Economia

Intoxicação por metanol agrava pressão sobre o mercado de bebidas em Minas

Setor revisa crescimento e reivindica fiscalização severa da cachaça clandestina, responsável por mais de 50% do consumido no Estado
Intoxicação por metanol agrava pressão sobre o mercado de bebidas em Minas
Mais da metade da cachaça produzida em Minas vem de alambiques irregulares | Foto: Guilherme Bergamini / ALMG

A onda de contaminações por metanol em São Paulo coloca em alerta a procedência de bebidas em todo o País, incluindo Minas Gerais. O Estado, que lidera a produção nacional de cachaça, possui o maior mercado clandestino de alambiques, cuja produção pode corresponder a mais de 50% do total consumido no território.

Diante da insegurança causada pelos casos de intoxicação e do desempenho tímido ao longo do ano, o setor de bebidas revisou as projeções de crescimento, que devem se manter no mesmo patamar de 2024. As informações são do presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas), Mário Marques.

O dirigente revela que a falta de fiscalização severa de bebidas por parte da Vigilância Sanitária, especialmente em alambiques não registrados, pode levar a uma crise no Estado, considerado berço da produção de cachaça no País. “Estamos preocupados com o ocorrido em São Paulo e isso não pode ser tratado de maneira pontual. Temos muitos comerciantes que trabalham com cachaças clandestinas e precisamos de soluções em benefício da indústria e do consumidor”, ressalta.

Há sete anos, a cachaça clandestina no comércio de Belo Horizonte chegou a corresponder a mais de 90% da comercialização total da bebida. Segundo Marques, embora o cenário de procedência tenha evoluído, mais de 50% ainda são derivados de alambiques irregulares, alimentando a insegurança do consumidor e do próprio mercado.

A presença expressiva de produtos sem registro intensifica a concorrência desleal, ameaça a saúde pública e compromete a confiança nos produtores formais, que já enfrentam margens apertadas e retração nos investimentos. “Como não há fiscalização efetiva nem aplicação rigorosa de multas, quem comercializa bebidas irregulares dificilmente responde criminalmente. Precisamos de uma lei que realmente proteja o consumidor”, reforça o dirigente.

Após os recentes casos envolvendo metanol, Marques destaca que o mercado de bebidas em Minas Gerais já está se articulando, junto a algumas prefeituras, para apertar a fiscalização. No comércio, a recomendação até o momento é direcionada à aquisição de produtos com nota fiscal e de estabelecimentos idôneos, além de confirmar a presença do selo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na rotulagem das garrafas.

Para o futuro, a expectativa é que seja estabelecido um conjunto de ações, com a mesma força de combate ao crime organizado, a partir da união entre Vigilância Sanitária, Ministério Público e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Precisamos que os órgãos municipais entendam o ocorrido como alerta e estamos dispostos, com mão de obra e conhecimento, a ajudar nessa execução”, acrescenta o dirigente.

Queda na venda de cervejas preocupa o setor

Além da insegurança com os recentes acontecimentos envolvendo o metanol, o setor segue apresentando desempenho aquém do esperado em 2025. O principal recuo está concentrado na comercialização de cervejas, que foi prejudicada especialmente pelo inverno prolongado em muitas cidades de Minas Gerais, incluindo a Capital.

Apesar disso, a chegada da primavera e de eventos comemorativos, como o Natal e o Ano Novo, deve dar novo fôlego ao setor. A principal aposta, no entanto, são as bebidas mistas, que combinam cachaça, destilados e outros insumos, atraindo o público jovem e ampliando as oportunidades de venda.

Esse segmento tem apresentado crescimento acima da média e pode compensar parcialmente os efeitos da concorrência irregular e da retração do consumo de produtos tradicionais. “As bebidas mistas são a aposta do momento: não é preciso produzir na hora, vêm prontas para o consumo. São a bola da vez e, com o calor, devem ganhar ainda mais destaque no cenário mineiro”, prevê.

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