Economia

Greenpeace destaca falta de clareza em discurso de Lula na ONU quanto às metas ambientais

Durante o discurso, o presidente da república citou as tragédias no Rio Grande do Sul, afirmando que os eventos climáticos não são naturais
Greenpeace destaca falta de clareza em discurso de Lula na ONU quanto às metas ambientais
Lula cita tragédias no Rio Grande do Sul em discurso na ONU | Crédito: Ricardo Stuckert / PR

A organização de defesa ao meio ambiente, Greenpeace Brasil, considera que o discurso do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstra que o Brasil tem potencial para se consolidar como uma liderança climática mundial. Porém, os especialistas da instituição também destacaram a falta de metas mais claras e importantes, além da pouca ênfase à pauta ambiental.

O presidente do Brasil citou as tragédias que assolam cidades do Rio Grande do Sul, afirmando que os eventos climáticos não são naturais, mas fruto de políticas climáticas ineficientes e intensificadas por desigualdades sociais. Ele também menciona outros temas, como o Plano de Transformação Ecológica e a necessidade de uma transição energética.

A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, disse que o presidente conhece o grande desafio que o mundo tem para enfrentar e vem mostrando resultados estáveis em relação à redução do desmatamento na Amazônia e à implementação de medidas de fomento à transição ecológica.

Mas ela ressalta que para ocupar uma posição de liderança é preciso abandonar a ideia de abrir novas áreas para exploração de petróleo e dar mais atenção a outras áreas de risco. “Lidar com o desmatamento em alta em outros biomas além da Amazônia, como o Cerrado, e superar a visão que o mundo tem do Brasil, de exportador de commodities. Podemos – e queremos – ser mais do que isso”, completa.

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Ênfase na pauta ambiental

Para a especialista em políticas climáticas do Greenpeace Brasil, Camila Jardim, o País tem um papel de relevância e pode atuar como um grande exemplo de mudanças indispensáveis para evitar o colapso climático e da biodiversidade e para influenciar outros países a fazerem mais.

“Mas, para isso, precisará mostrar resultados e se afastar de ações que nos colocam na direção oposta, como a concessão de subsídios e investimentos a combustíveis fósseis. Além disso, será fundamental fomentar uma real transição energética e ecológica que reduza drasticamente as emissões e garanta justiça e respeito aos direitos humanos”, alerta.

Em sua opinião, o discurso do presidente da república na ONU decepciona ao não dar mais ênfase à pauta ambiental. “Isso nos preocupa, pois pode indicar que o governo, apesar de dar um ‘tom verde’ à sua gestão, não dá às pautas climáticas e ambientais a centralidade e transversalidade que elas de fato precisam para promover uma transformação estrutural na sociedade brasileira e consolidar o papel de liderança do Brasil nessa temática”, afirma.

Para a organização, é muito importante que o governo dê status transversal à pauta de clima e meio ambiente e é compreensível que essa iniciativa aponte para o caminho certo. Entretanto, não é aceitável que este movimento seja apenas retórico, que o governo ceda em áreas vitais em detrimento dessa pauta e, apesar de dar um aspecto verde à sua gestão, continue perpetuando lógicas predatórias que tratem a natureza como commodity.

A porta-voz do Greenpeace Brasil, Mariana Campos, destaca a urgência de desenvolver e expandir outros modelos econômicos que gerem emprego e renda superando o modelo hegemônico predatório atual de crescimento desenfreado.

“As políticas de combate à fome precisam ser via agricultura familiar de base ecológica, sem veneno. Precisamos, com urgência, investir em novos presentes e futuros possíveis, que sejam baseados em movimentos circulares de produção e consumo, conscientes da escassez dos nossos recursos e da urgência da crise que vivemos”, afirma.

Transição energética

Quanto à transição energética, Lula afirmou que o Brasil está à frente do mundo em relação a esse tema. “Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo, com 87% da nossa energia elétrica de fontes limpas e renováveis”, disse.

No entanto, para o porta-voz do Greenpeace Brasil, Marcelo Laterman, o governo ainda falha em apresentar uma efetiva transição que preveja a substituição gradual dos combustíveis fósseis, como o petróleo, verdadeiro vilão do clima.

“Lula coloca o Brasil na vanguarda da transição energética e apresenta o dado sobre a matriz de energia elétrica do País, historicamente com relativa baixa emissão de gases de efeito estufa, mas que, mesmo assim, insiste em seguir operando usinas a carvão, que já não são necessárias para a segurança energética brasileira”, destaca.

Ele também fala sobre a falta de perspectiva para uma efetiva transição que preveja a substituição gradual dos combustíveis fósseis como o petróleo, já que sua queima é a principal fonte de emissões no setor energético. “Pior, o governo segue defendendo o avanço da indústria petrolífera em áreas extremamente sensíveis, e fundamentais para o futuro do País, como a bacia da Foz do Amazonas”, finaliza.

*com informações do Greenpeace Brasil

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