Indústria do vestuário aposta em expansão de 10% para este ano

Apesar de enfrentar diversos desafios, a indústria do vestuário de Minas Gerais está conseguindo superar e manter a estimativa de crescimento em 2022. A expectativa é de um crescimento do setor em torno de 10% frente a 2021, índice que pode ser superado. A alta no segmento é resultado do arrefecimento da pandemia de Covid-19, normalização da oferta de insumos e vendas maiores.
De acordo com a presidente da Câmara da Indústria do Vestuário e Acessórios da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e presidente da governança do Arranjo Produtivo Local Farol da Mata Vestuário e Afins, Mariângela Miranda Marcon, logo no início do ano, o setor foi bastante impactado por diversos fatores, mas com o passar dos meses conseguiu superar os desafios e deve encerrar o ano com resultados positivos.
“O setor foi prejudicado no início do ano pela escassez de alguns insumos e problemas que vieram em decorrência da guerra entre Ucrânia e Rússia. A polarização política também prejudica o andamento da economia, repercutindo em todos os setores e, notadamente, no de vestuário”.
Ainda segundo Mariângela, as indústrias sofreram com a falta de fio de algodão e poliéster. Também impactou no setor a alta dos combustíveis, que alavancou o frete e o preço final dos produtos.
“A falta de insumos já foi superada e estamos com a oferta regularizada, o que é muito importante para o desenvolvimento do setor. Vejo com muita alegria que o setor tem reagido. Houve um aumento na abertura de empresas e no número de empregos. Isso é importante para o setor e para a economia”.
Mariângela atribui o aumento de abertura de empresas à desburocratização dos processos de abertura no Estado e à recuperação dos empresários que foram prejudicados pela pandemia de Covid-19.
“O impacto da pandemia foi grande, com certeza. Tivemos estabelecimentos fechados e empregos perdidos. Mas somos resilientes e soubemos contornar os percalços destas situações adversas, com a intensificação no atendimento on-line, revisão da produção, estoque, entre outros. E já em 2021, com o retorno do Minas Trend, os negócios já começaram uma recuperação”.
Segundo Mariângela, os empresários do setor em Minas Gerais, mesmo ainda enfrentando desafios, estão mais confiantes, investindo e gerando empregos.
Em Minas Gerais, de janeiro a agosto, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram 22.108 contratações e 20.407 demissões, gerando um saldo de 1.701 empregos no setor de vestuário e afins.
“Tivemos injeção de capital no mercado, o que aqueceu a economia e a nossa demanda. Então, na verdade, a gente tem fatores graves que interferem no desempenho, como a guerra e a polarização política, mas os empresários acreditaram e investiram. Hoje a gente vê a situação com muito otimismo. Temos visto o número de empregos aumentando e muitas das empresas que fecharam as portas na pandemia estão ressurgindo”.
Festas de fim de ano
As estimativas para os próximos meses são positivas. As festas de final de ano e a normalização das atividades após o arrefecimento da pandemia têm feito com que as pessoas saiam mais de casa e façam mais compras. Mesmo com a inflação alta, o setor está indo bem e algumas empresas já encerraram o recebimento de pedidos para o final do ano porque estão trabalhando com a capacidade máxima de produção. Com a demanda em alta, também haverá contratação de mão de obra temporária.
“Em Juiz de Fora, onde eu presido o sindicato das indústrias de vestuário, sei que várias empresas não estão recebendo mais pedidos por estarem operando com a capacidade total. Acredito que 2022 tem sido um ano de consolidação de um mercado que começou sua recuperação em 2021. Do ano passado pra cá, o saldo de empregos saiu de uma posição negativa para positiva. Isto mostra uma recuperação do mercado”.
No que se refere às importações, que interferiam de forma significativa nos negócios do setor, no último ano, segundo Mariângela, o Estado exportou mais do que importou, fechando com saldo positivo de mais de US$ 60 milhões, segundo apontou a Pesquisa Panorama Setorial da Fiemg.
Minas Trend
Uma das principais iniciativas que tem contribuído para o sucesso do setor é a realização do Minas Trend, que, segundo Mariângela, se transformou ao longo dos anos e passou a ser mais um salão de negócios do que de exposição de moda.
“O Minas Trend, que será de 2 a 4 de novembro, já está com todos os espaços comercializados. Há uma procura muito grande, se tivesse mais estandes, seriam vendidos facilmente. Isso mostra que o mercado está aquecido e estamos depositando uma expectativa muito grande no evento”.
Mariângela destaca ainda que a indústria da moda mineira é um dos segmentos industriais mais expressivos do Estado, com mais de 100 mil trabalhadores atuando em mais de 7 mil empresas do setor. Representa 12% da atividade industrial do Estado.
“A ligação de Minas Gerais com a moda é muito forte. Desde o início dos anos de 1900, quando a indústria têxtil ganhou força, a indústria da moda se confunde com a própria trajetória de desenvolvimento econômico, industrial e de identidade do Estado, que é reconhecido internacionalmente pela criatividade da sua gente e pela qualidade do que produz. Além disso, é em Belo Horizonte que acontece o maior salão de negócios de moda da América Latina, o Minas Trend”.
Indústria têxtil se prepara para queda
Apesar dos bons resultados esperados no setor de vestuário, para a indústria têxtil de Minas Gerais o ano segue desafiador. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem no Estado de Minas Gerais (Sift-MG), Rogério Mascarenhas Cezarini, a tendência é encerrar 2022 com queda de 2% na produção.
“O setor têxtil não está apresentando excelentes resultados. A produção física de janeiro a julho teve queda de 14,6%. Apesar disso, a indústria têxtil gerou de janeiro a julho 20,4 mil empregos e, nos últimos 12 meses, quase 30 mil empregos. O varejo têxtil cresceu 11%”.
Ainda segundo Cezarini, o setor têxtil tem sido afetado, principalmente, pelo comportamento do consumidor.
“Este ano há um direcionamento de gastos em serviços. O consumidor, agora que a pandemia reduziu drasticamente, tem se orientado para socializar, gastando mais com turismo, hotéis, alimentação, festividades e a renda não aumentou de forma tão significativa, então, houve uma redução do dinheiro que é dirigido ao setor têxtil”.
Também pesa no setor o aumento dos juros e a elevação acentuada dos preços do algodão, que atingiu o maior patamar de preços dos últimos 10 anos. “Isso obrigou a indústria a reajustar os preços e o consumidor encontrou um vestuário bastante caro”.
Enquanto a produção do setor está caindo, o faturamento da indústria está subindo para compensar a alta do algodão. A previsão é encerrar o ano com crescimento menor.”Acreditamos que a demanda do final de ano, principalmente, Black Friday e Natal, deve puxar os têxteis para cima. Então estamos com esperança de terminar com queda de produção em torno de 2%. A economia está bastante forte e contribuindo para reduzir o desemprego. Estamos esperançosos para que o preço do algodão reduza e permita que a indústria tenha uma comercialização maior”.
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