Economia

Macaúba pode revolucionar produção de combustível sustentável de aviação

Inauguração do Acelen Agripark, centro de tecnologia e inovação do agronegócio, no Norte de Minas, foi tema de audiência pública da Comissão de Minas e Energia da ALMG
Macaúba pode revolucionar produção de combustível sustentável de aviação
A macaúba apresenta características favoráveis à produção de combustível - CRÉDITO: ARQUIVO

Em um cenário em que a eletrificação da aviação comercial ainda enfrenta grandes desafios, como o peso excessivo das baterias, o Brasil aposta em uma alternativa mais viável e sustentável: o biocombustível extraído da macaúba. Típica do semiárido e do Cerrado, a palmeira pode produzir até dez vezes mais óleo por hectare do que a soja e se apresenta como solução promissora para a produção do combustível sustentável de aviação, ou SAF, sigla em inglês que representa esse filão de mercado.

Esse potencial foi o centro das discussões de uma audiência pública realizada nesta segunda-feira (12), pela Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), presidida pelo deputado Gil Pereira (PSD). O evento destacou a inauguração, prevista para o próximo mês, do Centro de Tecnologia e Inovação do Agronegócio – o Acelen Agripark – na região de Montes Claros, Norte de Minas.

O complexo, que recebeu investimento de R$ 314 milhões, ocupa uma área de 138 hectares e terá capacidade para produzir, mensalmente, 1,7 milhão de sementes e 10,5 milhões de mudas por ano. A iniciativa faz parte do projeto da Acelen Renováveis, braço de energia verde da Acelen, que já anunciou aporte inicial de US$ 3 bilhões no Brasil. A expectativa é de geração de até 85 mil empregos, diretos e indiretos, com foco especial na agricultura familiar, movimentando cerca de R$ 40 bilhões na economia nacional até 2035.

“É um projeto ambicioso de forte impacto econômico e social em Minas Gerais e na Bahia e que promete ser parte da solução para o desafio da descarbonização global. E o melhor é que está sendo implementado de forma integrada com instituições de ensino superior, como a UFMG e a Unimontes, utilizando a tecnologia já desenvolvida por eles”, afirma o deputado Gil Pereira (PSD).

Acelen Agripark: solução de problema global passa pelo Norte de Minas

Macaúba
Foto: Divulgação Acelen Agripark

Além de ser altamente produtiva, a macaúba é uma cultura perene, que não compete com alimentos e pode ser usada na recuperação de terras degradadas. A planta, que pode alcançar 25 metros de altura e tem alta resistência à seca e a variações climáticas, é considerada ideal para as condições do semiárido mineiro.

O vice-presidente Operacional da Acelen Renováveis, Marcelo Cordaro, explicou que o SAF produzido a partir da macaúba pode reduzir em até 80% as emissões de gases de efeito estufa em comparação ao combustível fóssil. Atualmente, a aviação é responsável por 3% dessas emissões globais, e há poucas alternativas para reduzir esse impacto.

“O Brasil tem duas Alemanhas de terras degradadas. Se explorarmos apenas 1% disso chegaremos perto de produzir todo SAF que o mundo precisa”, comparou Marcelo Cordaro. Segundo ele, após dois anos e meio de estudos, o Norte de Minas se mostrou a melhor região para iniciar a produção, tanto pela aptidão climática quanto pela disponibilidade de terras.

Projeto tem ligação com Montes Claros e Salvador

A implantação do Agripark em Montes Claros é simbólica: a cidade venceu Salvador – que já abriga uma biorrefinaria da empresa – na disputa pelo projeto. O prefeito Guilherme Augusto Guimarães de Oliveira celebrou a conquista, posicionando Montes Claros como referência em inovação energética. “O poder hoje no mundo está na produção de energia, e Montes Claros, que já é um importante polo farmacêutico da América Latina, quer ser a Arábia Saudita da energia sustentável”, definiu. 

Representantes de entidades rurais, instituições de ensino e órgãos de fomento, como a InvestMinas, também participaram da audiência. O diretor de Atração de Investimentos da agência, Ronaldo Alexandre Barquette, frisou que o projeto agrega valor à cadeia produtiva, gera empregos em diversos níveis e impulsiona o desenvolvimento regional.

O projeto integra ciência, tecnologia, sustentabilidade e inclusão social em uma cadeia produtiva inovadora. A aposta na macaúba como matéria-prima do combustível do futuro posiciona o Brasil como protagonista em uma transição energética que exige urgência e soluções escaláveis.

Esse é um problema global que precisa de uma solução em rede. A Acelen é uma startup colaborativa que prevê a colaboração global. Nosso desafio é produzir SAF de forma competitiva e a macaúba foi a melhor solução que nós encontramos. Será uma contribuição importante num mercado global em termos de reduzir o efeito estufa”. Concluiu Cordaro, confiante no papel que o Norte de Minas pode desempenhar nesse novo capítulo da energia sustentável.

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