Gerdau acelera planos para readequar operações no Brasil

São Paulo– A Gerdau está acelerando planos para readequar o tamanho de suas operações no Brasil diante do que avalia como demora do governo federal em tomar medidas de defesa comercial contra importações de aço da China e outros países da Ásia, afirmou o presidente-executivo da companhia, Gustavo Werneck, nesta quarta-feira.
“Estamos estudando como concentramos a capacidade em menos usinas e deixamos temporariamente algumas capacidades fechadas”, disse o executivo, em entrevista a jornalistas, após a companhia divulgar na noite da véspera queda de 45% no lucro líquido do quarto trimestre sobre um ano antes.
O executivo afirmou que a Gerdau tomou na semana passada a decisão de demitir mais 100 funcionários de uma unidade fabril da companhia em Pindamonhangaba (SP), cidade natal do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento (Mdic), Geraldo Alckmin.
“Essas pessoas tiveram seus contratos encerrados por essa dificuldade do governo federal em implantar as medidas”, disse o executivo, acrescentando que nos últimos meses a empresa demitiu cerca de 1.000 trabalhadores no Brasil.
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Apesar da pressão das importações de aço sobre os negócios no país, a companhia não pretende alterar sua política de dividendos aos acionistas, que determina distribuição de 30% do lucro líquido, afirmou o vice-presidente financeiro, Rafael Japur.
Em 2023, a Gerdau distribuiu aos acionistas R$ 2,6 bilhões, o que representou 44% do lucro líquido da companhia no ano.
Em 2024, a empresa projeta investimento de R$ 6 bilhões, com metade indo para manutenção de instalacões e o restante para iniciativas de “competitividade”, disse Werneck, com Japur citando que a maior parte dos recursos será destinada ao projeto de mineração da empresa em Minas Gerais.
O montante previsto de investimento pra este ano representa ligeira elevação sobre os R$ 5,7 bilhões aplicados pela companhia no ano passado, algo que surpreendeu alguns analistas que esperavam uma cifra menor.
Werneck afirmou que os recursos programados para este ano são destinados a resultados no médio e longo prazos. “Uma dificuldade como essa (importações de aço) não é motivo para cancelar ou reduzir programa de investimento. Vamos continuar mesmo com essa dificuldade criada pela importação crescente de aço da China”, disse o executivo.
Mas ele afirmou que a Gerdau está avaliando alterar o destino dos investimentos principais da empresa nos próximos anos para outros países, como o México, cujo setor industrial tem recebido impulso do processo de aproximação ou internalização da produção dos Estados Unidos, o chamado “reshoring”.
“O México se tornou uma plataforma muito importante de exportação para os EUA. Estamos debatendo com bastante profundidade se o Brasil deve ser um país que devemos priorizar em nossos investimentos ao longo da próxima década”, disse Werneck, citando o contexto de demora do governo federal em tomar medidas de defesa comercial contra importações chinesas.
“Existem outras geografias que parecem mais atrativas num horizonte de 10 anos. O México está claro para nós que vai aproveitar de maneira mais intensa o fenômeno do reshoring”, disse o presidente da Gerdau.
A companhia e outros produtores de aço do Brasil como Usiminas e CSN defendem que o país imponha tarifa de 25% sobre as importações de aço da China, citando que outras regiões como EUA e Europa já tomaram essa medida.
Questionado sobre o nível de demanda por aço no mercado interno, Werneck afirmou que continua “estável” e que a construção civil, por exemplo, continua apresentando desempenho “sólido, com números de canteiros de obra muito resilientes”.
“O problema é que as importações bateram recorde no ano passado e os primeiros números de 2024 mostram que isso continua acontecendo.”
A Gerdau opera atualmente com nível de utilização de sua capacidade no Brasil de cerca de 64%, nível considerado “muito baixo” por Werneck ante um patamar saudável de 80%.
Segundo o executivo, não “tem ambiente adequado nesse momento” para se falar em aumentos de preços de aço no Brasil e que a melhoria dos resultados da empresa no país deverá se dar gradativamente por meio de medidas de redução de custos.
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