Kalil propõe aportes em infraestrutura no Estado

Encerrando a série de entrevistas com os candidatos ao governo de Minas Gerais nas Eleições 2022, o DIÁRIO DO COMÉRCIO publica hoje a conversa com o candidato Alexandre Kalil (PSD). Ex-prefeito de Belo Horizonte, Kalil integra a aliança em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que disputa a vaga à Presidência da República.
Há cerca de um mês, alguns dos principais candidatos ao cargo máximo do Executivo mineiro vêm sendo sabatinados pelo veículo, a respeito de assuntos do interesse do empresariado, como investimentos, infraestrutura, gestão pública, desenvolvimento sustentável e a estruturação de um projeto de Estado que una a sociedade mineira em torno de um propósito comum.
Lorene Figueiredo (PSOL) abriu a série, no dia 31 de agosto. Em seguida, Marcus Pestana (PSDB) falou à nossa reportagem, seguido por Carlos Viana, candidato pelo PL. Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição, foi entrevistado na última semana e hoje, Alexandre Kalil (PSD) conclui as sabatinas. Todos os conteúdos podem ser conferidos na íntegra em nossas plataformas digitais.
Nascido em Belo Horizonte, Kalil tem 63 anos e é empresário da construção civil. Foi presidente do Clube Atlético Mineiro entre 2009 e 2014. Foi prefeito da capital mineira por dois mandatos, de 2017 a 2022, quando renunciou ao cargo para disputar as eleições para governador.
Como o governo pode impulsionar a economia e a geração de empregos e renda em Minas?
Governo não cria emprego, governo dá infraestrutura para se criar emprego; para dar impulso econômico e iniciar um círculo virtuoso. Como é que você vai ter um porto-seco na Zona da Mata se a BR-040 tem um trechinho que leva para o Rio e para trás, apesar de pedagiada, está um desastre? Como vai fazer uma planta no Norte de Minas, onde não tem estrada? O certo é desenvolver um ambiente para criar empresas e empregos. Mas em Minas estamos absolutamente parados. O governo não cria emprego, quem cria emprego é empresário; o governo dá infraestrutura para que as empresas e os empregos sejam criados. O governo dá a condição de o empresário olhar com bons olhos e escolher ficar em Minas Gerais.
São inúmeros os gargalos na infraestrutura do Estado. Como pretende saná-los?
Primeiramente, tem que saber fazer projeto. Dos R$ 32 bilhões que Minas Gerais tem no acordo da Vale, ridículos R$ 700 milhões ficaram para a infraestrutura rodoviária. Esse valor não é nada para a infraestrutura do Estado. E também tem que buscar recursos; 9.000 km da malha mineira, que é a maior do País, são do governo federal. Agora eu posso prometer, porque o (ex-)presidente Lula prometeu em público: a BR-381 vai ser duplicada. É assim que se faz infraestrutura, indo lá (em Brasília) buscar. Além disso, quando se melhora a infraestrutura, é emprego na veia. Se as condições forem melhores, se atrai empresas; se empresa vem, você traz mais mão de obra e aumenta o consumo, tem quer pôr mais gente nas lojas para vender e vendendo muito, a indústria também vai ter que aumentar a produção. É outro círculo virtuoso. Porém, isso tudo precisa de um plano que vai ter que começar do zero e não será de quatro anos.
Minas Gerais ainda se encontra em situação fiscal delicada. Como a política de desenvolvimento do seu programa leva em conta essa questão? Como equacionar as finanças do Estado?
Não sei se por desdém ou por incapacidade, não fizeram um Plano de Recuperação Fiscal (PRF) para Minas Gerais. O plano em vigor foi feito em 2017 para o Rio de Janeiro, o enfiaram no Rio Grande do Sul e agora querem enfiar em Minas Gerais. Os três vão dar errado. Rio e Rio Grande do Sul já deram. A primeira coisa é sentar com o governo federal para discutir. ‘Ah, mas você só fala no governo federal’. Oh gente, hospital é governo federal, obra de duplicação é governo federal. Quem duplicou a Fernão Dias foi o Estado? Não. Quem fez as obras de contenção do Vilarinho foi o Estado? Foi a Prefeitura de Belo Horizonte? Claro que não. O Fuad (Noman – PSD) anunciou R$ 200 milhões para o corredor do Amazonas. Vai ser a Prefeitura? Não. Quem abriu o Hospital do Barreiro foi a Prefeitura? Claro que não. É preciso aprender a buscar dinheiro. Não salvaremos o Estado dentro da Fiemg. É lá em Brasília, nos Ministérios, na Caixa Econômica Federal, no BID, no Bird. Foi lá que busquei recursos quando eu era prefeito e lá tem muito dinheiro. Em longo prazo, é com planejamento que Minas Gerais vai voltar ao que era.
Todos os últimos governos se elegeram propondo a diversificação econômica, com uma industrialização voltada a bens de maior valor agregado. Mesmo assim, pouco mudou no parque industrial mineiro, que ainda é bastante especializado na produção de bens intermediários. Como pretende mudar essa realidade? Quais políticas públicas tem para a diversificação econômica?
Não sou especialista e acho isso um absurdo demagógico. Falavam que o maior turismo de Belo Horizonte seria o de negócios e, de repente, virou o Carnaval, porque quem escolhe o que vai ser turismo na cidade é o povo. A rede hoteleira achou que o melhor período para ocupação seria a Copa do Mundo e novamente foi o Carnaval que no último, pré-pandemia, colocou 80% dos hotéis ocupados. Isso não é profecia. O governo tem que cuidar de saúde, educação, infraestrutura e segurança. Se cuidar disso tudo, o resto anda sozinho. Para o empresário é o seguinte: muita ajuda quem pouco atrapalha. É só não atrapalhar com uma carga tributária imoral, senão ele vai arrecadar menos e vamos poder fazer menos ações sociais. Porque quem sustenta a pobreza é a riqueza. Quem pode ajudar o pobre é rico. Se dois pobres se abraçarem cai um por cima do outro. Quem ajuda pobre é empresário. Tem coisa que o governo tem que botar a mão, como foi no caso da pandemia. Tive que dar 6 milhões cestas básicas, distribuir refeições, álcool, máscara porque é questão de humanidade e empatia.
Qual sua avaliação sobre a privatização de empresas públicas como Cemig, Copasa, Gasmig?
A Copasa vai privatizar o que, a água de Belo Horizonte? Se privatizar a empresa, imediatamente a Prefeitura rompe o contrato e ela mesma licita e contrata o setor privado. Ou seja, estão privatizando uma concessão. Não têm noção do que pode acontecer se a Copasa for vendida. Como que uma empresa vai fazer uma licitação com o que não é dela? Já a Cemig tem que ser recuperada, pois está abandonada. Mas como vamos levar a segunda etapa do Luz para Todos com uma empresa privada? Se a conta de luz já é abusiva com a Cemig, imagina com uma privada. Que vantagem tem? A experiência que nós temos é em Macapá, que ficou sem luz na eleição e é uma empresa privada. Temos que privatizar? Temos. Mas com calma. Estrada é bom privatizar tendo estudo e Cemig é bom privatizar tendo estudo. Mas primeiro vamos trazer a empresa de volta para o lugar dela e depois vamos estudar esse tipo de coisa; isso não é para os próximos anos.
Caso eleito, como será a relação de seu governo com e a mineração? Pretende endurecer as regras para a atividade?
Como Minas Gerais sempre tratou a mineração. Tomando conta e fiscalizando. Porque nós não podemos ficar sem a mineração. Mas, de uns anos para cá, quem toma conta da mineração é o minerador. Por isso aconteceu o que aconteceu. Tem mineração aqui desde a colônia Portuguesa e nos últimos anos foi entregue para que os próprios mineradores tomem conta. Como aquele presidente da Vale que foi fazer o minuto de silêncio para 270 pessoas que ele enterrou e não teve a dignidade de ficar de pé. Ele deveria estar na cadeia até hoje. Isso porque os mineradores estão tomando conta e estão pouco se lixando. Mas a mineração está no nome de Minas. Nós vamos quebrar o Estado? Não, nós vamos tomar conta e proteger a população, porque em todo lugar do mundo se minera sem essa imoralidade. A mineração não é exclusiva de Minas Gerais, o Brasil inteiro tem, mas a tragédia só acontece quando ninguém olha e toma conta.
Qual o seu plano para fomentar o agronegócio e, ao mesmo tempo, garantir que ele cresça ainda mais contemplando práticas que sejam determinantes para a preservação do meio ambiente e do clima?
O grande agricultor está muito preocupado com o meio ambiente. Porque se mudar o regime climático, ele quebra. O grande risco que o agricultor corre é a mudança climática. Morei em Mato Grosso e sei a preocupação que eles têm com o meio ambiente. Começa a chover entre o fim de outubro até março, depois vem a seca e, se isso mudar, acaba tudo. E é uma agricultura de milhões de hectares. O grande agricultor está muito preocupado com o meio ambiente, porque ele depende do clima e sabe que se bater no clima, vai bater no negócio e no bolso dele.
Como pretende trabalhar a saúde e a educação?
Como fiz na minha cidade. Primeiramente com orçamento. O orçamento de Belo Horizonte nunca foi R$ 15 bilhões e (comigo) chegou a R$ 24 bilhões. Só esse ano o orçamento da saúde de Belo Horizonte é de R$ 5,3 bilhões. Não existe estado sem saúde, não existe município sem saúde. Mas não se pode prometer o que não vai ser feito com esse Regime de Recuperação Fiscal, porque isso é mentira e é cruel. É em Brasília que se consegue dinheiro para abrir hospital, não é aqui não. O RRF não deixa fazer PPP, porque é ampliação de serviço, custo a mais e isso o regime não deixa fazer. Está claro no artigo 8º. E se disser que vai entregar para o privado, então descobrimos a América. Se o privado vai cuidar do pobre, então pode acabar com o SUS que o governo de Minas descobriu um novo método de cuidar de pobre. E quanto à educação, teremos que começar do zero, com o básico. Não tem professores em sala de aula. Vi no noticiário e fui às universidades. Vamos colocar professor dentro da sala de aula para o aluno poder estudar e depois vamos ver como reformar o sistema pedagógico e aumentar a Escola Integral. Municipalizar a educação é fazer o abismo aumentar. O Estado tem a obrigação de dar aqui em Belo Horizonte e lá no Vale do Jequitinhonha. Ao municipalizar, a cidade rica vai ter um estudo e a pobre vai ter outro. Por isso que não pode entregar e ficar livre da educação. Isso é dever do Estado.

Qual sua visão sobre os objetivos do desenvolvimento sustentável e como a agenda 2030 está inserida no seu programa de governo?
Apesar de ter olhado para a elaboração do programa, eu não tenho conhecimento técnico sobre a agenda da ONU. Sei que envolve a universalização do estudo infantil e fundamental, mas não conheço. E não sou sabe-tudo. Vou tocar meu governo como toquei a Prefeitura: nós vamos fazer assim, chama o pessoal que entende e faz.
Vivemos hoje em um mundo polarizado carente de propósitos comuns? Qual seu projeto de estado para unir a sociedade mineira em torno de um projeto de futuro?
O cidadão quer o bem-estar. Ele pode ser de direita, esquerda ou de centro. Ele quer um serviço público decente, um ônibus decente, uma estrada decente. Isso é o que une o povo. Já o Estado zero que eles estão fazendo em Minas Gerais desune. Quando você fala que vai dar R$ 85 milhões que equivale a R$ 30 por ano por família, indigna o povo. E esse é o valor do orçamento da ação social. Isso é o que separa. Um cara não pode admitir que está abandonado. Programas de leite, sementes, de água de cisterna foram cortados. É isso que está separando as pessoas. Tem fila de jato em Minas Gerais e 2 milhões de pessoas passando fome e não tem um orçamento do plano de governo? Não tem uma ação para tirar esse povo da fome? Não estamos querendo tirar o iate, o filé mignon, o whisky de ninguém, mas dar. Continuem faturando com soja, milho, proteína e vamos pegar esse imposto e vamos ter que distribuir. Tem que pegar esse imposto e usar para não deixar gente revirando lixo e comendo osso. É assim que une o País. O seu hospital particular está cada vez melhor? Ótimo, mas não pode faltar remédio na Farmácia de Minas. Nós vamos equilibrar. Não vamos tirar nada nem prejudicar em nada quem tem, mas o governo vai fazer o papel dele para quem não tem.
Este é o caminho para tratar de problemas urgentes e estruturantes como desigualdade social e distribuição de renda?
O caminho é colocando no orçamento. Tem R$ 11 bilhões de déficit e agora outros R$ 12 bilhões que o governo federal e os deputados bateram a carteira de Minas. Por isso, no ano que vem não será R$ 11 bilhões e sim R$ 23 bilhões, porque não tem nada arrumado e tudo aumentou. E R$ 85 milhões para combate à fome em um orçamento de R$ 110 bilhões está errado. Temos que arrumar isso.
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