Greenpeace destaca falta de clareza em discurso de Lula na ONU quanto às metas ambientais

A organização de defesa ao meio ambiente, Greenpeace Brasil, considera que o discurso do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstra que o Brasil tem potencial para se consolidar como uma liderança climática mundial. Porém, os especialistas da instituição também destacaram a falta de metas mais claras e importantes, além da pouca ênfase à pauta ambiental.
O presidente do Brasil citou as tragédias que assolam cidades do Rio Grande do Sul, afirmando que os eventos climáticos não são naturais, mas fruto de políticas climáticas ineficientes e intensificadas por desigualdades sociais. Ele também menciona outros temas, como o Plano de Transformação Ecológica e a necessidade de uma transição energética.
A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, disse que o presidente conhece o grande desafio que o mundo tem para enfrentar e vem mostrando resultados estáveis em relação à redução do desmatamento na Amazônia e à implementação de medidas de fomento à transição ecológica.
Mas ela ressalta que para ocupar uma posição de liderança é preciso abandonar a ideia de abrir novas áreas para exploração de petróleo e dar mais atenção a outras áreas de risco. “Lidar com o desmatamento em alta em outros biomas além da Amazônia, como o Cerrado, e superar a visão que o mundo tem do Brasil, de exportador de commodities. Podemos – e queremos – ser mais do que isso”, completa.
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Ênfase na pauta ambiental
Para a especialista em políticas climáticas do Greenpeace Brasil, Camila Jardim, o País tem um papel de relevância e pode atuar como um grande exemplo de mudanças indispensáveis para evitar o colapso climático e da biodiversidade e para influenciar outros países a fazerem mais.
“Mas, para isso, precisará mostrar resultados e se afastar de ações que nos colocam na direção oposta, como a concessão de subsídios e investimentos a combustíveis fósseis. Além disso, será fundamental fomentar uma real transição energética e ecológica que reduza drasticamente as emissões e garanta justiça e respeito aos direitos humanos”, alerta.
Em sua opinião, o discurso do presidente da república na ONU decepciona ao não dar mais ênfase à pauta ambiental. “Isso nos preocupa, pois pode indicar que o governo, apesar de dar um ‘tom verde’ à sua gestão, não dá às pautas climáticas e ambientais a centralidade e transversalidade que elas de fato precisam para promover uma transformação estrutural na sociedade brasileira e consolidar o papel de liderança do Brasil nessa temática”, afirma.
Para a organização, é muito importante que o governo dê status transversal à pauta de clima e meio ambiente e é compreensível que essa iniciativa aponte para o caminho certo. Entretanto, não é aceitável que este movimento seja apenas retórico, que o governo ceda em áreas vitais em detrimento dessa pauta e, apesar de dar um aspecto verde à sua gestão, continue perpetuando lógicas predatórias que tratem a natureza como commodity.
A porta-voz do Greenpeace Brasil, Mariana Campos, destaca a urgência de desenvolver e expandir outros modelos econômicos que gerem emprego e renda superando o modelo hegemônico predatório atual de crescimento desenfreado.
“As políticas de combate à fome precisam ser via agricultura familiar de base ecológica, sem veneno. Precisamos, com urgência, investir em novos presentes e futuros possíveis, que sejam baseados em movimentos circulares de produção e consumo, conscientes da escassez dos nossos recursos e da urgência da crise que vivemos”, afirma.
Transição energética
Quanto à transição energética, Lula afirmou que o Brasil está à frente do mundo em relação a esse tema. “Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo, com 87% da nossa energia elétrica de fontes limpas e renováveis”, disse.
No entanto, para o porta-voz do Greenpeace Brasil, Marcelo Laterman, o governo ainda falha em apresentar uma efetiva transição que preveja a substituição gradual dos combustíveis fósseis, como o petróleo, verdadeiro vilão do clima.
“Lula coloca o Brasil na vanguarda da transição energética e apresenta o dado sobre a matriz de energia elétrica do País, historicamente com relativa baixa emissão de gases de efeito estufa, mas que, mesmo assim, insiste em seguir operando usinas a carvão, que já não são necessárias para a segurança energética brasileira”, destaca.
Ele também fala sobre a falta de perspectiva para uma efetiva transição que preveja a substituição gradual dos combustíveis fósseis como o petróleo, já que sua queima é a principal fonte de emissões no setor energético. “Pior, o governo segue defendendo o avanço da indústria petrolífera em áreas extremamente sensíveis, e fundamentais para o futuro do País, como a bacia da Foz do Amazonas”, finaliza.
*com informações do Greenpeace Brasil
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