacionalização e à promoção de uma indústria moderna, sustentável e inovadora”, acrescenta.
Procuradas, as prefeituras de Belo Horizonte e Confins não se manifestaram até a última atualização da reportagem.
Seis maiores exportadores mineiros para os EUA (ago-set 24)
- Confins US$ 99,4 milhões
- Sete Lagoas US$ 83,4 milhões
- Belo Horizonte US$ 77,1 milhões
- Araxá US$ 62,2 milhões
- Guaxupé US$ 55,2 milhões
- Contagem US$ 53,1 milhões
Seis maiores exportadores mineiros para os EUA (ago-set 25)
- Guaxupé US$ 58,3 milhões
- Varginha US$ 41,5 milhões
- Contagem US$ 35,4 milhões
- Itaúna US$ 33,3 milhões
- Belo Horizonte US$ 32,5 milhões
- Araxá US$ 27,4 milhões
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