Um salário a mais na conta em 2026? Entenda como ficará o Imposto de Renda após mudanças
A partir de 1º de janeiro de 2026, milhões de trabalhadores brasileiros terão um alívio no bolso graças às mudanças no Imposto de Renda (IR). O projeto, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado, amplia a faixa de isenção e promete trazer mais justiça fiscal à base trabalhadora.
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Além do impacto econômico, a medida também tem forte peso político, funcionando como uma resposta prática de redistribuição de renda em meio às recentes tensões no Congresso. A reforma beneficia especialmente a classe média, enquanto amplia a tributação sobre lucros e dividendos.
Segundo cálculos da Confirp Contabilidade, quem ganha R$ 5 mil por mês terá uma economia de R$ 312,89 no IR descontado em folha — o que, ao longo de um ano, incluindo o 13º salário, representa R$ 4.067,57. “É quase um salário extra por ano. Porém, devido à progressividade do IR, os ganhos diminuem gradualmente até rendas de R$ 7.350”, explica o diretor tributário da Confirp, Welinton Mota.
Pela nova lei, que entra em vigor em 1º de janeiro de 2026, haverá um desconto variável para zerar o IR de rendas até R$ 5 mil mensais, com redução progressiva até R$ 7.350. Acima desse valor, não há benefício. A regra também se aplica ao 13º salário.
Ganho será real para o trabalhador
A advogada especializada em Direito Contábil, Mayra Saitta, explica que quem ganha até R$ 5 mil terá, de fato, um ganho real de renda.
“O trabalhador que ganha R$ 4.500 hoje paga cerca de R$ 150 a R$ 200 de IR por mês. Com a nova regra, ele ganharia esse valor ‘limpo’ direto no bolso ao longo do ano. Isso significa algo entre R$ 1.800 e R$ 2.400 a mais. Muita gente nessa faixa sente que o IR pesa porque já tem desconto de INSS e benefícios”, diz Mayra Saitta.
“A isenção tira uma camada de carga tributária e melhora a percepção de poder de compra. Ela aumenta o salário líquido de milhões de trabalhadores que recebem até R$ 5 mil e fortalece o consumo da base da classe média. É uma medida redistributiva dentro do universo dos assalariados, que deve gerar maior consumo imediato, alívio para famílias endividadas e estímulo ao mercado interno”, completa.
Além da promessa
Para o especialista em tributos e diretor da Macro Contabilidade e Consultoria, Wesley Santiago, a medida da isenção do IR foi além de promessas eleitorais.
“O governo usou essa medida como promessa de campanha do atual mandato, e foi adiante: cumpriu, e utilizou como contrapartida a arrecadação dos chamados super ricos, instituindo a alíquota mínima do imposto efetivo de 10%. Na essência, acabou tributando o que chamamos de lucros e dividendos. A ideia é que, de fato, a iniciativa foi criada visando redistribuir o imposto de renda”, diz.

Empresários podem repassar tributos
Wesley Santiago complementa seu raciocínio com um alerta: empresários que pagarão mais Imposto de Renda podem tender a repassar o valor do tributo para o consumidor final.
“O empresário tributado complementarmente como pessoa física provavelmente vai avaliar formas de repassar o imposto na cadeia de produção. Como ele tem uma tributação maior na pessoa física, é bem provável que faça o gross up, embutindo esse imposto complementar no preço. Se o mercado aceitar, o efeito pode ser o aumento nos preços para o consumidor final”, explica.
Quem ganha e quem paga a conta
- Trabalhadores que recebem até R$ 5 mil: grandes beneficiados, com ganhos de até um salário extra por ano.
- Rendas entre R$ 5 mil e R$ 7,35 mil: reduções menores, até zerar.
- Acima de R$ 7,35 mil: sem benefício.
- Sócios, empresários e investidores: passam a pagar mais com a tributação de dividendos.
O governo estima que, mesmo com uma desoneração superior a R$ 31 bilhões por ano para as camadas de menor renda, a arrecadação será compensada pelo Imposto de Renda Pessoa Física Mínimo (IRPFm), resultando em um saldo positivo de R$ 12 bilhões entre 2026 e 2028.
“A reforma pode até trazer justiça social, mas impõe novos desafios. Planejamento será fundamental para reduzir impactos e proteger os rendimentos”, comenta o diretor executivo da Confirp, Richard Domingos.
O outro lado da balança: tributação de altas rendas
O alívio para a base da pirâmide virá acompanhado de uma nova cobrança sobre os mais ricos. A reforma cria o IRPFm, que incidirá sobre lucros e dividendos hoje isentos.
Pela nova regra, lucros e dividendos pagos por uma mesma empresa a uma mesma pessoa física que ultrapassem R$ 50 mil por mês terão retenção na fonte de 10%. Já os lucros acumulados até 2025 permanecem isentos, desde que aprovados até 31 de dezembro daquele ano.

Além disso, haverá uma tributação mínima anual de até 10% para quem ganha acima de R$ 1,2 milhão por ano, considerando todos os rendimentos, inclusive isentos ou tributados separadamente, com exceções como poupança, LCI, LCA, fundos imobiliários e lucros de anos anteriores a 2026.
“A proposta muda de maneira significativa a forma como os lucros distribuídos a pessoas físicas serão tratados. Esse novo imposto tem impacto direto nas finanças de quem tem grandes rendimentos provenientes de empresas ou participações acionárias”, afirma Domingos.
Veja a seguir tabela com ganhos estimados com a proposta segundo cálculos da Confirp:
- R$ 3,4 mil → R$ 354,89 ao ano
- R$ 4 mil → R$ 1.491,89 ao ano
- R$ 5 mil → R$ 4.067,57 ao ano
- R$ 6 mil → R$ 2.336,75 ao ano
- R$ 7 mil → R$ 605,86 ao ano
- R$ 7,35 mil → sem impacto
Segundo estimativas oficiais, 10 milhões de contribuintes deixarão de pagar o imposto já em 2026, fazendo com que 65% dos declarantes do IRPF fiquem isentos — o equivalente a mais de 26 milhões de brasileiros. Na população total, 87% estarão livres do Imposto de Renda da Pessoa Física.
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