Relações Internacionais
Relação comercial Brasil-Argentina não deve ser impactada com Milei
País é o principal destino das exportações brasileiras no Mercosul
21 de novembro de 2023

O impacto na economia do Brasil com a vitória do ultraliberal Javier Milei, no último domingo (19), para o cargo de presidente da Argentina, não deve causar impactos expressivos na relação comercial entre os dois países, segundo especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO. O motivo é que nem tudo que o presidente eleito prometeu em seus discursos será viável, já que ele não tem maioria no congresso argentino e não está habituado a fazer alianças políticas.
“Eu duvido que ele consiga fazer muito do que ele falou”, diz o cientista político e coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec em BH, Adriano Gianturco. As limitações são fruto do apoio político necessário e da falta de experiência política do economista, além do perfil psicológico que não é muito favorável às alianças.
O especialista diz que o termo usado para qualificar Milei como sendo de extrema-direita é tecnicamente errado. “Ele é liberal ou talvez liberal extremista”, diz.
Gianturco acrescenta que também existe uma resistência na mudança do status quo por parte de setores que chegam a contar com subsídios governamentais na Argentina, o que dificultaria muitas promessas do presidente eleito. “Eles (setores) dificilmente ficarão de braços cruzados, farão lobby para evitar essas reformas”, observa.
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Para o professor emérito da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Face/UFMG), Clélio Campolina Diniz, a relação com o presidente eleito da Argentina “pode trazer algumas dificuldades, só que o estrago nas relações com o Brasil não será tão grande como se pensa”.
Ele ressalta que há limitações legais à implementação dos discursos de Milei, além da questão do apoio do congresso. O especialista lembra que há empresas brasileiras e argentinas interessadas na manutenção das relações comerciais entre os dois países. “O Milei teria dificuldades de impedir essas relações, o que agravaria a crise na Argentina”, observa.
Diniz acrescenta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já cumprimentou o presidente eleito e não colocou barreiras ao novo governante do país vizinho.
A conselheira do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Tania Teixeira, lembra que na época candidato, Javier Milei disse que a Argentina deixaria o Mercosul e não teria relações comerciais com o Brasil. Daí, ela não descarta uma retaliação comercial. “Temos que nos preparar para uma possível relação ruidosa”, diz.
Para o analista internacional e professor de Relações Internacionais da PUC Minas, Javier Vadell, há risco de problemas diplomáticos, mas não quebra de parceria e relações econômicas entre o Brasil e a Argentina.
Relevância
No último balanço anual fechado, de 2022, a Argentina apareceu como o terceiro maior importador de produtos brasileiros, com aproximadamente US$ 13,09 bilhões.
Há dez anos, o Brasil exportava US$ 19,6 bilhões para o País vizinho, enquanto as importações somavam US$ 16,4 bilhões. Em 2022, as duas variáveis foram de US$ 15,3 bilhões e US$ 13,1 bilhões, respectivamente. A redução dos valores é fruto da entrada de novos parceiros, como a China, que hoje ocupa a primeira posição.
Em julho deste ano, a Agência Brasileira de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) lançou o Perfil Mercosul, que é uma análise especializada do bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O bloco econômico sul-americano foi o 4º destino das exportações brasileiras em 2022, com a Argentina sendo o principal comprador, responsável por 70,5% do total exportado. Nas comercializações para o país, segundo o estudo Perfil Mercosul, há uma diversificada pauta exportadora, composta, principalmente, por produtos manufaturados. Importante parceria diplomática e comercial que, neste ano, celebra 200 anos.
Vadell lembra que a relação diplomática quando o Bolsonaro era presidente do Brasil e na Argentina, Alberto Fernandes, a relação comercial continuou e não foi afetada.

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