Inadimplência atinge 46% da população adulta de Minas Gerais; veja os motivos
O número de inadimplentes em Minas Gerais cresceu 8,6% de janeiro a outubro deste ano, de acordo com dados da Serasa, passando de 7,13 milhões para 7,75 milhões. Na comparação entre setembro e outubro, a alta é de 2%, ou seja, quase 164 mil consumidores a mais com o CPF negativado de um mês para o outro. Segundo especialistas, os números refletem os efeitos dos juros elevados, da perda de poder de compra da população e da restrição ao crédito.
No Brasil, a inadimplência também segue trajetória crescente, atingindo recordes e registrando elevação pelo nono mês consecutivo em outubro. Ao todo, são mais de 80 milhões de inadimplentes no País, que acumulam uma dívida de R$ 509 bilhões. Minas Gerais é responsável por 9% desse montante.
A economista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, considera o cenário preocupante, já que a inadimplência em patamares elevados tem impacto direto na atividade econômica.
“Ela encolhe o consumo, especialmente de bens duráveis; afeta pequenos negócios, que são mais vulneráveis ao calote; e trava a recuperação econômica, porque o crédito fica mais caro e mais restrito. Além disso, aumenta a vulnerabilidade das famílias, que passam a comprometer renda futura com renegociações”, avalia.
Só em Minas Gerais, são 7,7 milhões de inadimplentes que devem cerca de R$ 46,8 bilhões. A especialista em educação financeira do Serasa, Karla Pontes, também considera o quadro atual como um ponto de atenção, já que o levantamento revela que a inadimplência atinge 49,22% da população adulta do País e 46% em Minas Gerais.
Além do cenário econômico, Karla Pontes atribui o quadro ao comportamento das pessoas. “Apesar de ter diminuído, ainda há uma taxa de 5,36% de desemprego no Brasil. Segundo nossas pesquisas, isso acaba sendo um dos motivos da inadimplência também. Além disso, mesmo buscando se inteirar mais sobre educação financeira, o brasileiro ainda não acompanha bem o próprio orçamento, não faz bom uso do cartão de crédito e dos limites do banco e gasta mais do que ganha”, avalia.
Os dados também mostram que, diferentemente do Brasil, Minas Gerais teve queda de consumidores no “vermelho” em dois momentos do ano: abril e setembro. Diana Chaib considera esse movimento pontual e não estrutural.
Para a especialista, a sazonalidade de renda, os meses com a liberação de 13º parcial, as restituições do Imposto de Renda e os benefícios sociais contribuem para a queda e tendem a aliviar o orçamento, permitindo a regularização de dívidas.
Além disso, há também o efeito de programas de renegociação, que podem ter tido maior adesão nesses meses. “Outro ponto que deve ser considerado é o fato de o mercado de trabalho mineiro ter forte peso no comércio e nos serviços, setores que possuem flutuações mais marcantes ao longo do ano e podem ter impactado esses resultados”, diz.
Setor financeiro é principal origem das dívidas
O setor financeiro segue como a principal origem das dívidas, sendo responsável, só em Minas, por 25% delas, resultado da combinação do custo elevado do crédito, do orçamento familiar apertado e das dificuldades de renegociação, segundo Karla Pontes.
Diana Chiab acredita que contribuem para esse cenário:
- a inflação persistente no pós-pandemia, especialmente em alimentos e serviços, que corroem o poder de compra;
- o mercado de trabalho mais frágil, com grande peso de ocupações informais e renda média ainda baixa;
- o endividamento muito elevado herdado do período de crise sanitária, quando milhões de famílias recorreram ao crédito para pagar despesas básicas;
- e o crédito caro e restrito, que torna difíceis as renegociações.
Demanda por crédito avança no País
Apesar do endividamento crescente, a demanda por crédito avançou 10,8% no acumulado do ano. O movimento foi puxado principalmente pelas faixas de menor renda (até dois salários mínimos), que têm recorrido ao crédito como alternativa para recompor o orçamento doméstico e renegociar pendências.
Dessa forma, mesmo com o aumento do crédito, o cenário é de um ambiente com orçamento mais apertado, segundo Karla Pontes. Para os próximos meses, a previsão é de desaceleração, como impacto direto da inadimplência e da elevação dos riscos percebidos pelas instituições financeiras.
“A projeção que a empresa faz é de um crescimento de 1,8% em 2025 da demanda por crédito, e de 1,6% em 2026, como resultado de uma acomodação diante de um ambiente macroeconômico mais restritivo”, avalia.
Já Diana Chiab entende que o ritmo de alta da inadimplência começa a perder força no País, apesar de ainda não haver reversão clara: “Essa reversão vai depender de três fatores: a queda de juros virar realidade no crédito ao consumidor (e não só na Selic); a recuperação mais firme da renda real; e as renegociações em escala, como o Desenrola, ganharem fôlego permanente”, prevê.
Ou seja, para a especialista, mesmo havendo estabilização, o patamar de dívidas e inadimplência seguirá alto até que a renda e o crédito melhorem de forma consistente.
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