Mercado interno retrai e produção de ferro-gusa deve cair em Minas Gerais

Se as perspectivas do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer-MG) se confirmarem, a produção de ferro-gusa pelas usinas independentes mineiras será de 3,8 milhões ou 3,9 milhões de toneladas em 2023. Esse volume representará uma baixa de 5% a 7% em comparação ao que foi produzido no ano passado, cerca de 4,1 milhões de toneladas.
O presidente da entidade, Fausto Varela Cançado, explica que essa provável queda tem ligação com uma forte retração no mercado doméstico de 28% entre janeiro e novembro deste ano, ante igual período anterior. Nesse mesmo intervalo, as exportações, segundo ele, subiram 2,6%, revertendo o quadro visto no primeiro semestre, quando os embarques recuaram e foram responsáveis, junto com os custos elevados frente aos preços praticados, pelo recuo produtivo.
Conforme o executivo, o cenário atual das aciarias e das fundições brasileiras, principais consumidoras do ferro-gusa, impactaram o resultado. Ele enfatiza que a Associação Brasileira de Fundição (Abifa) registrou, até outubro, uma queda de 10,7% na produção de ferro fundido, enquanto o Instituto Aço Brasil, observou uma redução na fabricação de aço bruto de 8,1%, afetada, sobretudo, por uma robusta alta nas importações, que vem gerando problemas no País.
A crítica situação dos setores, que reflete na produção de ferro-gusa, também é vista em Minas Gerais. A indústria de fundição do Estado, que antes previa uma alta de 10% em 2023 frente a 2022, agora prevê uma alta menor, em torno de 6,4%. Já as siderúrgicas mineiras produziram menos até novembro e estão tomando fortes medidas em razão do aumento dos importados, como a Usiminas em Ipatinga, a Aperam South América em Timóteo e a ArcelorMittal em Juiz de Fora.
Preços baixos e custos altos também impactam
A provável queda produtiva de ferro-gusa neste ano interromperá uma sequência de praticamente dez anos de crescimento, segundo Cançado. Esse corte também será fruto, conforme ele, de problemas ocasionados pelo baixo preço da commoditie em relação ao alto custo para produzi-la. O presidente do Sindifer-MG lembra que, no exercício passado, a média de valores de venda do insumo era positiva para o setor, motivada por eventos como a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Expectativa para 2024 é de retomada na produção de ferro-gusa em Minas Gerais
Entre o final de outubro e o início de novembro, a procura por ferro-gusa cresceu, dando indícios de melhora ao setor, que vê com otimismo o próximo ano, de acordo com o dirigente. Cançado destaca que a tendência de queda dos preços também começaram a se inverter. Adicionalmente, ele acredita bastante nos frutos dos trabalhos da entidade, que vem apresentando constantemente para investidores estrangeiros, o quanto a produção do insumo é sustentável em Minas Gerais.
“Pelos indicadores dos últimos meses, já estamos recuperando. Há sinais de recuperação não só em demanda, como em preço, o que é positivo e faz com que a gente continue otimista. Além disso, tem o fator do meio ambiente que acreditamos que terá uma boa mudança em 2024. E esperamos ainda que haja uma alteração no comportamento do mercado doméstico, uma recuperação tanto nas fundições quanto nas aciarias, o que pode elevar o consumo interno”, disse.
Tecnologia limpa no processo produtivo
Recentemente, Cançado visitou o Japão para expor a produção mineira sustentável de ferro-gusa. A atração dos estrangeiros é graças ao uso de uma tecnologia limpa no processo produtivo do insumo no Estado, que emprega o carvão vegetal, 100% oriundo de florestas plantadas em substituição ao coque metalúrgico. Esse movimento traz um balanço positivo para o meio ambiente e a cada tonelada produzida, há um sequestro de 1,8 tonelada de CO2 da atmosfera.
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