Investimento de siderúrgicas anunciado pelo governo gera dúvidas

São Paulo – O anúncio do governo federal de que a indústria de produção de aço do Brasil vai investir cerca de R$ 100 bilhões nos próximos cinco anos engloba boa parte de projetos já em andamento e previamente divulgados por empresas do setor, que vive há anos quadro de baixa demanda nacional e importações elevadas, de acordo com uma fonte e levantamento da Reuters.
Após participar de reunião com o setor na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “agora estamos anunciando mais R$ 100 bilhões de investimentos da indústria siderúrgica nos próximos cinco anos”, dando a entender que tratam-se de novos empreendimentos.
Lula e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o vice-presidente Geraldo Alckmin, no entanto, não deram detalhes dos novos investimentos, assim como empresas procuradas pela Reuters.
Uma fonte do setor, que pediu para não ser identificada dada a sensibilidade do assunto, disse que o anúncio “foi mais um movimento político” e uma “tentativa de pacificar as coisas com o governo”, por parte de um setor que cobra há anos do governo revisão das condições de competitividade do país como condição para ampliações de capacidade.
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“Foi um anúncio em que não se falou nada. Não vi nada de novo… Faltou substância”, disse a fonte. “Anunciaram 100 bilhões para gastar no quê? Quando?” Procurado, o MDIC não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
No mês passado, o governo atendeu uma das demandas do setor ao elevar de cerca de 11% para 25% a tarifa de importação de 11 produtos siderúrgicos, em medida válida por um ano. À época, o presidente-executivo da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou que a medida foi um avanço “muito importante, mas não resolve totalmente” os problemas do setor.
Procurada a respeito do anúncio de Lula, a empresa remeteu o assunto ao Aço Brasil, entidade que representa parte do parque produtor de aço do país, que não se manifestou.
Atualmente, o Brasil tem uma capacidade de produção de 51 milhões de toneladas por ano de aço bruto, segundo dados do Aço Brasil, mas em 2023 o volume da liga que saiu dos altos-fornos brasileiros foi de 32 milhões de toneladas, uma queda de 6,5% sobre 2022 e uma indicação de ocupação de capacidade de 63% ante um nível que o setor considera como ideal de acima de 80%.
Enquanto isso, a importação de aço pelo país cresceu 50%, para 5 milhões de toneladas, o equivalente à produção de uma usina siderúrgica inteira como a Ternium CSA, no Rio de Janeiro, segundo dados do Aço Brasil.
Entre os planos de investimento já anunciados pela indústria siderúrgica brasileira estão R$ 25 bilhões da ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, entre 2022 e 2026, afirmou a companhia nesta terça-feira. A conta inclui a compra da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará, por R$ 11,4 bilhões, concluída em março do ano passado.
A Gerdau, por sua vez, tem planos de investir R$ 8,6 bilhões em suas operações no Brasil entre 2021 e 2026, cifra que inclui R$ 1 bilhão em expansão florestal, em meio à estratégia do grupo de reduzir sua pegada de carbono.
Enquanto isso, a CSN, que nos últimos anos vem se diversificando e concentrando esforços no setor de cimento, menos afetado por importações, tem planos de investir por ano R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões em média entre 2025 e 2028 em projetos que incluem além de aço e cimento, mineração.
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