Mineiros não aprovam federalização da Cemig pelo governo do Estado

A maioria dos mineiros desaprova a federalização da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A informação é da pesquisa da Quaest, que apontou que 49% dos entrevistados não acatam a passagem da direção da estatal para o governo federal, enquanto 37% são a favor da mudança. Outros 14% não quiseram ou souberam opinar. A federalização da Cemig é uma estratégia para Minas Gerais renegociar as dívidas com o governo federal, que hoje estão estimadas em torno de R$ 165 bilhões.
Segundo o analista da Genial Investimentos, Vitor Souza, a Cemig é uma estatal de Minas Gerais que, se passar para o governo federal, pode se distanciar dos interesses do povo mineiro. “Desde a primeira gestão do governador Romeu Zema (Novo), a gestão da estatal tem sido razoável, com destaque para o bom desempenho no segmento de distribuição que, se não for focado em resultados, tende a trazer problemas. A empresa também veio se recuperando bem das dívidas acumuladas em anos anteriores”, afirmou.
Para Souza, um dos entraves da federalização do Cemig é que a gestão será imediatamente trocada por outra, indicada pelo governo federal. “Desde o início do governo Lula tem sido muito falado sobre a possibilidade de levar para o governo federal uma estatal do setor de energia elétrica. Com essa possibilidade apontando para a Cemig, fica a dúvida do quê o governo federal poderia fazer com essa estatal em suas mãos”, ponderou.
Por isso, o analista avalia que a federalização seria uma notícia negativa tanto para a empresa estatal mineira de capital aberto quanto para a população de Minas Gerais. “Nosso receio reside em três pilares, sendo o primeiro a ausência de ambiente favorável para privatizações no Estado de Minas Gerais; a eventual substituição dos atuais executivos da Cemig e sobre como seria a remuneração ao acionista minoritário e, claro, quais valores seriam oferecidos a eles”, enumerou Souza.
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O analista alertou que a federalização trata-se de uma questão que tem a política muito enraizada. “O presidente do Senado (Rodrigo Pacheco – PSD) e o ministro de Minas e Energia (Alexandre Silveira – PSD) não são técnicos, mas ambos têm interesses políticos em Minas Gerais e por isso são a favor da federalização da Cemig”, pontuou.
Governo pode trazer retrocesso para Minas com a Cemig
Para o consultor independente para assuntos de energia, Rafael Herzberg, o principal ponto que deve ser levado em consideração é que a empresa precisa continuar atendendo os clientes. “Está em jogo um tema muito importante, que pode afetar toda uma população, mas há uma questão que também deve ser levada em consideração: Quem controla e quem deveria controlar? Uma gestão empresarial ou uma gestão política?”, questionou Herzberg.
Ainda segundo ele, existem partidos políticos que comandam o setor elétrico brasileiro. “É um cenário péssimo e perigoso para o País. Ao invés de direcionar os esforços e concentrar na empresa, a discussão é desviada pelo jogo de poder e quem perde é o Brasil”, pontuou.
De acordo com o diretor da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, a proposta de federalização da Cemig seria um tremendo retrocesso para Minas Gerais e para o setor elétrico como um todo. “A Cemig já vem atuando nos moldes de uma empresa privada e a possibilidade de voltar a atuar como uma estatal do governo seria um grande retrocesso. O segmento foi privatizado no País inteiro e agora criar uma “nova” estatal seria um aleijão para o setor”, avaliou.
Mas a proposta de federalização de estatais em Minas Gerais não está restrita apenas à da Cemig. Também figuram na lista a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). As três empresas juntas valeriam cerca de R$ 50 bilhões, algo em torno de 30% do total da dívida, segundo estimativas feitas por deputados mineiros.
Procurada pela reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO, a Secretaria de Desenvolvimento de Estado de Minas Gerais (Sede-MG) disse que ainda não está se pronunciando sobre o assunto. Já a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) não conseguiu, até o final da reportagem, fonte para comentar o assunto.
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