Projeto de nióbio e terras-raras da St George, em Araxá, está 100% financiado na fase pré-construção
A St George Mining deu um passo decisivo para avançar com o projeto de mineração de nióbio e terras-raras em Araxá, no Alto Paranaíba. A empresa australiana levantou e garantiu os recursos necessários para desenvolver o empreendimento em todas as etapas que antecedem o início da construção das plantas de processamento.
É o que destacou o diretor da mineradora no Brasil, Thiago Amaral, em entrevista ao Diário do Comércio no evento “Conversa Aberta – St George e Comunidade”, promovido nesta semana, no Grande Hotel Termas de Araxá, para apresentação de ações já realizadas pela companhia e fomentar discussões sobre o setor de minerais críticos e estratégicos.
“Isso é muito importante porque traz uma segurança para a comunidade e para o investidor de que estamos seguindo caminhos bastante firmes para a implantação do projeto”, avaliou.
Alinhado ao que o executivo afirmou, a St George captou, recentemente, 72,5 milhões de dólares australianos (em torno de R$ 260 milhões) em ações para o Projeto Araxá. Parte do dinheiro serviu para quitar antecipadamente a compra do ativo, que pertencia à Itafos Inc., e o restante será utilizado na atualização da estimativa de recursos minerais, em estudos de viabilidade, em testes metalúrgicos, no licenciamento ambiental e em uma planta-piloto.
Do total levantado, 50 milhões de dólares australianos vieram de investidores institucionais, especialmente da Austrália, Europa, Estados Unidos e Canadá. Os outros 22,5 milhões de dólares australianos foram aportados pela Hancock Prospecting, empresa australiana com participações em mais duas produtoras de terras-raras fora da China, a Lynas e a Arafura, e liderado por Gina Rinehart, considerada a mulher mais rica do país.
Conforme Amaral, a Hancock se tornou uma das maiores acionistas da St George, com cerca de 6% das ações. Ele pontuou que o investimento da companhia possui uma importância estratégica para a St George, ao confirmar que o ativo tem potencial e deve ser acompanhado de perto pelo mercado internacional e também por abrir portas para futuros negócios, já que o projeto passa a ser visto com novos olhares e não como apenas mais um.
Dinheiro para as plantas de processamento virão de offtakes
Para construir as plantas de processamento do Projeto Araxá, a St George pretende buscar recursos por meio de contratos de venda antecipada da produção (offtakes). Segundo o diretor, a empresa decidiu não captar dinheiro no mercado para essa etapa do empreendimento, porque isso poderia gerar uma grande diluição das ações existentes.
Amaral explicou que a ideia é ter, no máximo, 50% da produção negociada via offtakes, enquanto a outra metade será vendida posteriormente, em diferentes condições – seja no mercado spot, em outros mercados ou até mesmo para clientes que já tenham uma fatia garantida e queiram comprar mais. De acordo com ele, o objetivo com isso é não perder oportunidades de gerar valor para os acionistas caso ocorram fortes variações de preços.
Até o momento, a mineradora já fechou um acordo vinculante com a norte-americana REAlloys para comercializar até 40% da produção futura de terras-raras. Há conversas com mais interessados no produto, sobretudo dos Estados Unidos e de países da Europa, que buscam fornecedores no Ocidente para reduzir a dependência de um monopólio chinês.
A empresa também firmou memorandos de entendimento (MoU), porém não vinculativos, com as chinesas Liaoning Fangda e SKI HongKong, para venda de até 40% do nióbio a ser produzido no Projeto Araxá, sendo até 20% para cada. Conforme o executivo, o interesse pela compra antecipada do produto é global, porque há poucos fabricantes no mundo.
Empresa busca reforçar o mercado de nióbio e ser relevante em terras-raras
O Projeto Araxá já possui recursos certificados de 40,6 milhões de toneladas (mt) de minério com 4,13% de terras-raras e 41,2 mt com 0,68% de nióbio, embora a maior parte da área não tenha sido analisada. A St George está realizando uma campanha de sondagem, prevista para ser concluída neste mês, que vem sinalizando que o potencial é ainda maior.
Vizinha da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), maior produtora de nióbio do mundo, a mineradora australiana não tem visão de competição, mas, sim, de reforçar o mercado e diversificar a cadeia de fornecimento do produto. As atuais estimativas da empresa são de que será produzido cerca de cinco a dez mil toneladas de nióbio por ano no empreendimento, o que representa em torno de 5% a 10% da demanda global.
Já a produção anual estimada de terras-raras é de aproximadamente 15 mil toneladas, volume que deve atender aproximadamente de 20% a 30% de toda a demanda fora da China, levando a St George a ser um relevante fornecedor desse segmento. Os volumes e teores do Projeto Araxá, inclusive, são semelhantes aos encontrados nas duas minas de terras-raras que operam no momento e que não estão localizadas no país asiático.
Processo de licenciamento sem expectativa de atrasos
A St George pretende começar a produção do Projeto Araxá em 2027. Sendo assim, deve dar início ao processo de licenciamento ambiental do empreendimento no próximo ano. Segundo Amaral, a empresa ainda discute se solicitará o pedido em fase única, que abrange as licenças prévia, de instalação e de operação, ou em duas etapas, pedindo primeiro a licença prévia e, posteriormente, a de instalação e de operação em conjunto.
O executivo minimiza riscos de atrasos como os enfrentados por mineradoras de terras-raras no Sul de Minas Gerais. Conforme o diretor, a companhia conduz desde o início uma estratégia de diálogo antecipado com órgãos ambientais e autoridades locais e, além disso, está inserida em um contexto distinto, uma vez que existem minas no mundo que operam com o mesmo tipo de material e a área do empreendimento já foi minerada no passado.
Vale destacar que a St George estima investir R$ 2 bilhões no Projeto Araxá até colocá-lo em operação. A empresa emprega, atualmente, cerca de 70 pessoas na região e prevê ter, pelo menos, 200 colaboradores quando o empreendimento estiver em funcionamento.
*O repórter viajou para Araxá a convite da St George
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