Economia

Crescimento do e-Sports mineiro exige profissionalismo

Compreensão do time como uma empresa é fundamental para o sucesso do negócio
Crescimento do e-Sports mineiro exige profissionalismo
Os jogadores precisão adotar uma postura mais profissional nesse mercado | Crédito: Adobe Stock

O mercado de e-Sports vem crescendo de forma significativa em Minas Gerais nos últimos anos. Esse desenvolvimento tem exigido dos jogadores uma postura mais profissional e uma visão de negócio das equipes que atuam nesse segmento. Tanto os times quanto os profissionais estão tendo que adotar estratégias visando o crescimento do negócio.

A advogada especializada em games e e-Sports, Luana Mendes, destaca que a formalização de uma equipe de e-Sports deve ocorrer por meio da constituição de uma empresa, “com o devido registro da marca criada, celebração de contratos formais com todos os envolvidos direta ou indiretamente com a equipe, sejam eles jogadores ou prestadores de serviços”.

Ela ainda aponta para a importância de criar um regulamento interno e um fluxograma hierárquico de gestão. “O plano de negócios também é parte fundamental, onde são estabelecidas metas e métodos de ação (plano de ação), quais estratégias de marketing podem ser aplicadas, planejamento financeiro, cronograma de gastos e livro caixa”, completa.

Outro ponto importante, na visão da advogada, é a compreensão de que o dono do time é um gestor e a equipe é uma empresa. “Para que seu time ou organização seja um sucesso, é preciso compreender todas as etapas da gestão de negócios que o mercado exige: organização, planejamento, estruturação e negociação”, aconselha.

Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, Luana Mendes relata uma movimentação no cenário mineiro, principalmente em Belo Horizonte, em que os times passaram a ver várias oportunidades de negócio nesse mercado. “Dentro desse avanço, os times de esportes eletrônicos perceberam que existia uma necessidade de profissionalização para conseguir alcançar patamares maiores, inclusive patamares competitivos em relação aos pólos nacionais. Com essa percepção, os gestores buscaram mecanismos para se profissionalizar”, disse.

Portanto, essa percepção surgiu diante da necessidade competitiva, uma vez que os esportes eletrônicos deixaram de ser um nicho e assumiram um papel muito importante de conexão com as marcas. “Eles deixaram de ser apenas elos ligados ao jogo em si, atingindo outras camadas de negócios, inclusive com empresas que não trabalham diretamente com produtos relacionados ao universo gamer”, lembra.

Para Luana Mendes a posição como empresa é o que diferencia um time profissional de um amador. Ela explica que o gestor que pretende elevar sua equipe a patamares superiores deverá fazer relações jurídicas complexas, celebração de contratos com patrocinadores e o recebimento de valores de premiação de campeonatos oficiais. “Para isso é necessário ter uma constituição jurídica como empresa, principalmente para conseguir celebrar esses contratos de forma segura, tanto para o gestor quanto para as pessoas que estão na outra parte dos contratos”, completa.

Aspectos jurídicos dos e-Sports

A advogada explica que a regulamentação dos esportes eletrônicos parte dos próprios organizadores de campeonatos e das desenvolvedoras de jogos. Ela aponta que essa auto-regulamentação é suficiente, em parte, para resolver problemas ligados ao que acontece dentro dos campeonatos. No entanto, em alguns momentos surgem problemas ligados a questões judiciais – como direitos civis, trabalhistas e até empresariais -, e nesses casos passa a ser tratado por um advogado especializado.

“O nosso papel é levar essas demandas para o judiciário e tentar formular algumas jurisprudências que são julgados, reiterados sobre esses assuntos para conseguir um embasamento para regulamentação no âmbito do judiciário”, esclarece.

Luana Mendes ainda garante que ainda há uma defasagem de reconhecimento jurídico e que também existem algumas iniciativas de estados e municípios, como é o caso do Rio de Janeiro que criou uma lei reconhecendo o e-Sports como esporte, visando esse tipo de legislação.

“Mas é importante a gente pontuar que pela Constituição Federal, os esportes são auto declaratórios, o que significa que se existe ali os requisitos para competição, que é um ambiente competitivo, regras definidas, pessoas juntas em alta performance e se elas se auto reconhecem como atletas e reconhecem o que elas fazem é esporte, essa autonomia individual por si só já equivale aí ao reconhecimento como esporte eletrônico”, ressalta.

A especialista também apontou para os riscos que essa falta de reconhecimento pode trazer para este mercado. “Isso muda a credibilidade do mercado. Pessoas que não estão envolvidas diretamente com os esportes eletrônicos escutam pessoas falando que não é esporte, e elas acabam questionando a validade do trabalho árduo que está sendo feito”, afirma.

Pan Americano de e-Sports será realizado em junho no Rio

Ela lembra que Minas Gerais está com alguns projetos de lei parados, que visam esse reconhecimento. Luana Mendes espera que a realização do Pan Americano de e-Sports, prevista para junho de 2024 no Rio de Janeiro, incentive muitas outras iniciativas voltadas para esta atividade e o retorno de pautas voltadas para o esportes eletrônicos no Estado.

A advogada destaca que o e-Sports vai muito além de um simples jogo eletrônico, como muitos imaginam; ele é a profissionalização dessa atividade. “Você precisa ter toda uma relação jurídica complexa que envolve os esportes eletrônicos e quando não há esse reconhecimento e as pessoas ficam achando que os atletas e todo mundo que trabalha em volta daquilo, estão trabalhando só em torno do jogo. Mas existe muita coisa por trás, existe muita coisa acontecendo nos bastidores”, declara.

No entanto, ela relata que o processo de profissionalização do e-Sports tem contribuído para quebrar essa barreira do preconceito contra esta modalidade esportiva. “Eu vejo que houve uma melhora significativa nesse sentido, inclusive com novos profissionais entrando no mercado, novos advogados querendo compreender essa atuação, novos fisioterapeutas querendo trabalhar nesse cenário, educadores, principalmente da área de educação física, querendo trazer os esportes eletrônicos para dentro das escolas”, completa.

Papel dos advogados no esporte eletrônico

A especialista do mercado de e-Sports ainda ressalta a importância do trabalho do advogado especializado nessa área. Ela destaca que o conhecimento sobre esta modalidade esportiva pode fazer muita diferença, pois, não basta apenas saber fazer contratos, “é preciso entender e vivenciar os esportes eletrônicos para entender o que acontece nos bastidores”.

Luana Mendes lembra que esse mercado conta com diversas modalidades diferentes, cada uma com uma diversidade de jogos. “Conhecer regulamentos específicos de cada modalidade, conhecer os termos de uso de cada um desses jogos, é de suma importância para atuação nesse mercado”, conclui.

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