Marília Campos: Contagem vai receber R$ 10 bilhões em investimentos nos próximos anos; veja entrevista

Prefeita mais bem votada do País nas eleições 2024, Marília Campos (PT) foi reeleita em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), com 188.228 votos válidos. Aos 59 anos, vai iniciar seu quarto mandato à frente do Executivo de uma das maiores e mais importantes cidades mineiras, com população de 621 mil habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 30,441 bilhões.
Com Marília Campos, o Diário do Comércio dá início a mais uma série de entrevistas especiais. Dessa vez, ouvindo os prefeitos eleitos ou reeleitos em Contagem, Betim, Nova Lima e Belo Horizonte. Passado o pleito municipal, agora queremos ouvir dos gestores suas expectativas, desafios e planos para os próximos quatro anos.
Assista à entrevista com Marília Campos na íntegra:
Em Contagem, os desafios passam pela infraestrutura, área que, segundo a petista, já vem sendo trabalhada desde que retornou ao cargo máximo da prefeitura. Agora, segundo ela, além da continuidade dos trabalhos, especialmente no que se refere a obras, haverá foco e direcionamento de recursos para o campo social.
Os investimentos públicos em curso somam R$ 1,5 bilhão e os privados estimados totalizam R$ 10 bilhões.
Você foi a prefeita mais votada no Brasil e agora para o 4º mandato à frente da Prefeitura de Contagem. Qual o sentimento e a que você atribui essa vitória?
Gosto de dizer que valeu muito a pena, pois toda uma trajetória de trabalho, dedicação, comprometimento e sonhos de muita gente fez a cidade melhorar. Apesar dos desafios permanentes, Contagem está melhor desde que assumimos o governo. Me sinto muito feliz como prefeita, pois, ao andar pelas ruas, recebo o reconhecimento das pessoas. Elas dizem: ‘Marília, eu te amo, gosto de você, continue firme, muita saúde, Deus te abençoe’. Tudo isso é muito gratificante. Por isso, atribuo essa vitória à estratégia que sempre adotamos, especialmente na última eleição, de fazer uma polarização, mas não ideológica, entre direita e esquerda ou com padrinhos políticos. A polarização que buscamos é em torno do compromisso com a cidade, mostrando realizações e o projeto de cidade que queremos construir. Quando dizem que venci porque não polarizei, explico que, sim, polarizei, mas em torno desta pauta, desta agenda municipalista, focada no que faço e defendo para a cidade. Por isso tivemos essa vitória.
O que mudou do primeiro mandato, entre 2005 e 2008, para o próximo que vem por aí?
A infraestrutura da cidade melhorou muito, com intervenções, obras de drenagem e novo asfalto. Os equipamentos públicos também avançaram. O pessoal fala, ‘você é a mãe do Cemei’, que são as escolas de educação infantil na cidade. A gente construiu quase 30 escolas de educação infantil, não neste mandato, mas nesse percurso, o que permite às crianças iniciarem a vida escolar mais cedo e, portanto, com mais oportunidades para um projeto acadêmico de mais sucesso. A saúde foi amplamente reconstruída, tanto na atenção básica quanto na urgência e emergência, resultando em um sistema mais eficiente. As políticas sociais são políticas que a população mais vulnerável precisa. E Contagem mantém sua posição como terceira maior arrecadação do Estado e hoje também com o maior saldo de empregos de Minas Gerais, segundo os últimos dados do Caged: 5.108 novas vagas com carteira assinada. Esse crescimento gera mais renda e justiça social, fruto de uma política desenvolvimentista. A cidade é atrativa tanto pela localização estratégica, próxima a Belo Horizonte, quanto pelas melhorias na infraestrutura, que fortalecem empresas locais e atraem novas e pela disponibilidade de distritos industriais, comércio e serviços cada vez mais robustos.
Qual vai ser seu grande desafio para o próximo mandato?
Estou focada em concluir várias obras. Estamos com um investimento público de R$ 1,5 bilhão na cidade, em todas as áreas, principalmente em mobilidade, uma das principais demandas da população, incluindo o transporte coletivo também. Quero concluir esse conjunto de obras e priorizar a urbanização das vilas e favelas de Contagem, para melhorar a vida do povo mais pobre onde ele mora. Já estou sistematizando e consolidando os contratos para viabilizar intervenções mais organizadas nas áreas mais vulneráveis. Outro grande desafio é atender à população de rua. A gente está hoje com um cadastro de quase 500 moradores e moradoras em situação de rua. Estou discutindo uma política que, acredito eu, será inédita no País. Ainda é segredo, mas espero ter resultados com essa política para a população em situação de rua no final do primeiro semestre do ano que vem, assim que eu concretizar todos os equipamentos públicos necessários para viabilizar o bom acolhimento para eles. Essas três questões são fundamentais, e concluir o conjunto de obras que temos em andamento será essencial. Entre as principais demandas da população, o transporte é um dos temas mais críticos. Tenho discutido bastante isso com o Estado e o governo federal, pois acredito que o transporte público só melhorará se houver um avanço no transporte sobre trilhos na região metropolitana, com trem de subúrbio, trem de passageiros e a expansão do metrô. Isso não só melhora a qualidade de vida, mas também reduz a emissão de gases na atmosfera. Precisamos de políticas públicas reais para diminuir emissões, e os trilhos cumprem esse papel.

A expansão do metrô agora sai do papel?
Já está em andamento, com uma estação em construção em Contagem e outra em Belo Horizonte. Nossa reivindicação, para aumentar o número de passageiros e viabilizar o metrô, é estender a linha até o viaduto Beatriz, em Contagem. O Estado apoia essa luta e incluiu essa expansão no último PAC. Reforcei essa prioridade com o presidente Lula, que perguntou como poderia ajudar. Disse que nossa prioridade é a expansão do metrô, e o secretário adjunto da Seinfra, Pedro Calisto, me informou que o projeto de implantação está sendo viabilizado pela empresa no projeto de implantação. Assim, se conseguirmos o recurso, estaremos prontos para avançar rapidamente. Quanto ao trem de passageiros, eu não estou inventando a roda. Ele já existe em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro e estamos propondo um modelo que complemente o transporte sobre trilhos, aproveitando o anel ferroviário da região metropolitana. Podemos começar pequeno, com um trajeto de passageiros entre Belo Horizonte, Contagem e Betim. Não é para concorrer com o transporte de carga, mas para rodar nos horários de pico: duas viagens pela manhã e duas à tarde, o que já reduziria bastante o trânsito. Essa proposta é viável e tem custo moderado, em torno de R$ 300 milhões, pois já temos locomotiva, trilho e demanda de passageiros.
Isso passaria pela questão da renovação com a FCA? Já levaram a proposta para a empresa?
Poderia ser uma alternativa. Participei da audiência pública promovida pela ANTT, onde tanto Contagem quanto Betim defenderam o trem de passageiros, uma demanda crucial para a região metropolitana. Hoje, temos pessoas que moram em Betim, trabalham em Contagem e estudam em Belo Horizonte. Sem uma visão metropolitana para o transporte coletivo, esse problema continuará sem solução. Estou trabalhando essa pauta em Brasília e no Estado de Minas Gerais. Além disso, conversei com o prefeito eleito de Brumadinho, Gabriel (Parreiras), que também apoia a ideia.
A gente está agora no período chuvoso. Em quais obras a prefeitura já avançou e o que ainda precisa ser feito?
Temos vários pontos de alagamento na cidade, e alguns já estão sendo resolvidos. Na área de enchente do Arrudas, na divisa entre Contagem e Belo Horizonte, estamos executando três grandes obras de bacia de contenção: uma por Belo Horizonte e duas por Contagem, graças a um convênio com o governo do Estado, que repassou recursos e nos atribuiu a execução. Essas bacias estarão em operação neste período de chuvas, e acredito que, se houver problemas no Arrudas, eles serão muito menores que nos anos anteriores. Ainda temos outros pontos de alagamento. No caso da avenida Firmo de Matos, em Contagem, o Estado está concluindo uma obra na bacia do rio Volga. Embora funcione, ela não é totalmente suficiente, então poderemos ter problemas ali, dependendo do volume de chuvas. Por outro lado, na região do Ressaca e no Novo Progresso, estamos implantando bacias, e na avenida Pio XII, no Água Branca, a situação também deve melhorar. São muitas obras de contenção, contra enchentes e riscos geológicos já em fase avançada e vão funcionar, mas ainda restam pontos problemáticos. É importante que a população se mantenha em alerta.
Contagem é historicamente uma cidade industrial, isso mudou?
As indústrias locais estão fortalecidas, com aumento de produtividade e investimentos, o que tem gerado mais empregos. Empresas como Maxi e Magnesita ampliaram suas atividades, e outras estão chegando, diversificando ainda mais nossa economia. Hoje temos uma indústria bem diversificada, como siderurgia e metalurgia. No comércio, grandes empreendimentos também estão se expandindo e diversos centros de distribuição estão se instalando na cidade, consolidando o setor.
Contagem tem se tornado referência também na área de logística…
A Tambasa é um grande centro de distribuição, que ampliou significativamente seu alcance. Foi inaugurador recentemente o Centro de Distribuição do Supernosso, gerando mais de 2 mil empregos. Esses centros de distribuição não param de chegar, favorecidos pelo sistema viário e pela disponibilidade de terrenos. O setor de serviços também tem crescido muito no município. A atividade econômica está cada vez mais fortalecida, com um investimento privado de R$ 10 bilhões e um investimento público significativo. O programa Asfalto Novo, por exemplo, melhora o sistema viário interno, facilitando as atividades industrial, comercial e de serviços.
Como está a arrecadação do município?
A situação está sob controle. As contas estão em dia. Hoje, o município tem uma arrecadação de R$ 3,2 bilhões, que, apesar de significativa, ainda é insuficiente para atender a todas as demandas. Por isso, buscamos parcerias com o governo federal, parlamentares e senadores para construir parcerias e viabilizar os investimentos que a cidade precisa.
E o retorno destes recursos arrecadados em forma de serviços?
Herdamos um município com baixo investimento público, então aplicamos bem os recursos para recuperar a prestação de serviços. Investimos em tecnologia, com câmeras nas escolas e pontos estratégicos da cidade, além de computadores e projetos pedagógicos mais ousados. Também iniciamos um processo de modernização administrativa, especialmente na Secretaria de Desenvolvimento Urbano, atendendo à demanda do empresariado por mais agilidade em licenciamentos e emissão de alvarás. Esse trabalho exige legislação própria e investimentos em tecnologia, e estamos em fase de execução. Em breve, esperamos anunciar os resultados dessa modernização para melhorar a prestação de serviços públicos.
O impasse do ICMS da educação foi resolvido?
Estamos buscando uma audiência com a ministra Cármen Lúcia, relatora da ação de inconstitucionalidade impetrada pelo PCdoB, na qual Contagem atua como amicus curiae. Ao final de 2024, nosso município perderá R$ 80 milhões, o que torna essencial essa audiência para expor a importância de manter os critérios de repasse do ICMS da educação, aprovados pelo Legislativo mineiro. Não queremos tirar os critérios do repasse do ICMS da educação, que foi aprovado, nossa proposta é incluir o critério de número de alunos para corrigir a injustiça com cidades que possuem um grande contingente de alunos e que perderam parte significativa da arrecadação. É uma injustiça. Toda cidade que tem um número de alunos municipais expressivo perdeu no repasse do ICMS. Para esse ano a gente já teve que ajustar, inclusive na saúde, porque impactou em R$ 20 milhões apenas no município.
Para esse tipo de negociação é importante uma boa relação entre as instâncias de poder… Como é sua relação com o governador Romeu Zema (Novo)?
Temos uma boa relação. Participei recentemente de uma reunião com o vice-governador, já que o governador está viajando, onde foram ouvidas as demandas de prefeitos de várias regiões do Estado. Mais uma vez, destaquei que não vamos resolver o problema do transporte coletivo sem o envolvimento do Estado, pois ele é responsável pelo transporte metropolitano. 70% do transporte em Contagem, por exemplo, é do Estado. Então, sem uma integração entre os transportes municipal e estadual, não vai ser possível melhorar a vida do cidadão. Também levei a questão da saúde, em especial de alta e média complexidade, e muitos prefeitos apoiaram a necessidade de uma presença mais ativa do Estado nas demandas comuns aos municípios para solucionarmos juntos esses problemas.
E a relação com os demais prefeitos da região metropolitana? Vocês estão juntos, por exemplo, na questão do Rodoanel.
Contagem e Betim já se posicionaram contra o traçado do Rodoanel, não contra o projeto em si, mas contra o traçado que impõe grandes sacrifícios às cidades. Em especial, Contagem, pois o traçado atravessa a cidade, cortando uma área de preservação ambiental. Acreditamos que isso pode trazer prejuízos no futuro, inclusive com possíveis impactos no abastecimento de água, já que a área preservada é uma zona de recarga do espelho d’água da Várzea das Flores. Unimos forças com Betim para defender os interesses das duas cidades, mas acredito que é necessária uma articulação mais ampla, envolvendo os dez maiores municípios da região metropolitana, o G10, para resolvermos problemas comuns com estratégias integradas. Estamos, por exemplo, em parceria com Belo Horizonte e o Estado em ações para despoluir a Lagoa da Pampulha. Minha proposta é que Belo Horizonte e as demais cidades conurbadas da região metropolitana se reúnam para discutir problemas comuns, como transporte e mobilidade. Podemos estabelecer uma agenda de discussões e intervenções conjuntas. Precisamos deixar de lado a vaidade, sair de nossas caixinhas e promover ações integradas e articuladas.
Qual a situação, neste momento?
A gente não deu o atestado de conformidade para fazer o licenciamento ambiental. Está judicializado e vamos ver como fica essa questão. Por enquanto, sem solução. Meu único impasse hoje com o governo do Estado é essa questão. Ele (governador) bate o pé que quer fazer com o traçado dele, eu bato o pé que com o traçado dele, ele não faz. Se ele não sentar com a gente para discutir um novo traçado, não vai ter uma solução.

O que você pretende para o seu secretariado? Vai mudar alguma coisa?
Ganhei na eleição anterior com o apoio de quatro partidos. Desta vez, com 14 partidos e mais dois que me apoiaram, embora fora da coligação. Meu compromisso é que quem ajuda a ganhar também ajuda a governar. Estou em processo de discussão com os partidos sobre a ocupação dos cargos na prefeitura, com uma condição: os indicados devem ter capacidade, competência, compromisso e lealdade. Estou ainda no início dessas conversas, mas planejo enviar um projeto de lei no começo do próximo ano para desmembrar algumas secretarias, não criar novas. Por exemplo, da Secretaria de Desenvolvimento Social, pretendo separar Emprego e Renda, o que permitirá mais autonomia na implementação das políticas públicas, aumentando sua eficácia e o gerenciamento dessas ações.
E sua relação com a Câmara, como fica?
Foi muito tranquila nos quatro anos de governo. O meu compromisso era enviar projetos de interesse público. Todos foram. Estou conversando com os vereadores novatos e acredito que vai ser tranquilo também. Hoje a minha base de oposição, de fato, são três vereadores em 25.
Em 2026, Marília deixa a prefeitura antes do término do mandato para concorrer ao governo do Estado?
Eu fiz um compromisso de ser prefeita de Contagem por quatro anos. Quero manter esse compromisso com a cidade que me elegeu. Mas quero também, enquanto militante comprometida com o Estado, discutir e apoiar um projeto que seja vitorioso para Minas Gerais. Então, estou engajada em cumprir o meu mandato, mas, ao mesmo tempo, de ajudar a discutir um projeto para Minas Gerais com alternativas vitoriosas.
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