Economia

Lula deve deixar política de lado para ampliar governabilidade

Expectativa em relação ao novo governo significa, na análise de especialistas, que as forças ficarão mais equilibradas
Lula deve deixar política de lado para ampliar governabilidade
Crédito: Carla Carniel/Reuters

Após subir a rampa do Palácio do Planalto, na capital federal, no último domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o poder com o desafio de liderar um País ainda marcado pela divisão política e por uma economia conturbada. No entanto, por conta das últimas declarações públicas em que se apresenta com bastante otimismo para o terceiro mandato, especialistas acreditam que o novo governo deve aumentar a governabilidade, tirando elementos políticos da pauta.

“Podemos observar que o mercado financeiro tem apresentado uma certa melhora após a vitória de Lula, depois voltou a cair e, até poucos dias, se mostrou com uma certa melhora, mas nada muito significativo. Desta forma, há uma depreciação dos ativos brasileiros em função dessa incerteza. Essa composição política, essa governabilidade de partida traz algum alívio à impressão que a gente tem olhando o comportamento do mercado nos últimos pregões. Eu acho que essa composição mais ampla do governo acaba aumentando a sustentabilidade e a governabilidade do próximo governo, que tira o elemento de crise política um pouco da pauta”, avalia o professor de Economia da Unimontes Geraldo Carvalho de Araújo.

Segundo o especialista, essa expectativa em relação ao novo governo significa que as forças ficam mais equilibradas. “O que se espera é que o Congresso acabe por definir uma dinâmica mais contida na própria definição e execução dos orçamentos que o governo Lula terá pela frente”, acrescenta o docente.

Para o economista Ricardo Ruiz, o primeiro grande termômetro para que o mercado possa ter uma resposta mais concreta frente ao futuro do governo Lula se baseará na taxa de juros. “Temos a dívida pública hoje no patamar de 77,78% ou talvez um pouquinho mais. Então, é um volume razoavelmente elevado. Nosso padrão tem um custo e o custo da taxa depende da percepção de risco que os investidores têm em relação à condução da política fiscal pelo governo federal a longo prazo. A percepção só vai piorar se houver uma percepção ruim em relação ao risco fiscal”, avalia.

Araújo ainda salienta que, com a posse de Lula, o Brasil terá um desafio inicial já agora no mês de janeiro. “Temos aí quase R$ 300 bilhões que vencem. Fora que entra em ofício também em janeiro um novo secretário do Tesouro Nacional. Vamos ver como é que o governo vai conduzir essa rolagem da dívida nos próximos dias. Afinal, essa pauta necessita de uma importante definição”, diz.

Quanto à reforma tributária, o especialista em Direito Tributário Empresarial Antonio Carlos Morad acredita que o governo Lula deve equilibrar e facilitar a forma de arrecadação e distribuição. “Isso posto na prática seria como corrigir o orçamento de uma família. Aumentar a liquidez dos ganhos dos familiares que trabalham, gerando equilíbrio no cômputo e, com isso, tendo maior capacidade financeira para subsistência, sem esquecer de uma maior capacidade em poupar”, pontua.

Morad avalia que haverá um cenário de mudanças na tributação de altas rendas e dividendos de investimentos. “Correções no Imposto de Renda e na cadeia dos tributos indiretos também deverão estar nesse alvo, entre outras mudanças que certamente serão bastante significativas. Por certo, a reforma tributária não afetará negativamente ninguém, e sim potencializará a melhora de vida de toda a sociedade, contudo, aqueles que se posicionarem contra, obviamente não terão vozes suficientes para brecar a evolução desse nosso País no que tange à justiça social e ao crescimento comum de todos os brasileiros”, prevê.   

Representatividade pela imagem

Uma grande marca da campanha petista rumo à vitória das urnas eleitorais foi o discurso da inclusão social por meio de políticas públicas. O cientista político José Lourenço Feijó acredita que a intenção do governo Lula é estreitar as relações com representatividades.

“A gente vê toda essa movimentação e discursos de inclusão, pois o PT quer trabalhar a todo o custo a popularização da sua imagem. A imagem do partido, querendo ou não, enfrentou fortes ataques nos últimos anos, e para Lula, assim como para o PT, não seria nada benéfico a promoção da sigla no momento. A aposta é crescer a imagem do partido, já projetando as eleições de 2026, por meio de ações de representatividade”, diz.

Na prática, numa sociedade em que a visibilidade conta muito, a representatividade ganhou mais espaço com o avanço das políticas para as mídias digitais. O sociólogo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) André Caetano ressalta que o futuro do governo Lula pode se beneficiar desses recursos para fortalecer a atuação institucional.

“A inclusão social começa com a representatividade,  e, muitas vezes, o loteamento dos ministérios passam pelos acordos entre partidos, passam pelos acordos políticos, e a definição de nomes, como ocorreu nos últimos dias, foi importantíssima para abranger grupos da sociedade que são excluídos em detrimento da ignorância política”, destaca.

“Acho que a dificuldade do novo governo foi de lidar com os partidos aliados, inclusive do próprio PT. Os partidos quiseram fechar com pessoas do ambiente deles para ocupar os ministérios e que não seriam pessoas com papéis engajadores da sociedade. No entanto, apesar de uma certa demora para apresentação, alguns nomes foram muito bem escolhidos frente à ampla caminhada de defesa da democracia, que também traz as demandas sociais relativas às minorias políticas”, comenta André.

Defesa pela democracia

Para Feijó, o discurso de defesa pela democracia e de promoção política em favor das mulheres, afrodescendentes, povos originários, LGBTQIA+, trabalhadores, entre outros movimentos, vem junto com um partido de um grupo que já tinha isso na sua ideologia e no seu programa.

“O governo se mostra amplo para dar conta de tudo, de todas as pessoas, como lembrou Lula dizendo que pretende governar para um Brasil e não para dois ‘Brasis’. A gente sabe que é um desafio governar um País na proporção como é o nosso. É como uma sinfonia, em que é necessário um conjunto de ações e de coordenações para que se tenha uma performance perfeita. Diante dessa pauta, estou bastante convicto que o governo deve assumir importantes avanços no cenário nacional”, conclui.

Antonio Carlos Morad. especialista em Direito Tributário Empresarial também analisa as expectativas em relação ao novo governo comandado por Lula; assista!

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