Incerteza na economia da Argentina afeta comércio com Minas Gerais

Em janeiro deste ano, as remessas de Minas Gerais para a Argentina caíram 22,3% na comparação com o mesmo mês de 2023. Para o consultor de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre de Brito, a situação demanda que empresas e autoridade monetárias do mercado busquem alternativas para contornar a instabilidade do comércio bilateral, como operações swap e pelo Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML).
Terceiro principal mercado do comércio exterior de Minas Gerais em 2023, a Argentina foi o destino de mais de US$ 2 bilhões em exportações mineiras no ano passado. Com destaque para os produtos da indústria de transformação, responsáveis por 92% do total. Em relação às importações, foram quase US$ 1,5 bilhão em produtos argentinos, o que fez do país vizinho a terceira maior origem das compras externas feitas pelo Estado. Automóvel de passageiros foi o principal produto importado.
Mas em janeiro deste ano, as recentes transformações na economia argentina afetaram sobremaneira o comércio com Minas Gerais: as vendas de veículos automotores e peças recuaram 11,2% em comparação com o mesmo período do ano anterior, por exemplo. E as exportações de ferro e aço diminuíram 62%.
Alexandre Brito explica que a escassez de dólares da Argentina reduz as importações e atrasa pagamentos das exportações. Além disso, as mudanças na economia do país geraram incertezas nos negócios e impactam a demanda agregada. “As incertezas vão continuar por um tempo, porque existe um problema estrutural, dificuldade de recursos para pagamentos e nós vamos continuar tendo esses pequenos atrasos no pagamento das importações até que seja resolvido esse problema ou que possam gerar soluções que possam mitigar essa questão”, comenta.
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O consultor da Fiemg explica que as empresas podem optar pelo swap cambial, um tipo de derivativo bastante utilizado por empresas importadoras e exportadoras para se proteger de oscilações da taxa de câmbio. “Esse mecanismo de proteção seria muito interessante para poder dar garantia de que não vai haver perda de rentabilidade se o pagamento for no futuro. Ou seja, você poderá efetivar o recebimento com a tranquilidade de que vai captar as mudanças na taxa de câmbio, se vier, porventura, uma desvalorização da moeda, do peso em relação ao real”, explica.
PMEs de Minas Gerais no comércio com a Argentina
No swap, os agentes de uma operação acordam valor de referência, prazo e outras condições. Acontece que esse não é um expediente muito acessado por pequenas e médias empresas (PMEs) no mercado financeiro, por ser mais sofisticado. Por isso, o consultor sugere outro meio. “Para pequenas e médias empresas, você pode utilizar o Sistema de Pagamento de Moeda Local. Pode ser uma alternativa, que não tem conversão do dólar, mas de qualquer maneira você tem uma taxa de risco por conta disso”, afirma Brito.
O SML é um sistema de pagamento internacional administrado pelo Banco Central (BC) em parceria com os bancos centrais da Argentina, Uruguai e Paraguai. Os pagamentos e recebimentos são efetuados diretamente em reais, sem necessidade de moeda intermediária, como o dólar, o que dispensa contrato de câmbio. Os operadores da transação utilizam suas moedas locais e o próprio sistema é encarregado de efetivar a conversão, com a cobrança da taxa SML.
Ainda assim, Alexandre Brito afirma que o mercado financeiro precisa encontrar uma solução pensada não apenas neste momento, mas em uma alternativa no longo prazo. As oscilações cambiais da Argentina atrapalham as transações no comércio bilateral, que precisam obedecer prazos estabelecidos no mercado de câmbio. E as transações com regra do pagamento antecipado, em que o exportador recebe antes de embarcar a carga, também são consideradas difíceis. “São possibilidades que podem ser analisadas, mas é preciso que a gente tenha um mecanismo de longo prazo mais sustentável, para poder auxiliar os exportadores não só de Minas Gerais, mas do Brasil também”, finaliza Alexandre Brito.
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