Economia

Haddad defende diversificar produção agrícola nos estados após impacto sobre arroz do RS

Mercado e especialistas dizem que é cedo para mensurar a pressão inflacionária da tragédia
Atualizado em 8 de maio de 2024 • 18:36
Haddad defende diversificar produção agrícola nos estados após impacto sobre arroz do RS
Vista aérea de pessoas em botes buscando por pessoas isoladas em meio à inundação na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul | Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

Brasília – O próximo Plano Safra conterá mecanismos para diversificar a produção pelos estados. A medida foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), no contexto da tragédia no Rio Grande do Sul, estado que produz cerca de 70% do arroz brasileiro.

Para lidar com os possíveis impactos das enchentes no preço do arroz, o presidente Lula (PT) determinou a importação de 1 milhão de toneladas de arroz.

“Ao invés de um estado produzir só arroz, ele vai ampliar cardápio de cultura. Se todos ampliarem um pouco, sairão da monocultura”, disse Haddad no programa Bom Dia Ministro, da TV Brasil, emissora pública de televisão.

“O Brasil é tão grande que, se acontecer problema em um estado, a produção dos outros compensa. Isso será feito respeitando solo, clima, mas alguma diversificação vamos ter que induzir”, continuou.

Ele lembrou que no ano passado, o Rio Grande do Sul enfrentou uma seca, o que também atrapalhou a cultura do arroz. Diante da escassez e do aumento de preços, foi estudada a importação do alimento, mas como o preço internacional estava maior, o resultado seria um aumento maior do preço.

O mercado e especialistas dizem que é cedo para mensurar a pressão inflacionária da tragédia. O cereal segue cotação internacional, e seu preço atualmente está em patamar reduzido.

Mesmo assim, com a perspectiva de perda de parte da produção gaúcha, o governo fará um leilão internacional. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, os vendedores deverão ser de países do Mercosul. Caberá à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a realização da compra.

De acordo como Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), 82,9% das lavouras já foram colhidas. Restam em torno de 150 mil hectares. A região central do estado é a que apresenta menor percentual de área colhida, com 62%, restando cerca de 45 mil hectares. Essa é a região mais afetada pelas enchentes.

Houve também perda de parte da produção que ainda está no campo. Segundo o ministro Carlos Fávaro, há armazéns e silos que foram atingidos pela água. O ministro também citou problemas de logística para escoar a produção local. (Lucas Marchesini)

Importação de arroz pelo Brasil é desnecessária, oferta do RS é suficiente

São Paulo – É desnecessária uma medida para importação de arroz pelo governo brasileiro para supostamente evitar impactados na inflação devido às enchentes no Rio Grande do Sul, disse o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), citando que apesar das inundações os gaúchos ainda produzirão mais do que no ano passado.

“Sem motivo, a medida não é necessária… Não tem nenhuma razão para o governo fazer isso, trazendo novamente um desestímulo se os preços caírem”, disse Alexandre Velho, em entrevista por telefone.

Ele acrescentou que eventuais importações de arroz pela estatal Conab, conforme anunciou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro na véspera, vão pressionar preços, desestimulando produtores gaúchos na próxima safra.

O Rio Grande do Sul, que normalmente responde por 70% da produção nacional de arroz, ainda vai colher 7,2 milhões de toneladas do produto 2023/24, acima do volume da safra passada, de 6,9 milhões de toneladas, disse Velho. Isso apesar de perdas pelas enchentes, segundo a Fedearroz.

De acordo com o presidente da entidade, as perdas na safra de arroz do Rio Grande do Sul em função das enchentes são estimadas em cerca de 250 mil toneladas.

Isso porque o Estado já tinha colhido 83% da área de arroz e produtores ainda podem colher das lavouras que não foram destruídas pelas enchentes.

O total colhido antes das cheias já garantiu ao Estado uma produção de 6,5 milhões de toneladas, uma vez que as produtividades foram maiores na safra atual, assim como a área plantada cresceu.

“Temos seis regiões arrozeiras no Rio Grande do Sul. A mais atingida pelas enchentes é a região central, lá temos um problema bem pior, a região planta em beira de rio, então lá tem situação bem complicada, talvez a metade da área que falta na região central não dará pra colher”, afirmou ele.

Além de lavouras, as enchentes atingiram silos em algumas regiões, segundo relatos do setor.

“Claro, tem alguns produtores que não vão colher nada, mas no geral temos tranquilidade em relação ao abastecimento.”

Velho disse ainda que a entidade não foi consultada pelo governo sobre necessidade de importações pela Conab.

Sobre a fala do ministro Fávaro de que o Brasil importaria preferencialmente do Paraguai, Velho afirmou que o país vizinho produz em torno de 1 milhão de toneladas e já vendeu mais da metade da safra, atendendo a diversos mercados, inclusive o Brasil.

“Como vai comprar 1 milhão de toneladas de arroz do Paraguai?”

Segundo o dirigente, a perda de arroz pelas enchentes no Rio Grande do Sul será compensada pelo total que o Brasil deixará de exportar, já que o mercado interno tem um preço mais vantajoso do que no exterior.

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