Economia

Minas Gerais é o terceiro estado com mais retailtechs ativas no Brasil; conheça mercado

Já Belo Horizonte é a segunda cidade com maior número deste tipo de startups em atividade no País, com 30 empreses sediadas na capital mineira
Minas Gerais é o terceiro estado com mais retailtechs ativas no Brasil; conheça mercado
Crédito: Reprodução Adobe Stock

O mercado de retailtechs, startups voltadas para o desenvolvimento de soluções tecnológicas e inovação para o varejo, vem crescendo em Minas Gerais nos últimos 10 anos. De acordo com dados da pesquisa “Startup Landscape: Retailtechs 2024“, realizada pela Liga Ventures, o Estado é o terceiro no Brasil com o maior número de empresas desse tipo, com 43 no total.

A maioria das retailtechs mineiras atua nas áreas de comunicação e relacionamento com o cliente e de criação e personalização de e-commerce, com cinco startups em cada categoria. Outro grupo que também se destaca é o de fidelização do cliente, com quatro empresas voltadas para este serviço.

O estudo realizado pela Liga Ventures também aponta que, dentre as cidades de Minas, o grande destaque fica para Belo Horizonte, com 30 retailtechs sediadas no município, o equivalente a 70% do total em Minas. Outro destaque é Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com cinco empresas deste tipo, ou 12% do total.

Em seguida aparecem Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, ambos com duas startups voltadas à inovação no varejo.

As outras quatro retailtechs estão distribuídas por Governador Valadares, no Vale do Rio Doce; Montes Claros, no Norte de Minas, Nova Lima, na Grande BH, e Sete Lagoas, na região Central do Estado.

O cofundador e diretor da Liga Ventures, Daniel Grossi, destaca que o Estado possui algumas startups de grande relevância para o setor varejista. Ele ressalta que a primeira startup mineira a realizar uma oferta pública inicial (IPO, sigla em inglês) na bolsa de valores foi uma empresa ligada ao varejo, a Méliuz. “O segmento de retailtechs é bastante relevante no mercado de startups de Minas Gerais”, disse.

De acordo com o levantamento, o Estado é o terceiro do Brasil com maior número de retailtechs ativas, respondendo por 10% do total registrado no País. Minas só está abaixo de São Paulo e Santa Catarina, com 48% e 11%, respectivamente. Já Belo Horizonte ocupa a segunda posição do ranking entre as cidades, com 8% das empresas; perdendo apenas para a capital paulista (41%).

O estudo ainda aponta que Minas Gerais passou por um período de forte crescimento no número de startups deste tipo entre os anos de 2008 e 2021, com 41 retailtechs sendo fundadas no período. Desde então, não houve mais registros de novas empresas deste segmento no Estado.

Homem parado em frente a um freezer de supermercado.
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Cenário nacional das retailtechs

Ao todo, o Brasil possui 450 retailtechs ativas no mercado, divididas entre 31 categorias. Assim como no mercado mineiro, a maioria das startups deste tipo no País atua na área de comunicação e relacionamento com o cliente, com 49 empresas, o equivalente a 10,89% do total em atividade.

Nos oito primeiros meses deste ano, o mercado nacional de retailtechs registrou 26 investimentos realizados neste tipo de empresa, o que movimentou cerca de R$ 607 milhões no período.

O diretor da Liga Ventures aponta que esse mercado é um dos mais maduros do Brasil, em termos de investimentos. Ele lembra que, desde o surgimento da internet, as empresas têm demandado ferramentas que possam incrementar as vendas.

Para Grossi, um dos momentos mais importantes para o segmento foi o período da pandemia de Covid-19, quando houve um aumento na busca pela digitalização do mercado. Além disso, as empresas do varejo tradicional precisaram se adaptar rapidamente a novos modelos, como o e-commerce.

“Todos precisaram se adaptar e evoluir os processos de digitalização porque a demanda cresceu absurdamente de uma hora para outra. Então, de 2020 para 2021 nós percebemos um salto gigantesco de investimentos direcionados a retailtechs”, relata.

Durante esse período, os investimentos cresceram mais de 10 vezes, como destaca o especialista, passando de R$ 838 milhões, em 2020, para R$ 11,388 bilhões no ano seguinte. De acordo com o executivo, esse montante superou os valores observados nas demais categorias.

Grossi ainda lembra que esse avanço também foi acima do registrado pelo mercado de startups, no geral, que passou de cerca de R$ 10 bilhões para R$ 48 bilhões em 2021. Esse crescimento, segundo o empresário, pode ser explicado pelo fato de o varejo ser um mercado que tende a sofrer os efeitos das mudanças de comportamento de forma quase instantânea.

Ele também ressalta que 2021 foi um ano marcado por um pico de investimentos em startups causado pela corrida em busca da digitalização somada a um período de retomada do otimismo no mercado, além dos juros e da inflação mais baixos. “Isso fez com que os investidores buscassem investimentos de maior risco”, completa.

Esse cenário, segundo o empresário, permaneceu até meados de 2022, quando começou a guerra entre Rússia e Ucrânia, que deu origem a um ambiente de incertezas no mercado, com juros e inflação elevados.

No caso das retailtechs, os anos seguintes foram marcados por estabilidade, com leve queda nos investimentos, mas permanecendo em um patamar pouco acima do observado nos anos anteriores a 2021.

“Os investimentos em retailtechs não têm apresentado crescimento desde 2021, mas sim uma queda gradual. Por outro lado, elas seguem no Top 3 de categorias de startups que mais atraem investimentos no Brasil. Portanto, mesmo sofrendo uma queda, ele segue sendo um setor muito relevante”, explica.

O especialista ressalta ainda que o varejo, no geral, não está passando por um bom momento, o que acaba impactando nos resultados apresentados pelas empresas de tecnologia voltadas para o desenvolvimento de inovações para esse segmento.

Expectativas do segmento de retailtechs

Considerando os resultados observados nos últimos anos, Grossi avalia que o mercado de startups não terá um grande salto de investimentos nos próximos anos. Por tanto, a tendência de estabilidade deve permanecer por mais algum tempo.

O executivo da Liga Ventures também destaca o grande número de aquisições de startups voltadas para o varejo nos últimos anos. Segundo ele, o setor de retailtechs é mais desenvolvido que startups de outros mercados no que diz respeito às fusões e aquisições.

Carrinho de supermercado.
Foto: Adobe Stock

Entre os anos de 2020 e 2023 foram registrados 56 processos de fusões e aquisições no mercado de startups voltadas para tecnologia no varejo. Já no período entre os meses de janeiro e agosto deste ano, foram realizados sete procedimentos deste tipo. “Os principais varejistas do Brasil são grandes compradores de startups”, afirma.

Além disso, ele ainda aponta para o fato de que a maioria das tecnologias mais utilizadas no varejo estão relacionadas à cadeia de dados. Segundo Grossi, esse cenário não chega a ser uma surpresa, uma vez que o varejo trabalha orientado por meio de dados, mas a dominância dessas tecnologias é algo que tem chamado a atenção.

Além disso, 94 startups analisadas já contam com a inteligência artificial como foco de suas aplicações, o que, segundo o empresário, demonstra uma resposta rápida para explorar tudo que esteja ligado a esse tema.

“Eu acredito que isso reflete a vocação do varejo de utilizar dados. Quando falamos em inteligência artificial, que é o grande tópico do momento, a principal matéria prima para fazer qualquer coisa relacionada à IA é uma boa base de dados”, avalia.

Ele também aponta para o aumento do interesse por soluções ligadas à omnicanalidade, ou seja, a integração de diferentes canais, tanto físicos quanto digitais. Grossi cita como exemplo o período em que as grandes varejistas apostaram na estruturação da frente de logística, principalmente, na fase de entrega do produto.

Agora, com a ascensão da inteligência artificial, o cofundador da Liga Ventures acredita que essa tecnologia poderá potencializar ainda mais o relacionamento com o consumidor.

“Isso porque ela nos permite reunir os dados sobre os clientes, interpretar e reagir de forma individual. Nós acreditamos que esse processo de hiperpersonalização vai ganhar muito espaço nos próximos anos”, avalia.

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