Economia

Inteligência artificial ganha espaço no varejo mineiro e impulsiona pequenos negócios

Ferramentas acessíveis de IA transformam o dia a dia de empresas como a Drogaria Araujo até comerciantes da Feira Hippie, com ganhos em produtividade, vendas e atendimento
Inteligência artificial ganha espaço no varejo mineiro e impulsiona pequenos negócios
Foto: Giulia Simmons / Diário do Comércio

Durante muito tempo, falar em inteligência artificial (IA) parecia coisa de outro mundo para os pequenos negócios do varejo. As soluções tecnológicas estavam mais associadas a grandes empresas, com equipes robustas, consultorias caras e sistemas complexos. Mas essa realidade está mudando — e, em Minas Gerais, uma nova leva de empreendedores tem provado que é possível automatizar, vender mais e melhorar a experiência do cliente com ferramentas simples, acessíveis e que cabem no bolso.

Em Belo Horizonte, empresas de diferentes portes e setores estão incorporando a Inteligência Artificial às suas operações — do atendimento à gestão financeira. A transformação digital ganhou força nos últimos anos, e o varejo local tem demonstrado que inovação e tradição podem caminhar juntas.

Um dos principais exemplos vem da Drogaria Araujo, que, em parceria com a Blip, plataforma mineira especializada em IA conversacional, desenvolveu um canal de vendas via WhatsApp que já mudou a forma como os clientes interagem com a rede.

Drogaria Araujo da Unidade Gutierrez
Foto: Drogaria Araujo / Divulgação

“Implementamos uma solução que combina o Gemini (Google) e o ChatGPT (OpenAI) nas interações de compra dos nossos clientes. Com isso, conseguimos oferecer uma experiência personalizada, rápida e intuitiva”, explica o gerente corporativo de operação digital da rede, Pedro Henrique Pinto de Oliveira.

A aplicação da inteligência artificial no varejo tem ido muito além dos chatbots. No caso da Araujo, a tecnologia também está presente no site da empresa, com o Einstein, sistema de recomendação de produtos da Salesforce.

“As vitrines inteligentes já respondem, em média, por 15% do faturamento vindo do site. A taxa de sucesso nas buscas subiu mais de 15 pontos percentuais nos últimos 12 meses”, destaca Oliveira.

Segundo o VP de Customer Centricity da Blip, Luiz Marcelo Santos Junior, os ganhos com Inteligência Artificial no varejo incluem aumento de vendas, redução de custos e maior retenção de clientes. “Nossos clientes já relataram até 20% de crescimento em vendas por canais conversacionais, além de economia de até 60% nos custos operacionais com atendimento automatizado”, afirma.

Segundo ele, os clientes já relatam “uma redução de até 70% no tempo gasto por atendentes em chamadas repetitivas, permitindo que as equipes se dediquem a interações mais complexas e estratégicas”.

Feira Hippie: tecnologia no coração do comércio informal

Mas a revolução da IA não está restrita às grandes marcas. Na tradicional Feira Hippie de BH, artesãos como Dayse Marques, dona da loja Maria Criativa, encontraram na IA um parceiro indispensável.

“Uso o Jota há quatro meses e ele transformou minha rotina na feira, que é bem corrida; trabalho sozinha e o Jota me auxilia no atendimento de várias clientes ao mesmo tempo”, conta a empreendedora.

Comerciante Dayse Marques usa o Jota na Feira Hippie de BH
Foto: Giulia Simmons / Diário do Comércio

Ela explica que usa o Jota para pagamentos no PIX através do QR Code, “que facilita muito as cobranças, já que nem perco tempo abrindo o aplicativo bancário para conferir; o Jota me avisa na mesma hora”.

O Jota, lançado em janeiro de 2025, é um assistente financeiro por IA voltado a pequenos empreendedores. Segundo o cofundador Marcelo Leite, a ideia é democratizar o acesso à tecnologia.

“O Jota permite que o empreendedor realize qualquer operação bancária a partir de um áudio, imagem ou mensagem de texto. O Jota é extremamente acessível e conveniente, pois entende o empreendedor do jeito que ele quiser falar; isso serve como uma grande alavanca para a inclusão financeira.

Além da Feira Hippie, a equipe do Jota já firmou parcerias com outros centros comerciais em Minas. Um exemplo é a Rommanel, que adotou a tecnologia para gerar os QR Codes sempre que um cliente desejar o pagamento via PIX, através de simples comandos de voz.

Aplicativo Jota dentro do whatsapp - Inteligência Artificial no varejo
Foto: Jota / Divulgação

Inteligência Artificial no radar dos pequenos negócios

De acordo com o analista do Sebrae Minas, Victor Mota, apesar de a adoção da IA ainda estar mais concentrada em médias e grandes empresas, o cenário vem mudando rapidamente. “Oito em cada dez pequenos negócios mineiros ainda não utilizam IA, mas 63% dos que já usam pretendem expandir nos próximos 12 meses”, destaca, com base na pesquisa Negócios Digitais de 2024.

Para fomentar essa mudança, o Sebrae incorporou a inteligência artificial ao programa Varejo Mais, que oferece orientação sobre como usar a tecnologia para melhorar campanhas de marketing, personalizar mensagens e aumentar as vendas. Também lançou o curso gratuito ‘IA na Prática para Pequenos Negócios’, disponível on-line.

“O pequeno empresário não precisa começar com soluções complexas. Ferramentas como WhatsApp Business, sistemas de recomendação e chatbots já oferecem um bom retorno”, orienta Mota.

Segundo a pesquisa “Digitalização nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae Minas em fevereiro de 2025, apenas 27% dos pequenos negócios responderam que usam IA como ferramenta de trabalho.

É o caso da empreendedora Rosana Brito, dona da loja Ana Rosa Calçados, em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha. Após participar do workshop Varejo Mais, ela incorporou a IA no dia a dia e ressalta que não sabe como viveu tanto tempo sem uso a tecnologia.

Loja de Calçados Ana Rosa, em Novo Cruzeiro MG
Foto: Ana Rosa Calçados / Divulgação

“Uso o tempo todo para as mais diversas atividades. Me ajuda muito com roteiros para minhas redes sociais; script de vendas; textos do meu site (descrição de produtos, otimização de SEO; análise dos layout. Sem contar na melhoria da qualidade do atendimento, com mensagens mais profissionais”, destaca a comerciante.

IA como alavanca para produtividade e personalização

O impacto da IA vai além do atendimento e das vendas. A tecnologia permite prever demandas, otimizar estoques e automatizar tarefas rotineiras, como confirma Pedro Henrique, da Drogaria Araujo.

“Nossas ferramentas de IA já são capazes de ajudar o cliente em diversas partes da jornada, gerando um atendimento personalizado e focado em um atendimento simples e eficiente, gerando valor e relacionamento entre a Araujo e o cliente, inclusive facilitando o processo de recompra, que poderá ser feito muito brevemente em poucos cliques”, explica.

A Blip confirma essa tendência: “Com IA generativa, conseguimos personalizar mensagens e até criar campanhas de marketing direto nos canais conversacionais com base no histórico de cada cliente”, afirma Luiz Marcelo, da Blip.

A SmartZap é uma plataforma criada para transformar o WhatsApp das pequenas lojas em um verdadeiro canal automatizado de vendas e relacionamento. A solução funciona como um CRM (ferramenta tecnológica) inteligente que envia lembretes personalizados no momento certo da recompra, ajudando o cliente a não esquecer do produto — e o comerciante, a não perder a venda.

“Desenvolvemos o SmartZap para resolver um problema muito comum no pequeno varejo: a dificuldade de manter uma comunicação estratégica com os clientes. Muitas vendas são perdidas simplesmente porque o cliente esquece. Com a nossa ferramenta, a loja envia um lembrete no momento certo, sem esforço”, explica o CEO da empresa, Kildare Morato.

O foco em pequenos negócios também guiou o desenho da solução: acessível, simples e rápida de operar. “Enquanto grandes empresas têm acesso a equipes especializadas e sistemas robustos, o pequeno empreendedor faz tudo sozinho. Por isso, pensamos em uma ferramenta que não exige conhecimento técnico, nem consultoria, nem instalação. Ele só precisa estar aberto a testar”, diz Morato.

Desafios e caminhos para adotar IA no varejo

Apesar dos avanços, a falta de conhecimento técnico ainda é um obstáculo. Segundo o Sebrae, 43% dos empreendedores mineiros apontam esse como o principal desafio, seguido da integração com sistemas existentes e da manutenção das ferramentas.

No entanto, o analista do Sebrae, Victor Mota, destaca que não é necessário implementar uma solução complexa de imediato. Ferramentas simples, como chatbots para atendimento ao cliente ou sistemas de recomendação de produtos podem ser um bom ponto de partida.

“O pequeno empresário também pode começar com soluções prontas e com versões grátis, que podem ser um excelente ponto de partida para os pequenos empreendedores do varejo”, detalha.

“Defina objetivos claros, comece pequeno, utilize ferramentas acessíveis e esteja aberto ao aprendizado contínuo. O mais importante é dar o primeiro passo”, finaliza Mota.

Os exemplos dos pequenos empreendedores que já utilizam IA mostram que é possível começar com ferramentas simples, que facilitam o dia a dia, automatizam processos e que dão retorno rápido. Segundo especialistas, o uso da IA no varejo já é realidade.

Futuro promissor: do bot ao parceiro de negócios

Seja no balcão de uma grande farmácia ou numa barraca da Feira Hippie, a inteligência artificial está se tornando uma ferramenta estratégica para o varejo. Em Minas Gerais, onde o empreendedorismo pulsa em cada esquina, a tecnologia tem potencial para transformar desafios em oportunidades.

“A IA tem o potencial de transformar o varejo, tornando-o mais eficiente e centrado no cliente. Seu uso vai crescer ainda mais nos próximos anos”, avalia o analista do Sebrae.

Marcelo Leite, do Jota, vê o futuro da IA como uma aliada indispensável: “Queremos ser o braço direito do pequeno empreendedor, otimizando seu tempo e gerando insights financeiros. A tecnologia não substitui, ela potencializa.”

Para o vice-presidente da Blip, a IA será cada vez mais usada para prever tendências de compra, identificar clientes em risco de sair e antecipar demandas, permitindo que os varejistas atuem de forma mais estratégica

“Para os próximos anos, as tendências de IA no varejo apontam para uma experiência do cliente cada vez mais autônoma, preditiva e hiperpersonalizada. A IA vai aprofundar ainda mais a capacidade de personalizar a jornada do cliente”, explica Santos Junior.

A opinião sobre o futuro da Inteligência Artificial no varejo é compartilhada pelo gerente corporativo de operação digital da Drogaria Araujo. “Dessa forma, o varejo poderá evoluir de um modelo reativo para um modelo proativo, capaz de sugerir produtos e ofertas antes mesmo que o cliente manifeste sua intenção de compra”.

Dicas de como começar a usar a IA no seu negócio

Para um varejista que deseja tornar seu negócio mais tecnológico e competitivo com a ajuda da IA, as recomendações do analista do Sebrae são as seguintes:

  • Defina objetivos específicos para o uso da IA, como melhorar o atendimento ao cliente, otimizar o estoque ou personalizar campanhas de marketing.
  • Comece com ferramentas de IA prontas para uso, como WhatsApp Bussiness e chatbots para atendimento ao cliente, sistemas de recomendação de produtos e plataformas de análise de dados.
  • Utilize IA para analisar dados de clientes e oferecer recomendações personalizadas, melhorando a satisfação e a fidelização.
  • Após a implementação, monitore os resultados e esteja preparado para fazer ajustes. A IA é uma tecnologia que pode ser continuamente aprimorada para melhor atender às necessidades do seu negócio.
  • Se o orçamento permitir, contratar uma consultoria especializada pode acelerar o processo e garantir que a implementação seja feita de forma correta e eficiente.
  • Acompanhe as tendências e inovações em IA no varejo para se manter competitivo. Participar de eventos e webinars pode ser uma boa maneira de se manter informado.
  • Mas o principal conselho é: comece o quanto antes, pois o auxílio das IA pode ajudar a transformar o seu negócio e torná-lo mais eficiente e competitivo.

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